São Paulo, quinta-feira, 06 de outubro de 2005

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Na Amauri, Gardel erra o ponto da carne

JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA

O Gardel é um lugar diferente na rua Amauri. Tudo na rua é muito chique, rutilante, da fachada à louça. Até a Pizza Hut é um restaurante bonito e de cardápio italiano (por sinal, são os mesmos controladores do charmoso Café Amauri, ali a céu aberto). Pois já o Gardel tem uma pinta diferente: é uma parrilla argentina, e com cara de parrilla. Um lugar mais simples, despojado, sem muita graça na decoração, o que corresponde ao padrão das churrascarias do país vizinho, onde como regra geral se coloca muito mais atenção na grelha do que no salão.
O espírito argentino é garantido pelo sócio responsável pelo restaurante e por seu churrasqueiro. O proprietário, Raúl Muraca, engenheiro portenho de 50 anos, amante da cozinha, está trabalhando no Brasil há quase cinco anos, mas somente agora se dedica a um restaurante (a casa abriu no dia 15 do mês passado). Na churrasqueira está seu conterrâneo Leonardo Acoschkin, que manejou parrillas na Argentina e, nos últimos 20 anos, vem fazendo o mesmo no Brasil, em casas paulistanas como Parilla Argentina, La Boca e Pobre Juan. Ambos projetaram a churrasqueira (parrilla), feita de tijolos, pedra e areia. Toda essa soma de elementos favoráveis ainda não foi, porém, suficiente para trazer um resultado satisfatório.
As carnes são argentinas. Há entradas, como as empanadas de carne (especialidade de Muraca), o matambre (capa de costela recheada com legumes, ovos e temperos), os chinchulines (intestinos de novilho). Nas carnes, bife de chorizo, t-bone. E pratos de extração italiana, populares em Buenos Aires, como o bife à milanesa ou espaguete com anchova.
Cardápio atraente, mas no momento de vir à mesa decepciona. Para começar, as mollejas (timo, glândula do novilho) bem pouco grelhadas, revelando muita gordura e textura débil (o ideal é quando, com um pouco mais de tempo no calor, chegam a ficar ligeiramente crocantes e firmes). Voltando à grelha, ficaram no ponto. O bife ancho, que já não tinha um formato exuberante, também falhou no tempo pedido antes do ponto, chegou muito malpassado (para quem gosta é ótimo, mas uma vez que se pergunta o ponto desejado, é preciso atender ao pedido formulado). A picanha esteve melhor, embora servida em dois pedaços de espessuras diferentes (e por isso com pontos diferentes). As populares batatas à provençal vêm moles e com pouco alho e salsinha (característica da receita). Para quem não quer carne, há opções como o peito de chester grelhado, mas quando pedido estava tão salgado que mal podia ser comido.
Há no Gardel um ar descontraído que quebra a solenidade endinheirada da rua Amauri, e o churrasco, por sua origem e tradição, convida à descontração que o restaurante oferece, compensando o pouco charme do salão. No andar de cima ainda há uma charutaria, para atender os amantes do bom tabaco. Se há um problema real ali, ele não reside na ambientação despretensiosa, mas, antes de tudo, na expectativa frustrada que suas carnes produzem no cliente.


GARDEL
Cotação: $$$
Avaliação: ruim
Endereço: r. Amauri, 328, tel. 0/xx/ 11/3167-2752
Funcionamento: diariamente, das 12h às 16h, e das 20h até o último cliente
Ambiente: despojado, salão em baixo e charutaria no andar de cima
Serviço: correto
Serviço de vinhos: carta suficiente, centrada em Argentina e Chile
Estacionamento com manobrista: R$ 9
Cartões: todos
Preços: entradas, de R$ 3,50 a R$ 25 (para duas pessoas); carnes, de R$ 25 a R$ 55; acompanhamentos, de R$ 2 a R$ 10; sobremesas, de R$ 5 a R$ 16


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