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Pianista se apresenta em SP nos dias 14 e 16
Cohen diz que música erudita é 'hipermercado'
JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local
O pianista brasileiro Arnaldo
Cohen estará se apresentando nos
dias 14 e 16 no Teatro Municipal.
Estará acompanhado, no ``Concerto nş 1'' de Tchaikovski, pela
Orquestra Sinfônica Municipal,
sob a direção do maestro italiano
Aldo Ceccato, titular da Sinfônica
da Rai, de Turim, e da Orquestra
Nacional da Espanha.
Cohen, radicado em Londres,
disse em entrevista à Folha que a
música erudita se tornou um ``hipermercado'', em que o repertório
é escolhido pelo consumidor.
Folha - Tchaikovski foi escolha
sua ou do maestro Aldo Ceccato?
Arnaldo Cohen - A escolha foi
minha. Estarei tocando dias 8, 9 e
10 com a Utah Simphony, nos
EUA. Só teria aceito o convite para
me apresentar em São Paulo se fosse para o mesmo concerto que estaria tocando quatro dias antes...
Folha - Tchaikovski não é considerado um compositor ``cinco estrelas'' como Liszt, Brahms ou Beethoven. Por que?
Cohen - Eu discutiria essa comparação. Caviar é comida ``cinco
estrelas''. Mas dificilmente alguém
comeria caviar o mês inteiro. Precisa existir de tudo.
Folha - Há alguns anos, bons pianistas não russos gravavam pouco
Tchaikovski ou Rachmaninov...
Cohen - Eu vou mais além. No
repertório das grandes orquestras
sinfônicas, Mahler começou a ser
tocado só depois de 1950. Liszt em
Viena não era respeitado.
Folha - Mas não haveria hoje um
movimento para devolver a Tchaikovski a respeitabilidade que ele
já teve no passado?
Cohen - Evidentemente. Mas o
movimento musical hoje tem uma
outra visão, sendo comandado pelos que mandam no mercado. É
um ``hipermercado'' onde quem
manda é o consumidor. Veja a
programação deste ano da Philarmonia (de Londres). Há sete concertos. Haverá Rachmaninov,
Beethoven, Mendelssohn, Tchaikovski e Chopin. Mais popular do
que isso é impossível, no lugar
mais sofisticado do mundo.
Folha - O bom instrumentista
precisaria, então, dar ênfase ao aspecto técnico, e não ao sentimentalismo que pode derivar de um
Tchaikovski?
Cohen - Há hoje uma dificuldade muito grande quanto a obras
mais conhecidas. A única maneira
de sair do lugar comum é imprimir
um selo pessoal. É o grande problema e o grande perigo.
Folha - Como assim?
Cohen - O selo pessoal pode ser
dado por autenticidade na interpretação ou porque o intérprete
quer individualizar artificialmente
sua leitura de determinada música. Há o exemplo do pianista que
toca algo devagar, porque todos os
demais tocam muito rápido.
Folha - O sr. grava pouco. Acaba
de voltar ao ``mercado'' com um
CD dedicado a Schumann. Qual é,
no caso, sua marca pessoal?
Cohen - Digamos que a ``Fantasia'', ninguém toca como eu a vejo. Ela é para mim mais comedida,
algo que está dentro da gente. Há
um processo interno, com uma
voltagem muito grande, mas sem
espalhafato, sem o circense.
Folha - Como está seu calendário
neste primeiro semestre?
Cohen - Está bastante denso.
Estou fazendo música de câmara
na Holanda. Lançarei um CD em
abril, com a primeira gravação
mundial de uma peça de Liszt.
Folha - Do que se trata?
Cohen - É uma ``Grande Fantasia Dramática'' sobre a ópera ``Os
Huguenotes'', de Meyerbeer. A última vez que a peça foi tocada em
público na Inglaterra foi em 1886.
Concerto: Orquestra Sinfônica Municipal,
dir. Aldo Ceccato; solista: Arnaldo Cohen
(piano)
Programa: Tchaikovski e Brahms
Onde: Teatro Municipal, praça Ramos de
Azevedo s/n, tel.
Quando: dias 14, às 20h30, e 16, às 10h30
Quanto: de R$ 2 a R$ 8
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