São Paulo, sábado, 07 de março de 2009

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TRECHO

- As histórias de amor po-dem não ter futuro, mas têm sempre passado. É por isso que as pessoas se agarram a tudo o que as remete de volta ao que perderam. Os livros que elas leem sempre dizem respeito ao passado. Roman-ces históricos, memórias, bio-grafias, tudo tem que ser es-crito em retrospectiva, senão não faz sentido. [...] As pessoas precisam se agarrar ao que já conhecem. Os modernismos não podiam mesmo durar.
Nem as revoluções. Ninguém vai construir uma casa à beira do abismo. [...] Se quero salvar um rapaz que não é meu filho, deve ser para que alguém se lembre de mim.
- A gente só entende quando começa a lutar pelos filhos dos outros. As mães têm mais a ver com as guerras do que imaginam. É o contrário do que todo mundo pensa. Não pode haver guerra sem mães.
Mais do que ninguém, as mães têm horror a perder. Você é capaz de tudo para evitar a morte de um filho. É capaz de defendê-lo contra a própria justiça. Os filhos estão acima de qualquer suspeita. Você é capaz de matar por um filho. E acaba recebendo o troco na mesma moeda quan-do a guerra o leva.
Está pronta para defender a prole e o clã contra tudo. Sem querer ver que é daí que nascem as guerras. Todo mundo tem mãe. Até o pior canalha, o pior carrasco. Não deixa de ser uma espécie de fanatismo. Extraído de "O Filho da Mãe", de Bernardo Carvalho


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