JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

"Urbânia", de Flávio Frederico, é o único longa em competição hoje no 29º Festival de Gramado do Cinema Brasileiro e Latino.
O filme mistura ficção e documentário ao acompanhar dois homens vindos do interior que percorrem as ruas de São Paulo num Dodge Dart conversível.
O mais velho (Turíbio Ruiz) busca os locais que marcaram sua juventude e que não existem mais, ou estão transformados. Tendo ficado cego, ele precisa da ajuda do amigo (Adriano Stuart).
O documentário se infiltra nessa estrutura ficcional de duas maneiras: pelos depoimentos de pessoais reais com quem os dois personagens cruzam e pela inserção de imagens antigas da cidade, que funcionariam mais ou menos como a memória do velho cego.
O diretor, Flávio Frederico, 31, define seu filme como "um "street movie" sobre a deterioração da cidade de São Paulo". De fato, ao concentrar-se nos bairros centrais dos Campos Elíseos, Luz e Bom Retiro -com um ligeiro desvio para um lixão de periferia-, o que o filme exibe é uma metrópole arruinada em termos arquitetônicos e humanos.
"Urbânia" é heterogêneo não apenas pela mistura de gêneros e registros, mas em sua textura. As cenas diurnas foram filmadas em película, com uma câmera super-16 mm. As noturnas foram gravadas em vídeo digital e depois transferidas para a película.
O custo do filme não passou muito dos R$ 500 mil. Parte desses recursos veio do Hupert Bals Fund, um fundo de apoio ao cinema independente ligado ao Festival de Roterdã (Holanda).
"Urbânia" marca a estréia de Flávio Frederico no longa-metragem. Curiosamente, seu curta mais recente, "Pormenores", participa da competição em Gramado. Será exibido sexta-feira. Anteriormente, Frederico realizou os curtas "Todo Dia Todo" (ficção) e "Copacabana" (documentário).


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