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"LAÇOS SAGRADOS - KADOSH"
Filme mostra lenta erosão da cultura secular que aborda
ESPECIAL PARA A FOLHA
Entre o amor lamurioso das
mulheres e o espalhafato místico
dos homens, há, em "Laços Sagrados Kadosh", um muro inteiro de
lamentações. São as impossibilidades impostas pelos dogmas de
uma comunidade judaica ultra
ortodoxa, a do bairro de Mea
Shaerim, de Jerusalém, cenário
escolhido pelo diretor Amos Gitai
para encerrar sua trilogia sobre Israel.
Gitai prova aqui, antes de tudo,
sua plena maturidade como diretor, revelando, em especial, um
acurado domínio do tempo interno de cada cena. Seu filme é como
uma lenta erosão e traduz, nos sutis movimentos de câmera que
servem à cadência própria dos
atores, o quase imperceptível processo de degradação vislumbrado
na cultura secular que ele aborda.
A grande contradição em todas
as religiões monoteístas, diria o
cineasta, é o lugar dado às mulheres. Se, a exemplo de seu "Berlim-Jerusalém", Gitai centra-se aqui
em duas personagens femininas,
duas irmãs, é porque visa, posicionando-se à margem, flagrar
mais uma vez o choque indivíduo/comunidade.
Numa sociedade onde o papel
da mulher é, sobretudo, o de procriar, "a mulher que é estéril não é
mulher". É, ao menos, o que diz o
rabino do filme ao filho Meir, cuja
esposa, Rivka, foi, aparentemente, "amaldiçoada" com a esterilidade. Apesar de se amarem, Meir
e Rivka serão levados à separação.
A irmã mais nova de Rivka,
Malka (Meital Barba, o destaque
deste belo elenco), também terá
seus sentimentos constrangidos
pelos dogmas da comunidade,
sendo obrigada a se casar com o
homem que não ama. Em seu casamento, a balbúrdia dos homens
contrastará com o silêncio das
mulheres. Na noite de núpcias, será todo o ancestral peso do autoritarismo masculino judaico que
ela sentirá sobre seu ventre.
Mas Malka não compartilha,
afinal, da subserviência dócil da
irmã. Seria fácil contrapor as
duas, apontando em Rivka a mulher arcaica e, em Malka, o sujeito
moderno que irrompe os valores
da comunidade, afirmando os
seus sentimentos, a sua individualidade. Mas, no fundo, a
maior diferença entre as duas é
que a primeira ama o marido que
tem e a outra não.
(TMM)
Laços Sagrados - Kadosh
Kadosh
Direção: Amos Gitai
Produção: Israel, 1999
Com: Meital Barba, Sami Hori
Quando: a partir de hoje no Top Cine 2
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