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Nova geração coloca país na rota do cinema
DO "LE MONDE"
Não se sabe ainda por que, a
partir dos anos 90, centenas, depois milhares de jovens argentinos se inscreveram nas escolas de
cinema do país.
Quer eles tenham sido motivados pela crise, quer por um desejo
particular, o resultado não demorou: desde 1996, com "Histórias
Breves", reunião de filmes de conclusão de curso, tornou-se evidente que aqueles jovens não haviam se contentado com a escola.
Em 1997, "Pizza, Birra y Faso", filme coletivo e primeira produção
independente, tinha boas repercussões nos festivais.
Depois, vieram as primeiras
grandes obras: "Mundo Grúa", de
Pablo Trapero, e "O Pântano", de
Lucrecia Martel. O primeiro, rodado em Buenos Aires e Patagônia, acompanha os esforços de
um cinqüentão para obter um
emprego. Nesse filme em P&B,
com ficção e cenas documentais,
descobria-se um país devastado
pela crise e roído pelo passado.
"O Pântano", ao contrário, é de
uma grande crueldade. Lucrecia
Martel roda o filme na fronteira
com a Bolívia. As feridas de uma
família de classe média cujos integrantes mais velhos disputam à
beira de uma piscina enquanto os
filhos estão abandonados podem
ser interpretadas como uma metáfora da Argentina atual. Apesar
de não reduzir seu filme a essa dimensão, Martel a reconhece: "O
tema da culpabilidade na Argentina está também ligado à ditadura
e ao modo como ainda estamos
vinculados a ela. "O Pântano" é o
resultado dessa experiência".
Essa preocupação com o passado reaparece de filme em filme,
assim como as situações de despojamento, a tentação do exílio
ou da fuga. Esses pioneiros logo se
viram acompanhados por novos
nomes, como Adrián Caetano
("Bolivia") e Lisandro Alonso
("La Libertad"). Depois, eles se
tornaram dezenas. Uma filmografia ao mesmo tempo diversa e
homogênea se constituiu: os lugares, a realidade, o tom entre documental e ficção onírica. Mas todos
esses filmes partilham a filmagem
em externas, a imbricação no presente -princípios não muito distantes da nouvelle vague.
O "nuevo cine" tira sua força de
cineastas e público -"El Bonaerense" teve 300 mil espectadores.
Depois do ciclone financeiro, as
salas adaptaram seus preços, e a
bilheteria não caiu, mesmo que os
ganhos de exibição tenham sido
atingidos. Com cerca de meia
centena de filmes em 2002, o cinema argentino encontrou, graças à
nova geração, seu lugar.
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