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LIVRO LANÇAMENTO
Bacon - "A Brutalidade do Fato" traz novas verdades sobre o artista
CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local
O pintor irlandês Francis Bacon
(1909-1992), um dos grandes sucessos da última Bienal de São
Paulo, não era de muitas palavras.
Não se recusava a dar entrevistas,
mas se portava de maneira lacônica e evasiva. Também não se preocupava com a profundidade das
respostas.
Bacon insistia ainda em justificar
tudo o que acontecia em sua produção artística com o acaso e, assim, fugir de definições mais precisas sobre seu trabalho.
Coube então à insistência do entrevistador David Sylvester e ao
seu profundo conhecimento da
obra de Bacon (foram amigos por
mais de 50 anos) o mérito de transformar "Entrevistas com Francis
Bacon - A Brutalidade do Fato"
(Cosac & Naify Edições) em um livro indispensável para a compreensão da obra do artista.
"A Brutalidade do Fato" compila
nove sessões de entrevistas realizadas por Sylvester entre 1962 e 1986
com o mais importante pintor britânico deste século.
A entrevista mais esclarecedora é
a de 1966, em que Bacon fala de alcoolismo, de sua paixão pela fotografia (principalmente do pioneiro
Eadweard Muybridge), de sua fixação pela boca humana e de seu
arrependimento por ter feito tantas telas a partir da obra "Inocêncio 10º", de Velázquez.
O livro reúne, na íntegra, frases
saborosas e já históricas de Bacon,
como quando disse: "Nós somos
carne, somos carcaça em potencial. Sempre que entro em um
açougue penso que é surpreendente eu não estar ali no lugar do animal" (pág. 46).
O mérito de Sylvester se manifesta, por exemplo, ao perguntar se o
amor que Bacon tinha pela fotografia não o fazia gostar mais da reprodução que da própria obra de
arte original.
Logo em seguida, recorda que
Bacon esteve em Roma durante
dois meses e não viu "Inocêncio
10º", de Velázquez, obra na qual
Bacon se baseou para realizar muitas de suas pinturas.
A resposta é impactante: "A razão provável talvez fosse o medo
de ver a realidade do Velázquez depois de ter remexido tanto nele, o
medo de ver aquele quadro maravilhoso e pensar nas besteiras que
havia feito com ele" (pág. 38).
O volume prima ainda pela riqueza das ilustrações (embora em
preto e branco) e por sua organização. Todos os trabalhos citados
nas entrevistas estão reproduzidos
no livro, que traz ainda remissão
numérica para orientar o leitor caso a tela esteja reproduzida longe
da página em que é citada.
São tantas as fotografias impressas que muitas vezes o texto parece
funcionar como as falas de uma
história em quadrinhos sobre sua
produção artística. Essa característica do livro vai ao encontro do obsessivo interesse de Bacon pela técnica fotográfica.
Alguns erros e omissões de informações importantes depõem, porém, contra a edição. O título está
errado na capa do livro, que se chama "A Brutalidade do Fato" em
vez de "A Brutalidade dos Fatos".
O volume omite ainda o autor da
capa e não informa que ela se baseia na ampliação de um retrato de
Bacon tirado pelo próprio em uma
cabine automática (a fotografia está reproduzida na página 42).
Assim como um raio x, o volume
não chega a fornecer uma visão
completa do corpo estético criado
por Bacon, mas permite um passeio por suas entranhas. E promove assim uma detalhada autopsia.
Livro: Entrevistas com Francis Bacon - A
Brutalidade do Fato
Autor: David Sylvester
Tradução: Maria Teresa Resende Costa
Editora: Cosac & Naify (tel. 011/255-8808)
Quanto: R$ 26 (208 páginas)
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