São Paulo, quinta-feira, 07 de fevereiro de 2002

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LITERATURA/"O LADRÃO QUE ESTUDAVA ESPINOSA"

Block reconstrói ótima trama em velho chassi

RODOLFO LUCENA

EDITOR DE INFORMÁTICA

Lawrence Block descobriu a pólvora. Talvez nada tão explosivo, mas o autor americano encontrou a fórmula para fazer livros policiais atraentes e com verniz modernoso. Humor nonsense (que, com o desenrolar da história, vai fazendo sentido), diálogos espertos e um herói "cool" são combinados para construir histórias fáceis de ler, sem deixar de ter um ar intelectual. Tudo baseado em um personagem que estrela uma série de livros que seguem mais ou menos o mesmo figurino.
O de agora, lançado pela Companhia das Letras, é "O Ladrão que Estudava Espinosa", sobre o ladrão e dono de sebo Bernie Rhodenbarr -o título saiu nos EUA em 1980, antes de outros trazidos ao Brasil pela editora.
Rhodenbarr é uma espécie de Arsène Lupin de hoje. Como o bandido de Maurice Leblanc, o livreiro ladrão é uma figura do bem, apesar de transitar pelo outro lado da lei.
Faz seus furtos, é verdade, mas não mata e acaba sempre na frente de malvados de verdade, intervindo para que crimes maiores não se consumem ou para que sejam punidos.
A meta é sempre o cofre de algum rico, atrás de um botim sofisticado. E há sempre relação com algo "cultural" -títulos da série incluem "O Ladrão que Pintava como Mondrian" e o "O Ladrão que Gostava de Citar Kipling".
O formato é o mesmo: Rhodenbarr recebe a dica de que há algo valioso em lar da alta-roda e leva o tesouro. A polícia logo vai atrás dele, mas acontece outro crime relacionado, sempre mais grave.
Para se livrar, o livreiro tem de esclarecer tudo. Não só faz isso como acaba conseguindo algum lucro ilegal -afinal, quem é que consegue viver só da venda de livros velhos?
Esse é o motor das histórias -muda apenas o chassi. Mas será que isso é ruim? No fundo, assim são todas as histórias baseadas em um arquétipo, das deduções de Holmes e Nero Wolfe às aventuras de Indiana Jones. Eles conquistam o público, que, a cada história, espera o mesmo de seus heróis.
"O Ladrão que Estudava Espinosa" é imbróglio dos bons, que Rhodenbarr desembaraça com elegância e bom humor.

O Ladrão que Estudava Espinosa
   
Autor: Lawrence Block
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 27 (232 págs.)



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