São Paulo, sexta-feira, 07 de junho de 2002

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MÚSICA/LANÇAMENTOS

Ritchie volta após 12 anos tentando se dissociar da imagem tecnopop de seus sucessos nos anos 80

Menino sem veneno

DA REPORTAGEM LOCAL

O que menos o ex-ídolo pop Ritchie queria ao retomar uma carreira interrompida havia 12 anos era ser comparado ao dono milionário do hit bregapop/tecnopop "Menina Veneno", que exatamente nesta semana completou 20 anos de idade.
"Auto-Fidelidade" resiste, então, à tentação de aproveitar o atual revival de anos 80 e chega como um disco de rock'n'roll básico que o inglês naturalizado brasileiro Ritchie, 50, até assume como possivelmente retrô.
"Gosto ainda de todos aqueles trambolhos dos 80, mas quis ser fiel a mim mesmo, e tudo me levou a uma sonoridade sessentista, de quando eu era garoto, que marcou toda minha vida. Há um saudosismo mercadológio pelos 80, mas eu não faço parte disso. Soaria mórbido para mim", diz.
"Se minha volta é retrô, é muito mais que se fosse fazer revival dos 80. Mas "Auto-Fidelidade" tem um frescor paradoxal, no fundo é mais atual porque é rock'n'roll, simples, honesto, maduro. Na verdade estou quase caindo de podre, mas me sinto rejuvenescido", brinca, autocrítico.
Uma das coisas que Ritchie não topava era voltar regravando "Menina Veneno" e companhia, como diz que várias grandes gravadoras chegaram a lhe propor.
"É claro que eu queria voltar a gravar, só não queria fazer mico, palhaçada. Acho difícil evitar que um dos próximos discos seja ao vivo e tenha essas músicas, porque a (gravadora independente) Deck está interessada em pegá-las para seu catálogo", explica.
"Eu tinha o maior problema em voltar assim, sabendo que iam querer CD ao vivo, DVD, acústico. Mas a Deck disse que não, que eu podia fazer um CD de músicas inéditas, gravar algumas em inglês, a língua em que minha alma pensa. Eu estava muito acomodado, na verdade tinha era um medo terrível de voltar", diz, admitindo nervosismo "de estreante".
Dá outra razão para ceder a uma futura regravação de "Menina Veneno": "Ela ficou atrelada à versão de Zezé di Camargo e Luciano. Como compositor sou eternamente grato a eles, fiquei com sobras autorais dignas, maravilhosas. Mas sempre fico um pouco triste quando falam sobre "a música do Zezé di Camargo'".
Ritchie reflete sobre a carreira interrompida e sobre a imagem que "Menina Veneno" colou a ele, de rei pop de um único verão: "Parei por mil motivos -autocrítica, saturação, superexposição exacerbada. Me senti como o sobrevivente do desastre aéreo que diz: "Por que eu não morri?". Minha auto-estima ficou abalada".
Fala, então, da versão de que seu então colega de gravadora Roberto Carlos teria manobrado para cortar suas asas, incomodado por Ritchie ter sido, em 1983, o primeiro a suplantá-lo em vendas.
"Isso foi fofoca do nosso amigo Tim Maia. Ele jogou aquilo e por alguns segundos eu quis acreditar. Espero que não tenha acontecido, seria muito triste pensar que nosso rei teria alguma atitude tão baixa. Roberto age elegantemente, me chama para o camarim, tira foto comigo. Não quero ressuscitar essa história, é muito triste. Ninguém derruba ninguém, a gente é que se derruba", finaliza.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


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