São Paulo, segunda, 7 de junho de 1999

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RELÂMPAGOS
O Parto

JOÃO GILBERTO NOLL
Uma criança nasce logo além da porta do meu quarto. E eu não deverei ultrapassá-lo. Pois como acompanhar a cena sem que a ofenda? Com que qualificação a olharia? Eu, que nunca soube a hora de me engajar num nascimento. "Olhar ou não o parto é o mesmo inferno", resmunga em mim o rancor que não fecunda. Se pelo menos possuísse o dom da previsão, eu teria escapado de estar agora no aposento que não deverei ultrapassar, aqui, me afogando, lentamente, por não poder agir nessa tarde em que a criança se amarra nas entranhas... resistindo ao grave risco do convívio... e bravamente...



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