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LIVROS/LANÇAMENTOS
"IDÉIAS TEATRAIS..."
Coletânea comenta textos publicados de 1833 a 1903
Faria expõe tradição e redimensiona o teatro atual
Reprodução do livro "O cinema e a invenção da Vida Moderna"
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A Times Square, em Nova York em 1909, um dos exemplos de hiperestímulo da modernidade, que marcou a história do cinema |
SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
À primeira vista, "Idéias
Teatrais: O Século XIX no
Brasil", de João Roberto Faria,
uma coletânea comentada de prefácios, críticas e estudos sobre teatro publicados no Brasil entre
1833 e 1903, apresenta-se como
estudo para especialistas.
Já se tem por reflexo considerar
que o teatro brasileiro teria começado com o Teatro Brasileiro de
Comédia, em 1948, superado pelo
Teatro de Arena e pelo Oficina, e
que todos teriam sido destruídos
pelo AI-5 em 1968.
O teatro brasileiro estaria tentando se recuperar desde então,
retomando o projeto do TBC de
acompanhar o nível internacional, sem deixar apagar a chama da
nacionalidade do Arena e da revolução permanente do Oficina, e
nas últimas décadas muitos estudos foram publicados sobre esses
20 anos fundamentais, um pouco
para se retomar a utopia perdida.
Ficaria assim o século 19 relegado a uma curiosidade histórica,
ingênuas discussões sobre temas
superados. Décio de Almeida Prado, crítico fundador do TBC, parecia um dos poucos autorizados
a cavar mais fundo na nossa história teatral. No entanto pesquisadores como João Roberto Faria,
com um prestígio cada vez maior,
vêm trazendo à tona um passado
que espanta pela atualidade.
Faria é discípulo de Prado no
sentido mais nobre; mantém não
só a mesma linha de pesquisa,
mas o mesmo método de trabalho, com a leitura atenta de documentos relegados ao esquecimento. Recupera a pertinência, e não
raro a urgência, do pouco conhecido trabalho crítico de autores
como Machado de Assis, José de
Alencar, Artur de Azevedo, assim
como a lucidez de auto-análise
dos prólogos de Gonçalves de
Magalhães e Gonçalves Dias.
Faria chega a aprimorar o método de Prado ao apresentar cronologicamente, em uma segunda
parte, os documentos analisados,
para que "cada um possa discordar ou concordar saudavelmente
com os meus pontos de vista".
O volume, claramente organizado, faz desfilar as lutas dos românticos e dos realistas, do apego
às regras clássicas e à moral maniqueísta do melodrama, do repúdio tanto ao comercialismo raso
de boa parte do teatro musicado
quanto à falta de poesia da vanguarda naturalista, que Antoine
veio pessoalmente ao Rio trazer
como uma alternativa que, no entanto, só seria adotada pelo TBC,
quase 50 anos depois.
O teatro "pré-TBC" não tem nada do servilismo ao modelo estrangeiro, mas sim uma crônica
de lutas de intelectuais bem embasados contra a precariedade de
recursos, o descaso dos governos,
o imediatismo dos empresários, a
desinformação das platéias.
Nada que o TBC não tenha tido
que enfrentar, aliás; nada que não
continue até hoje. Diminuída a
necessidade de um divisor de
águas em nossa história, "Idéias
Teatrais" ganha mais um século
para comparações, e o passado
ganha novo enfoque: o quanto o
teatro de Arena, por exemplo, não
retomou a exaltação maniqueísta
do herói nacional, projeto romântico? Mais do que um passado, Faria expõe uma tradição e redimensiona o teatro atual.
Idéias Teatrais: O Século XIX no
Brasil
Autor: João Roberto Faria
Editora: Perspectiva
Quanto: R$ 40 (688 págs.)
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