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NO EXTERIOR
"Percebi sua importância já criança", afirma Coelho
DA REPORTAGEM LOCAL
Chorando, o carioca Paulo Coelho, único escritor brasileiro que
alcançou fama internacional semelhante à de Jorge Amado, deu
ontem à noite um depoimento
para a Folha sobre o colega baiano. Falou por telefone, de seu
apartamento em Copacabana:
"A literatura brasileira só existe
internacionalmente por causa do
Jorge. Ele era enorme tanto como
artista quanto como ser humano.
Percebi sua importância já criança, quando li "Gabriela Cravo e
Canela". Foi o primeiro contato
que tive com a obra dele. Depois,
caiu-me em mãos "Os Velhos
Marinheiros". A partir daí, li quase tudo o que escreveu.
É o escritor que melhor compreendeu o Brasil. Quando Jorge
descrevia todos aqueles personagens, eu -mesmo menino- já
sentia que ele estava falando da
minha alma, da alma de meu país.
Se me perguntam por que nunca
escrevi sobre o Brasil em meus romances, respondo sempre: "Jorge
Amado já deu conta do recado".
Ele não deixou nenhum espaço
vazio nesse sentido. Ninguém como ele mostrou tão bem os contrastes e conflitos do país. Mostrou e viveu. Certa vez, vi uma foto dele -um comunista- usando roupas do candomblé e entendi que, também como indivíduo,
Jorge não desprezava as contradições da alma.
Injustamente, o criticaram pela
simplicidade de sua linguagem.
São críticas de quem ignora a busca de um escritor pelo contato o
mais direto e fluente possível com
o leitor.
Nas entrevistas que concedo,
gosto de dizer que dois Jorges me
influenciaram: o Borges e o Amado. Em torno deles, construí minha literatura.
Há sete anos, quando cheguei à
lista dos mais vendidos na França
com "O Alquimista", alguém comentou: "Xi, o Jorge Amado vai
ficar chateado". Uma semana depois, recebi no Rio uma carta
com selo de Paris. Olhei o remetente. Era de Jorge. Não acreditei,
porque àquela altura nunca havíamos nos visto ou falado pessoalmente. Quando abri o envelope, encontrei um bilhete (começa
a chorar). Dizia: "Paulo Coelho,
que orgulho!". Em anexo, grampeado ao bilhete, um recorte com
a lista dos best sellers publicada
pelo jornal francês "L" Express". Ainda não consigo acreditar que ele morreu."
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