São Paulo, sexta-feira, 06 de outubro de 2000

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CRÍTICA
Sátira aos filmes de terror é um horror

LÚCIO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Entre bola preta e quatro estrelas, se o filme "Todo Mundo em Pânico" concedesse a si mesmo uma auto-avaliação, essa seria a bola preta. De gozação.
É munido desse espírito que é possível arrancar diversão do exercício de ver a produção americana que estréia.
Paródia da paródia, "Todo Mundo em Pânico" é fruto dessa seleta casta do cinema-bobagem que se alastra por Hollywood desde "Quem Vai Ficar com Mary?", nova linha de filmes que ressuscitou a fórmula de sátiras como "Corra Que a Polícia Vem Aí" e "Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu". Só que modernizada com muitos palavrões, piadas grossas, escatológicas e sobre pênis.
Para quem vibrou e depois se encheu do boom do cinema de terror adolescente promovido pela série "Pânico", "Todo Mundo em Pânico" é feito sob medida.
Grosso (ops!) modo, "Todo Mundo em Pânico" (se é para falar de bobagem, ô título brasileiro besta para o original "Scary Movie") de certa forma representa o fim dessa onda de filmes em que teens psicopatas, em duas horas, matam dúzias de teens indefesos para no fim morrer, mas não morrer muito, o que vira a deixa para a sequência.
De "Pânico" a "Lenda Urbana", de "Halloween H20" a "Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado", está tudo demolido em "Todo Mundo em Pânico".
E, já que sobrava tempo e espaço, tome escracho para cima de "Matrix", "Titanic", "A Bruxa de Blair", seriados de TV, "O Sexto Sentido", "O Exorcista".
Na prática do atual cinema teen de resultados (grosseria + violência + garota de lingerie), "Todo Mundo em Pânico" até a semana passada havia arrecadado perto de US$ 154 milhões em dois meses de exibição, mais de oito vezes o seu custo, de US$ 19 milhões.
Feito em família, o filme é todo dos irmãos Wayans, do diretor Keenen e dos divertidos atores Marlon e Shawn. O trio é parte da tendência da hora em Hollywood, a da invasão de artistas negros ao topo das bilheterias (Samuel L. Jackson, em "Shaft", o professor aloprado Eddie Murphy, "Vovó... Zona").
"Todo Mundo em Pânico" não tem história própria. É uma colagem bem-feita de cenas de "Pânico", "Eu Sei..." e de todos os outros filmes citados, só que numa montagem inteligentemente encadeada, que privilegia a avacalhação. Chega a não ter atores, já que os participantes só fazem tipo, não atuam.
Não tem erro. O tipo de humor empregado no filme varia do gosto duvidoso ao gosto duvidoso.
Vai da cena em que uma menina é jogada ao teto pela "violenta" ejaculação do namorado ao impagável momento "A Bruxa de Blair", na famosa cena da menina na escuridão, narrando seu desespero para a câmera. Só que em vez da lágrima jorrando, a água que escorre vem do nariz, faz uma bolha e explode.
"Todo Mundo em Pânico" é bom passatempo fast food, para ser consumido na hora e esquecido dez minutos depois da sessão. Talvez daqui a uns anos preste como documentário de época, para ser exibido em algum festival de nome "É Tudo Bobagem".

Todo Mundo em Pânico
Scary Movie

   
Direção: Keenen Ivory Wayans
Produção: EUA, 2000
Com: Jon Abrahams, Carmen Electra, Shawn Wayans, Marlon Wayans
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Center Iguatemi, Central Plaza, Interlagos, Lar Center e circuito


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