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RELÂMPAGOS
O Parto
JOÃO GILBERTO NOLL
Uma criança nasce logo
além da porta do meu quarto. E eu não deverei ultrapassá-lo. Pois como acompanhar a cena sem que a ofenda? Com que qualificação a
olharia? Eu, que nunca soube
a hora de me engajar num
nascimento. "Olhar ou não o
parto é o mesmo inferno",
resmunga em mim o rancor
que não fecunda. Se pelo menos possuísse o dom da previsão, eu teria escapado de
estar agora no aposento que
não deverei ultrapassar,
aqui, me afogando, lentamente, por não poder agir
nessa tarde em que a criança
se amarra nas entranhas...
resistindo ao grave risco do
convívio... e bravamente...
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