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DISCO/CRÍTICA
Prince se afoga na hiperprodutividade
da Reportagem Local
Foram quatro CDs em 96, mais
quatro em 97, e eis ele aí de novo.
O Símbolo, o Ex-Prince, o Coisa
lança agora "New Power Soul",
com sua banda New Power Generation. É bom? É, Prince sempre é.
Acontece que, ainda assim, sua hiperprodutividade obsessiva ameaça arrastá-lo ao estupor.
Todo mundo já entendeu isto:
não há como o funk orgânico que
Prince forjou não ser engolfado
pela mesmice em meio de um vendaval de novas composições. Prince se arrasta à irrelevância -se
não por outra razão, porque nem
concede ao ouvinte tempo hábil de
assimilar o que ele produz.
Aí há as questões subsidiárias.
"New Power Soul" sucede o quádruplo/quíntuplo (seus CDs se reproduzem feito gremlins)
"Crystal Ball" (97, vendido apenas pela Internet, pelos endereços
www.1800newfunk.com e www.
love4oneanother.com) -que, feitas as contas, é estupendo.
Era fácil que fosse. Três dos CDs
de "Crystal Ball" compilam material que ficou inédito no correr
da carreira do Flecha -o que rende suítes inesquecíveis como
"Crystal Ball", "Cloreen Baconskin" (16 incansáveis minutos), "Love Sign", "Sexual Suicide", "Poompoom".
O resto é mais ou menos -o
quarto CD, "The Truth", é um
inédito acústico, dum Prince desanimado arrastando bluesinhos
compostos no quintal; o bônus incluído depois é "Kamasutra",
bobagem instrumental assinada
pela NPG Orchestra.
Mas tente comparar os três
"Crystal Ball" com "New Power
Soul". É devastador. O Coisa ainda faz funks como ninguém nestes
90, mas o vigor e a fúria da safra
87-88 parecem irremediavelmente
perdidos.
Falar com sinceridade, Gremlin
hoje parece um relaxado -até a
capa de "New Power Soul" dá
medo. "Crystal Ball", que nem
capa tinha (o consumidor feliz,
daqueles que têm scanner e Internet em casa, tem que imprimir via
Internet se quiser guardar -ou
saber- os nomes das músicas),
ainda ostentava design ousado. Já
o novo, no melhor estilo Tim
Maia, parece disco pirata de tão
bagaceira.
Musicalmente, "New Power
Soul" é um disco de fibra, mas
muito acomodado -Smurf optou
pelo certeiro de investir pesado no
pastiche de um de seus ídolos, o
sacerdote do funk George Clinton.
Metade dos funks -a faixa-título e "Freaks on This Side" em especial- parecem saídos das entranhas do Funkadelic ou do Parliament (são as bandas de Clinton
nos 70). Cínica, "Push It Up" é
cópia em negativo das "jams of
the year" de Bootsy Collins, braço
direito de Clinton.
Bom aluno que é, Snorkel consegue se desguiar da mera referência
-cópia ou não cópia, "Freaks on
This Side" é o máximo. As baladonas -"Shoo-Bed-Ooh", "Come On" (dueto com a diva Chaka
Khan), "The One"- continuam
apimentadas (ainda que as letras
continuem sofríveis).
Bem, assim é Ex-Prince. Ele não
está nem aí. Não é Michael Jackson, que assiste à desgraça de seu
gigantesco talento ser soterrado
por questões morais ou de imagem. Não é Madonna, que se ampara na indulgência preguiçosa de
"Ray of Light" e só faz piscar para
um público fiel pronto a se satisfazer com a demagogia do hit "Frozen".
Ele, o Homem-Coisa, só quer saber de música (OK, esqueçamos a
grana só um tantinho). Sua música está cada vez mais difícil de deglutir, é fato, mas isso é problema
do público. Neste instante, ele deve estar trancado em seu estúdio
gravando mais umas 500 músicas.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Disco: New Power Soul
Grupo: Prince and The New Power
Generation
Lançamento: NPG/BMG
Quanto: R$ 18, em média
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