São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2004

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Nova geração coloca país na rota do cinema

DO "LE MONDE"

Não se sabe ainda por que, a partir dos anos 90, centenas, depois milhares de jovens argentinos se inscreveram nas escolas de cinema do país.
Quer eles tenham sido motivados pela crise, quer por um desejo particular, o resultado não demorou: desde 1996, com "Histórias Breves", reunião de filmes de conclusão de curso, tornou-se evidente que aqueles jovens não haviam se contentado com a escola. Em 1997, "Pizza, Birra y Faso", filme coletivo e primeira produção independente, tinha boas repercussões nos festivais.
Depois, vieram as primeiras grandes obras: "Mundo Grúa", de Pablo Trapero, e "O Pântano", de Lucrecia Martel. O primeiro, rodado em Buenos Aires e Patagônia, acompanha os esforços de um cinqüentão para obter um emprego. Nesse filme em P&B, com ficção e cenas documentais, descobria-se um país devastado pela crise e roído pelo passado.
"O Pântano", ao contrário, é de uma grande crueldade. Lucrecia Martel roda o filme na fronteira com a Bolívia. As feridas de uma família de classe média cujos integrantes mais velhos disputam à beira de uma piscina enquanto os filhos estão abandonados podem ser interpretadas como uma metáfora da Argentina atual. Apesar de não reduzir seu filme a essa dimensão, Martel a reconhece: "O tema da culpabilidade na Argentina está também ligado à ditadura e ao modo como ainda estamos vinculados a ela. "O Pântano" é o resultado dessa experiência".
Essa preocupação com o passado reaparece de filme em filme, assim como as situações de despojamento, a tentação do exílio ou da fuga. Esses pioneiros logo se viram acompanhados por novos nomes, como Adrián Caetano ("Bolivia") e Lisandro Alonso ("La Libertad"). Depois, eles se tornaram dezenas. Uma filmografia ao mesmo tempo diversa e homogênea se constituiu: os lugares, a realidade, o tom entre documental e ficção onírica. Mas todos esses filmes partilham a filmagem em externas, a imbricação no presente -princípios não muito distantes da nouvelle vague.
O "nuevo cine" tira sua força de cineastas e público -"El Bonaerense" teve 300 mil espectadores. Depois do ciclone financeiro, as salas adaptaram seus preços, e a bilheteria não caiu, mesmo que os ganhos de exibição tenham sido atingidos. Com cerca de meia centena de filmes em 2002, o cinema argentino encontrou, graças à nova geração, seu lugar.


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