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CRÍTICA
Sátira aos filmes de terror é um horror
LÚCIO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Entre bola preta e quatro
estrelas, se o filme "Todo
Mundo em Pânico" concedesse a
si mesmo uma auto-avaliação, essa seria a bola preta. De gozação.
É munido desse espírito que é
possível arrancar diversão do
exercício de ver a produção americana que estréia.
Paródia da paródia, "Todo
Mundo em Pânico" é fruto dessa
seleta casta do cinema-bobagem
que se alastra por Hollywood desde "Quem Vai Ficar com Mary?",
nova linha de filmes que ressuscitou a fórmula de sátiras como
"Corra Que a Polícia Vem Aí" e
"Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu". Só que modernizada com
muitos palavrões, piadas grossas,
escatológicas e sobre pênis.
Para quem vibrou e depois se
encheu do boom do cinema de
terror adolescente promovido pela série "Pânico", "Todo Mundo
em Pânico" é feito sob medida.
Grosso (ops!) modo, "Todo
Mundo em Pânico" (se é para falar de bobagem, ô título brasileiro
besta para o original "Scary Movie") de certa forma representa o
fim dessa onda de filmes em que
teens psicopatas, em duas horas,
matam dúzias de teens indefesos
para no fim morrer, mas não
morrer muito, o que vira a deixa
para a sequência.
De "Pânico" a "Lenda Urbana",
de "Halloween H20" a "Eu Sei o
Que Vocês Fizeram no Verão Passado", está tudo demolido em
"Todo Mundo em Pânico".
E, já que sobrava tempo e espaço, tome escracho para cima de
"Matrix", "Titanic", "A Bruxa de
Blair", seriados de TV, "O Sexto
Sentido", "O Exorcista".
Na prática do atual cinema teen
de resultados (grosseria + violência + garota de lingerie), "Todo
Mundo em Pânico" até a semana
passada havia arrecadado perto
de US$ 154 milhões em dois meses de exibição, mais de oito vezes
o seu custo, de US$ 19 milhões.
Feito em família, o filme é todo
dos irmãos Wayans, do diretor
Keenen e dos divertidos atores
Marlon e Shawn. O trio é parte da
tendência da hora em Hollywood,
a da invasão de artistas negros ao
topo das bilheterias (Samuel L.
Jackson, em "Shaft", o professor
aloprado Eddie Murphy, "Vovó...
Zona").
"Todo Mundo em Pânico" não
tem história própria. É uma colagem bem-feita de cenas de "Pânico", "Eu Sei..." e de todos os outros filmes citados, só que numa
montagem inteligentemente encadeada, que privilegia a avacalhação. Chega a não ter atores, já
que os participantes só fazem tipo, não atuam.
Não tem erro. O tipo de humor
empregado no filme varia do gosto duvidoso ao gosto duvidoso.
Vai da cena em que uma menina é jogada ao teto pela "violenta"
ejaculação do namorado ao impagável momento "A Bruxa de
Blair", na famosa cena da menina
na escuridão, narrando seu desespero para a câmera. Só que em vez
da lágrima jorrando, a água que
escorre vem do nariz, faz uma bolha e explode.
"Todo Mundo em Pânico" é
bom passatempo fast food, para
ser consumido na hora e esquecido dez minutos depois da sessão.
Talvez daqui a uns anos preste como documentário de época, para
ser exibido em algum festival de
nome "É Tudo Bobagem".
Todo Mundo em Pânico
Scary Movie
Direção: Keenen Ivory Wayans
Produção: EUA, 2000
Com: Jon Abrahams, Carmen Electra,
Shawn Wayans, Marlon Wayans
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Center Iguatemi, Central
Plaza, Interlagos, Lar Center e circuito
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