São Paulo, sábado, 06 de novembro de 2010

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Denúncias do cônsul não salvaram índios

Fotos Marcelo Justo/Folhapress
O cacique de La Chorrera, Manuel Zafyama, em sua oca

DOS ENVIADOS A LA CHORRERA

Mario Vargas Llosa descobriu Roger Casement ao acaso, enquanto lia a respeito de Joseph Conrad (1857-1924), escritor britânico de quem o diplomata era amigo.
Llosa se inteirou então de que Casement, que, após longo serviço prestado à Coroa inglesa, foi condenado à morte em 1916, por suspeita de traição à pátria -ele lutava pelos separatistas da Irlanda, onde nascera. Essa não era a única suspeita que pairava sobre o diplomata. Casement foi taxado de "sodomita", palavra usada à época para designar os homossexuais.
As supostas provas de "má conduta" erótica estavam anotadas em um caderno, o "Diário Negro", cuja autenticidade é ainda hoje questionada. "Era um personagem pronto para um romance", concluiu Vargas Llosa.
Embora seja reconhecido como o homem que expôs a situação indígena ao Ocidente, o trabalho de Casement teve, para a região, pouco desdobramento prático.
O dossiê que relatava as atrocidades da Peruvian Amazon Company repercutiu na Inglaterra, provocando a liquidação da empresa (que continuou existindo no Peru). Julio Cesar Arana, principal acusado dos massacres, nada sofreu, por não ser cidadão britânico.
A longo prazo, o resultado foi desastroso. Sem a presença inglesa, os índios de La Chorrera foram largados ao Deus dará, sendo ainda mais explorados pelos peruanos.
Tal fato, somado a uma conclusão de que os irlandeses, por oprimidos, eram "índios brancos", fez com que Casement abandonasse a diplomacia em 1913, juntando-se à causa separatista.
Em 3 de agosto de 1916, Roger Casement foi enforcado na Prisão de Pentoville, Londres. Sete anos depois, Julio Cesar Arana se elegeria senador no Peru, baixo a bandeira de seguir "protegendo e civilizando" os índios.
(MJ e RK)

EL SUEÑO DEL CELTA

AUTOR Mario Vargas Llosa
EDITORA Alfaguara (importado)
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