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Na Amauri, Gardel erra o ponto da carne
JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA
O Gardel é um lugar diferente na rua Amauri. Tudo
na rua é muito chique, rutilante,
da fachada à louça. Até a Pizza
Hut é um restaurante bonito e de
cardápio italiano (por sinal, são os
mesmos controladores do charmoso Café Amauri, ali a céu aberto). Pois já o Gardel tem uma pinta diferente: é uma parrilla argentina, e com cara de parrilla. Um
lugar mais simples, despojado,
sem muita graça na decoração, o
que corresponde ao padrão das
churrascarias do país vizinho, onde como regra geral se coloca
muito mais atenção na grelha do
que no salão.
O espírito argentino é garantido
pelo sócio responsável pelo restaurante e por seu churrasqueiro.
O proprietário, Raúl Muraca, engenheiro portenho de 50 anos,
amante da cozinha, está trabalhando no Brasil há quase cinco
anos, mas somente agora se dedica a um restaurante (a casa abriu
no dia 15 do mês passado). Na
churrasqueira está seu conterrâneo Leonardo Acoschkin, que
manejou parrillas na Argentina e,
nos últimos 20 anos, vem fazendo
o mesmo no Brasil, em casas paulistanas como Parilla Argentina,
La Boca e Pobre Juan. Ambos
projetaram a churrasqueira (parrilla), feita de tijolos, pedra e areia.
Toda essa soma de elementos favoráveis ainda não foi, porém, suficiente para trazer um resultado
satisfatório.
As carnes são argentinas. Há entradas, como as empanadas de
carne (especialidade de Muraca),
o matambre (capa de costela recheada com legumes, ovos e temperos), os chinchulines (intestinos de novilho). Nas carnes, bife
de chorizo, t-bone. E pratos de extração italiana, populares em
Buenos Aires, como o bife à milanesa ou espaguete com anchova.
Cardápio atraente, mas no momento de vir à mesa decepciona.
Para começar, as mollejas (timo,
glândula do novilho) bem pouco
grelhadas, revelando muita gordura e textura débil (o ideal é
quando, com um pouco mais de
tempo no calor, chegam a ficar ligeiramente crocantes e firmes).
Voltando à grelha, ficaram no
ponto. O bife ancho, que já não tinha um formato exuberante, também falhou no tempo pedido antes do ponto, chegou muito malpassado (para quem gosta é ótimo, mas uma vez que se pergunta
o ponto desejado, é preciso atender ao pedido formulado). A picanha esteve melhor, embora servida em dois pedaços de espessuras
diferentes (e por isso com pontos
diferentes). As populares batatas
à provençal vêm moles e com
pouco alho e salsinha (característica da receita). Para quem não
quer carne, há opções como o peito de chester grelhado, mas quando pedido estava tão salgado que
mal podia ser comido.
Há no Gardel um ar descontraído que quebra a solenidade endinheirada da rua Amauri, e o churrasco, por sua origem e tradição,
convida à descontração que o restaurante oferece, compensando o
pouco charme do salão. No andar
de cima ainda há uma charutaria,
para atender os amantes do bom
tabaco. Se há um problema real
ali, ele não reside na ambientação
despretensiosa, mas, antes de tudo, na expectativa frustrada que
suas carnes produzem no cliente.
GARDEL
Cotação: $$$
Avaliação: ruim
Endereço: r. Amauri, 328, tel. 0/xx/
11/3167-2752
Funcionamento:
diariamente, das 12h às
16h, e das 20h até o último
cliente
Ambiente: despojado,
salão em baixo e charutaria no andar de cima
Serviço: correto
Serviço de vinhos:
carta suficiente, centrada
em Argentina e Chile
Estacionamento com manobrista: R$ 9
Cartões: todos
Preços: entradas, de R$
3,50 a R$ 25 (para duas
pessoas); carnes, de R$ 25
a R$ 55; acompanhamentos, de R$ 2 a R$ 10; sobremesas, de R$ 5 a R$ 16
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