|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LITERATURA/"O LADRÃO QUE ESTUDAVA ESPINOSA"
Block reconstrói ótima trama em velho chassi
RODOLFO LUCENA
EDITOR DE INFORMÁTICA
Lawrence Block descobriu a
pólvora. Talvez nada tão explosivo, mas o autor americano
encontrou a fórmula para fazer livros policiais atraentes e com verniz modernoso. Humor nonsense
(que, com o desenrolar da história, vai fazendo sentido), diálogos
espertos e um herói "cool" são
combinados para construir histórias fáceis de ler, sem deixar de ter
um ar intelectual. Tudo baseado
em um personagem que estrela
uma série de livros que seguem
mais ou menos o mesmo figurino.
O de agora, lançado pela Companhia das Letras, é "O Ladrão
que Estudava Espinosa", sobre o
ladrão e dono de sebo Bernie
Rhodenbarr -o título saiu nos
EUA em 1980, antes de outros trazidos ao Brasil pela editora.
Rhodenbarr é uma espécie de
Arsène Lupin de hoje. Como o
bandido de Maurice Leblanc, o livreiro ladrão é uma figura do
bem, apesar de transitar pelo outro lado da lei.
Faz seus furtos, é verdade, mas
não mata e acaba sempre na frente de malvados de verdade, intervindo para que crimes maiores
não se consumem ou para que sejam punidos.
A meta é sempre o cofre de algum rico, atrás de um botim sofisticado. E há sempre relação com
algo "cultural" -títulos da série
incluem "O Ladrão que Pintava
como Mondrian" e o "O Ladrão
que Gostava de Citar Kipling".
O formato é o mesmo: Rhodenbarr recebe a dica de que há algo
valioso em lar da alta-roda e leva o
tesouro. A polícia logo vai atrás
dele, mas acontece outro crime
relacionado, sempre mais grave.
Para se livrar, o livreiro tem de
esclarecer tudo. Não só faz isso
como acaba conseguindo algum
lucro ilegal -afinal, quem é que
consegue viver só da venda de livros velhos?
Esse é o motor das histórias
-muda apenas o chassi. Mas será que isso é ruim? No fundo, assim são todas as histórias baseadas em um arquétipo, das deduções de Holmes e Nero Wolfe às
aventuras de Indiana Jones. Eles
conquistam o público, que, a cada
história, espera o mesmo de seus
heróis.
"O Ladrão que Estudava Espinosa" é imbróglio dos bons, que
Rhodenbarr desembaraça com
elegância e bom humor.
O Ladrão que Estudava
Espinosa
Autor: Lawrence Block
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 27 (232 págs.)
Texto Anterior: "Arte e não-arte" Venda garantida, arte compromissada e comercialismo Próximo Texto: Mundo Gourmet: Década de 40 dá o tom à cozinha paulistana do Astor Índice
|