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Denúncias do cônsul não salvaram índios
Fotos Marcelo Justo/Folhapress
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O cacique de La Chorrera, Manuel Zafyama, em sua oca
DOS ENVIADOS A LA CHORRERA
Mario Vargas Llosa descobriu Roger Casement ao acaso, enquanto lia a respeito de
Joseph Conrad (1857-1924),
escritor britânico de quem o
diplomata era amigo.
Llosa se inteirou então de
que Casement, que, após longo serviço prestado à Coroa
inglesa, foi condenado à
morte em 1916, por suspeita
de traição à pátria -ele lutava pelos separatistas da Irlanda, onde nascera.
Essa não era a única suspeita que pairava sobre o diplomata. Casement foi taxado de "sodomita", palavra
usada à época para designar
os homossexuais.
As supostas provas de "má
conduta" erótica estavam
anotadas em um caderno, o
"Diário Negro", cuja autenticidade é ainda hoje questionada. "Era um personagem
pronto para um romance",
concluiu Vargas Llosa.
Embora seja reconhecido
como o homem que expôs a
situação indígena ao Ocidente, o trabalho de Casement
teve, para a região, pouco
desdobramento prático.
O dossiê que relatava as
atrocidades da Peruvian
Amazon Company repercutiu na Inglaterra, provocando a liquidação da empresa
(que continuou existindo no
Peru). Julio Cesar Arana,
principal acusado dos massacres, nada sofreu, por não
ser cidadão britânico.
A longo prazo, o resultado
foi desastroso. Sem a presença inglesa, os índios de La
Chorrera foram largados ao
Deus dará, sendo ainda mais
explorados pelos peruanos.
Tal fato, somado a uma
conclusão de que os irlandeses, por oprimidos, eram "índios brancos", fez com que
Casement abandonasse a diplomacia em 1913, juntando-se à causa separatista.
Em 3 de agosto de 1916, Roger Casement foi enforcado
na Prisão de Pentoville, Londres. Sete anos depois, Julio
Cesar Arana se elegeria senador no Peru, baixo a bandeira
de seguir "protegendo e civilizando" os índios.
(MJ e RK)
EL SUEÑO DEL CELTA
AUTOR Mario Vargas Llosa
EDITORA Alfaguara (importado)
QUANTO R$ 59, em média
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