São Paulo, sexta, 7 de março de 1997.

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Pianista se apresenta em SP nos dias 14 e 16
Cohen diz que música erudita é 'hipermercado'

JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local

O pianista brasileiro Arnaldo Cohen estará se apresentando nos dias 14 e 16 no Teatro Municipal.
Estará acompanhado, no ``Concerto nş 1'' de Tchaikovski, pela Orquestra Sinfônica Municipal, sob a direção do maestro italiano Aldo Ceccato, titular da Sinfônica da Rai, de Turim, e da Orquestra Nacional da Espanha.
Cohen, radicado em Londres, disse em entrevista à Folha que a música erudita se tornou um ``hipermercado'', em que o repertório é escolhido pelo consumidor.

Folha - Tchaikovski foi escolha sua ou do maestro Aldo Ceccato?
Arnaldo Cohen -
A escolha foi minha. Estarei tocando dias 8, 9 e 10 com a Utah Simphony, nos EUA. Só teria aceito o convite para me apresentar em São Paulo se fosse para o mesmo concerto que estaria tocando quatro dias antes...
Folha - Tchaikovski não é considerado um compositor ``cinco estrelas'' como Liszt, Brahms ou Beethoven. Por que?
Cohen -
Eu discutiria essa comparação. Caviar é comida ``cinco estrelas''. Mas dificilmente alguém comeria caviar o mês inteiro. Precisa existir de tudo.
Folha - Há alguns anos, bons pianistas não russos gravavam pouco Tchaikovski ou Rachmaninov...
Cohen -
Eu vou mais além. No repertório das grandes orquestras sinfônicas, Mahler começou a ser tocado só depois de 1950. Liszt em Viena não era respeitado.
Folha - Mas não haveria hoje um movimento para devolver a Tchaikovski a respeitabilidade que ele já teve no passado?
Cohen -
Evidentemente. Mas o movimento musical hoje tem uma outra visão, sendo comandado pelos que mandam no mercado. É um ``hipermercado'' onde quem manda é o consumidor. Veja a programação deste ano da Philarmonia (de Londres). Há sete concertos. Haverá Rachmaninov, Beethoven, Mendelssohn, Tchaikovski e Chopin. Mais popular do que isso é impossível, no lugar mais sofisticado do mundo.
Folha - O bom instrumentista precisaria, então, dar ênfase ao aspecto técnico, e não ao sentimentalismo que pode derivar de um Tchaikovski?
Cohen -
Há hoje uma dificuldade muito grande quanto a obras mais conhecidas. A única maneira de sair do lugar comum é imprimir um selo pessoal. É o grande problema e o grande perigo.
Folha - Como assim?
Cohen -
O selo pessoal pode ser dado por autenticidade na interpretação ou porque o intérprete quer individualizar artificialmente sua leitura de determinada música. Há o exemplo do pianista que toca algo devagar, porque todos os demais tocam muito rápido.
Folha - O sr. grava pouco. Acaba de voltar ao ``mercado'' com um CD dedicado a Schumann. Qual é, no caso, sua marca pessoal?
Cohen -
Digamos que a ``Fantasia'', ninguém toca como eu a vejo. Ela é para mim mais comedida, algo que está dentro da gente. Há um processo interno, com uma voltagem muito grande, mas sem espalhafato, sem o circense.
Folha - Como está seu calendário neste primeiro semestre?
Cohen -
Está bastante denso. Estou fazendo música de câmara na Holanda. Lançarei um CD em abril, com a primeira gravação mundial de uma peça de Liszt.
Folha - Do que se trata?
Cohen -
É uma ``Grande Fantasia Dramática'' sobre a ópera ``Os Huguenotes'', de Meyerbeer. A última vez que a peça foi tocada em público na Inglaterra foi em 1886.

Concerto: Orquestra Sinfônica Municipal, dir. Aldo Ceccato; solista: Arnaldo Cohen (piano) Programa: Tchaikovski e Brahms Onde: Teatro Municipal, praça Ramos de Azevedo s/n, tel. Quando: dias 14, às 20h30, e 16, às 10h30 Quanto: de R$ 2 a R$ 8

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