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COMIDA
Parker instiga amor e ódio em Bordeaux
JORGE CARRARA
COLUNISTA DA FOLHA
O "Guide Parker des Vins de
Bordeaux 2005" (ed. Solar, 1.254
págs., 37,05 -cerca de R$ 98; www.amazon.fr), do norte-americano Robert Parker Jr., acaba de
chegar às prateleiras francesas. A
obra pode botar mais pimenta no
polêmico relacionamento de Parker com os produtores daquela
região gaulesa.
Advogado, Parker, 58, é um autodidata no mundo de Baco. O
seu interesse pelo vinho surgiu
durante uma viagem que fez à
França em 1967 para visitar a então sua namorada (e atual mulher), Pat Etzel, que estudava na
Alsácia. Ela o introduziu aos prazeres da gastronomia e da bebida,
dando inicio a uma paixão que
nunca mais o abandonou. Parker
começou a escrever a respeito de
vinhos em 1978, quando lançou o
"The Wine Advocate", um guia
bimensal, independente, sem publicidade nem relacionamentos
comerciais com a indústria, dedicado ao consumidor.
Curiosamente, foi precisamente
Bordeaux que o catapultou à fama. Quando a maioria dos especialistas da época considerou a
colheita de 1982 apenas boa, ele a
indicou como uma das melhores
do século. "Muitos dos meus colegas provaram vinhos só em Margaux, que não brilhou tanto. Nas
outras regiões teriam encontrado
vinhos maravilhosos", explicou
numa degustação dessa (divina)
safra realizada em Nova York.
Impulsionado pelo sucesso, ele
abandonou a advocacia em 1984
para mergulhar por completo no
vinho. Hoje, "The Wine Advocate" tem cerca de 40 mil assinantes
em 37 países, e Parker já publicou
uma dezena de livros, tornando-se o crítico de vinhos mais influente do planeta.
Suas notas podem tanto valorizar os goles de uma propriedade,
como fazer com que encalhem no
estoque, fato terrível em Bordeaux, terra de uma aristocracia
vinícola secular, acostumada a ter
absoluto controle de tudo -especialmente dos preços. Por isso,
a região vive uma relação de amor
e ódio com ele.
As últimas rusgas vieram por
conta dos "garagistas", minúsculos produtores (de garagem), em
geral surgidos do nada, sem tradição, que fazem vinhos concentrados, carregados na madeira e com
cara de Novo Mundo, tal como
Parker gosta (e pelo qual é criticado), opostos aos de estilo bordelês, mais leves, sutis e elegantes.
Um dos primeiros foi Jean-Luc
Thunevin, um empresário de sucesso apaixonado pelo vinho,
que, em 1991, lançou seu Valandraud, um tinto "a la Parker", elaborado na comuna de Saint-Emilion, com uvas nascidas num pequeno vinhedo sem nenhuma
classificação ou predicado. Elogiados por Parker, é claro, novos
rótulos como Valandraud ou La
Mondotte conseguiram fama e
preços próximos aos dos tradicionais "Château" do lugar. Uma
afronta, para alguns, numa terra
que venera os produtos do "terroir", saídos de vinhedos considerados por séculos como de estirpe
única para vinhos finos.
O guia 2005 deve deixar outro
nervo exposto: o Marojallia, um
tinto corte de Cabernet Sauvignon e Merlot, elaborado em Margaux. Na sua quarta edição, safra
2003, a jovem criação de garagem
(também assinada por Monsieur
Thunevin) é para Parker "talvez o
segundo vinho da apelação, eclipsado apenas pelo Château Margaux", mas, para ele, já na frente
do resto, inclusive do Château
Palmer, outro monstro sagrado
da região.
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