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"SUNSHINE - O DESPERTAR DE UM SÉCULO"
Negando origens, Szabó traça panorama de uma época
CRÍTICO DA FOLHA
A pretensão de István Szabó em "Sunshine - O Despertar de um Século" é traçar um
panorama histórico do século 20
por meio da história particular de
uma família de judeus húngaros.
A família Sonnenschein deve redescobrir, na trajetória de três gerações da conturbada "era dos extremos", sua identidade judia.
"Deus nos proíbe de viver na luxúria e no poder", avisa inutilmente, no início do filme, o bisavô, apelando a uma tradição que
se perderá, aos poucos, com o alvorecer do novo século.
De alguma forma, as gerações
seguintes negarão sua origem judaica, ignorando o preceito: o avô
consuma uma relação proibida
com a prima e torna-se, ao mesmo tempo, juiz do Império Austro-Húngaro, trocando seu nome
judeu por outro com o intuito de
ser indicado à Suprema Corte.
O neto, envolvido numa relação
adúltera, adere ao regime comunista da Hungria do pós-guerra e
se vê obrigado a endossar uma
campanha anti-semita. Mas a
consciência do Holocausto e o último desejo de sua avó o conduzem a uma reconversão: retoma o
nome original da família e tenta
descobrir o paradeiro de um livro
alquímico escrito pelo tataravô.
A rigidez dos preceitos morais
demonstrados aqui por Szabó reflete-se no esquematismo do roteiro, na impostura da mise-en-scène e na formalidade dos atores.
O filme não ganha vida, em parte porque a unidimensionalidade
dos personagens é reforçada pelo
fato de Szabó (também autor do
roteiro) priorizar os personagens
masculinos, todos (os principais
ao menos) interpretados por
Ralph Fiennes (cuja versatilidade
não é tamanha).
Potencialmente, as personagens
femininas, que parecem trazer
sempre consigo a ameaça de danação e insubordinação, são as
melhores, mas Szabó prefere
mantê-las em segundo plano, como quem esconde os próprios pecados. As mulheres exercem um
papel deflagrador no filme, mas
devem permanecer em seu devido lugar segundo a velha máxima:
por trás de um grande homem, há
sempre uma grande mulher (e,
atrás desta, a mulher dele).
"Sunshine" obedece à lógica hipócrita do falso moralismo. Ainda que aborde tanto os "grandes
acontecimentos" protagonizados
pelos homens quanto os pequenos pecados "provocados" pelas
mulheres, Szabó forja, com os primeiros, instantâneos fotográficos
para pendurar na sala da casa e
empurra os segundos, à sua maneira, para debaixo do tapete (é o
que ele faz, por exemplo, com o
adultério da avó). É assim que o
cineasta recalca aquela que poderia ser a maior chance de sua história sair do papel (timbrado) para ganhar vida nas telas.
(TIAGO MATA MACHADO)
Sunshine - O Despertar de um
Século
Sunshine
Direção: István Szabó
Produção: Áustria/ Canadá/Alemanha/
Hungria, 1999
Com: Ralph Fiennes, Rosemary Harris,
Rachel Weisz e Jennifer Ehle
Quando: em cartaz nos cines Jardim Sul,
Cinearte e Pátio Higienópolis
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