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CRÍTICA
Compositor cultua clássico
CARLOS CALADO
especial para a Folha
Aqueles que ainda dão ouvidos à injusta máxima "São Paulo é o túmulo do samba" vão
encontrar no novo disco do
compositor e arranjador paulistano Eduardo Gudin pelo
menos 11 razões para enterrar
de vez esse preconceito.
O álbum "Pra Tirar o Chapéu" é praticamente uma seqüência do ótimo disco que o
compositor lançou em 1995
(pela gravadora Velas), também acompanhado pelo grupo
Notícias Dum Brasil.
Mais uma vez, Eduardo Gudin exibe sua vasta bagagem de
cultor do samba clássico.
Entre as 14 faixas (todas de
sua autoria), incluiu 11 sambas,
alguns feitos em parceria com
bambas do gênero, como Paulinho da Viola, Paulo César Pinheiro ou o mais moderno
Guinga.
²
Economia
Os arranjos são sutis e econômicos. Na instrumentação, Gudin volta a combinar com
maestria a percussão tradicional do samba, com naipes de
cordas e sopros -desta vez
destacando a participação de
seis músicos da Banda Mantiqueira.
Nos vocais, mais um ponto
para o arranjador. Gudin sabe
que não é um cantor bem-dotado (o que, a exemplo de Chico
Buarque e outros autores-cantores, não o impede de ser um
intérprete sincero de suas composições).
Assim, acertou ao convocar
cinco belas vozes ainda desconhecidas do grande público
-Luciana Alves, Edson Montenegro, Maria Martha, Marilise Rossatto e Fabiana Cozza.
Todos se saem muito bem,
como solistas ou no apoio aos
vocais do compositor, mas Luciana Alves mostra brilho especial, ao interpretar a canção
"Conversar Comigo" (uma
parceria entre Gudin e Guinga)
e os sambas "Retrato" (letra de
J. Petrolino) e "Ainda Mais"
(letra de Paulinho da Viola).
²
Valsa
Entre os pontos mais altos do
álbum também está a valsa
"Etérea" (letra de Gudin e música de Guinga). A voz delicada
de Vânia Bastos soa como a escolha perfeita, interpretando
um arranjo suave de Hermeto
Pascoal, que mistura cordas
dissonantes com o violão do
próprio Guinga.
Numa época em que os neo-
pagodeiros, de olho nas altas
vendagens e nos discos de ouro
e platina, praticamente se confundem com os militantes do
brega-sertanejo, o novo álbum
de Eduardo Gudin sugere que o
bom e velho samba tradicional
ainda tem muito fôlego e poderá resistir aos modismos do
mercado.
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