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AUDIOVISUAL
Refletindo o encontro da OMC, governo brasileiro discute política cultural
Brasil fica contra liberalização
WILLIAM FRANÇA
da Sucursal de Brasília
O Brasil escolheu um meio-termo na discussão sobre o futuro
do mercado do audiovisual que
está sendo travada na 3ª Conferência Ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio):
não quer o liberalismo defendido
pelos EUA nem o protecionismo
exagerado apregoado pelos franceses e seus parceiros da União
Européia.
"Não concordamos com a total
liberalização, pois, para podermos ter isonomia competitiva
com o grande mercado cinematográfico, precisamos ter certas medidas de proteção e de ação antidumping, de instrumentos diplomáticos e oficiais para reclamar",
afirmou à Folha José Álvaro Moisés, secretário do Audiovisual do
Ministério da Cultura. "E isso é
diferente de reserva de mercado."
Nas discussões em Seattle
(EUA), onde acontece a reunião
da OMC, os europeus afirmam
que não querem que produções
para o cinema e a TV, em especial,
além de discos e livros, sejam tratados como qualquer outra mercadoria sujeita às regras liberais
do processo de globalização.
Os Estados Unidos, maiores
produtores de audiovisuais do
mundo, defendem claramente a
abertura de mercado. Para a
União Européia, cada país deve
ter "a capacidade para definir e
implementar suas políticas culturais e audiovisuais com o propósito de preservar a diversidade cultural".
José Álvaro Moisés está mais
afinado com o espírito europeu,
embora faça suas ressalvas. "A diversidade cultural é importante
para afinar a cidadania e a democracia. O cinema e o vídeo são mecanismos fortes nesse ponto. Se o
país não tem um mecanismo comercial próprio, fica tudo muito
bonito no plano teórico, mas sem
validade prática."
Essa visão da indústria do audiovisual, apresentada sob uma
"concepção estratégica" da identidade cultural nacional, foi tomada há duas semanas, em Salvador,
na Bahia, durante reunião que
contou com os ministros da Cultura dos países da América Latina
e do Caribe.
Ela reforçou as propostas anteriormente discutidas durante a
realização da Cimeira, reunião
entre os países latino-americanos
e europeus, que aconteceu no último mês de junho, no Rio de Janeiro.
Mercadoria, ou não
O secretário do Audiovisual
apresenta números para justificar
sua preocupação. No Brasil, 92%
do mercado de cinema é oriundo
de produções norte-americanas.
O país importa anualmente US$
695 milhões por ano em produtos
audiovisuais e só consegue exportar cerca de US$ 40 milhões
-contados, nesse total, as telenovelas da Rede Globo, consideradas o nosso maior produto de exportação cultural.
"Cultura não é só mercadoria,
mas também é uma mercadoria",
argumenta o secretário, num aparente contra-senso, para defender
o que chama de "medidas protetoras contra o oligopólio norte-americano", que impediriam, por
exemplo, que os produtos importados desequilibrem a economia
competitiva a ponto de anular a
produção nacional.
Ele cita, como exemplo, o estabelecimento da cota de tela, um
número mínimo de exibições asseguradas aos filmes nacionais
nos cinemas comerciais. Moisés
admite, no entanto, que essa idéia
esbarra noutro problema: a falta
de filmes brasileiros capazes de
ocupar o mercado.
"Precisaríamos produzir pelo
menos 60 filmes por ano para ter
uma real capacidade de competir
com a produção norte-americana", disse o secretário.
Ele se empolga ao afirmar que,
embora ainda distante do número ideal, neste ano serão produzidos 37 filmes no país. "É um número razoável, mas ainda insuficiente."
O secretário afirma que, por esse motivo, a primeira grande
prioridade do Ministério da Cultura é garantir que a produção cinematográfica cresça e, com ela,
se desenvolva a indústria de apoio
-ainda incipiente-, que vai
desde a produção até a distribuição. "Cinema, para nós, do governo, é ponto estratégico do ângulo
social, político e econômico."
Por conta das leis de incentivo à
cultura, foram investidos cerca de
R$ 300 milhões em cinema entre
1995 e junho deste ano, com a
produção de 116 longas-metragens. O Ministério da Cultura tem
dois projetos de financiamento ligados a bancos oficiais e estuda
outros dois, como forma de incentivar a produção cinematográfica.
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