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ARTES PLÁSTICAS
Psicanalista lança obra em que proibiu autores de usarem notas de rodapé e citações filosóficas
Livro ataca os "exegetas" das artes
PAULO VIEIRA
especial para a Folha
O pintor francês Edgar Degas
(1834-1917) dizia que "arte é vício:
você não a esposa legitimamente;
você a viola"; O aforista grego Hipócrates (460 a.C. - 357 a.C.) já falava ser a "vida curta" e a "arte
longa"; a poetisa americana Sylvia
Plath (1932-1963), diz que "morrer é arte, como tudo o mais."
Outras citações também poderiam ser aqui arroladas, usando o
expediente daqueles que escrevem catálogos de exposições ou
livros sobre artistas plásticos brasileiros.
Traduzir o visual, pictórico,
imagético, sinérgico, emergencial, corpóreo-incorpóreo, a materialidade transcendente traz
seus problemas.
Os artistas nem sempre conseguem e odeiam explicar a própria
obra. Dizem que elas se bastam. É
aí que entram em cena os exegetas
de sempre, uma casta oligopólica
de críticos que vivem por traduzir
a nova individual da, é aleatório,
tá?, Camargo Vilaça.
E o catálogo não cumpre a função de ajudar o espectador a entender os paralelepípedos empilhados de Nuno Ramos, as tesouras de Lygia Clark, as aranhas peludas de Tunga, as perfurações de
Lucio Fontana ou as vacas seccionadas de Damien Hirst. Milhares
de citações, um vocabulário afetado e períodos que não terminam
nunca fazem o incauto abandonar o maldito papelote, que, paradoxalmente, agrega valor à obra e
faz do círculo das artes plásticas
um delírio supérfluo pequeno-burguês que, estranhamente, se
retro-alimenta.
É por isso que deve-se saudar
"Imagem Escrita", que a Paz e
Terra lança hoje em São Paulo.
Onze artistas contemporâneos
brasileiros (Cildo Meireles, José
Bechara, Tunga, Angelo Venosa,
Antonio Manuel, o já morto Leonilson, Cafi (?), Artur Barrio, Nuno Ramos, Daniel Senise e Flávia
Ribeiro) ganham 16 páginas cada
e a possibilidade de escolher um
"tradutor" para falar do trabalho.
A idéia é da psicanalista carioca
Renata Salgado, 35, que assim a
define: "As pessoas compram livros de artistas plásticos, mas dificilmente se arriscam nos textos
que os acompanham. Apenas
vêem as fotos. Se as idéias do meu
livro conseguirem circular entre
pessoas não ligadas às artes plásticas, ficarei muito feliz."
Renata não queria citações filosóficas ou notas de rodapé "de jeito nenhum" e fez questão que cineastas (Domingos Oliveira, Daniela Thomas), compositores
(Bernardo Vilhena, Arnaldo Antunes) e até mesmo críticos, desde
que expurgados do academismo
(Marco Veloso, Luiz Osorio), estivessem no projeto.
Quatro críticos, aliás, foram
convidados. Dois não toparam
abandonar o "estilo". Ficaram de
fora.
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