São Paulo, segunda, 7 de setembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÍTICA
Compositor cultua clássico

CARLOS CALADO
especial para a Folha

Aqueles que ainda dão ouvidos à injusta máxima "São Paulo é o túmulo do samba" vão encontrar no novo disco do compositor e arranjador paulistano Eduardo Gudin pelo menos 11 razões para enterrar de vez esse preconceito.
O álbum "Pra Tirar o Chapéu" é praticamente uma seqüência do ótimo disco que o compositor lançou em 1995 (pela gravadora Velas), também acompanhado pelo grupo Notícias Dum Brasil.
Mais uma vez, Eduardo Gudin exibe sua vasta bagagem de cultor do samba clássico.
Entre as 14 faixas (todas de sua autoria), incluiu 11 sambas, alguns feitos em parceria com bambas do gênero, como Paulinho da Viola, Paulo César Pinheiro ou o mais moderno Guinga.
²
Economia
Os arranjos são sutis e econômicos. Na instrumentação, Gudin volta a combinar com maestria a percussão tradicional do samba, com naipes de cordas e sopros -desta vez destacando a participação de seis músicos da Banda Mantiqueira.
Nos vocais, mais um ponto para o arranjador. Gudin sabe que não é um cantor bem-dotado (o que, a exemplo de Chico Buarque e outros autores-cantores, não o impede de ser um intérprete sincero de suas composições).
Assim, acertou ao convocar cinco belas vozes ainda desconhecidas do grande público -Luciana Alves, Edson Montenegro, Maria Martha, Marilise Rossatto e Fabiana Cozza.
Todos se saem muito bem, como solistas ou no apoio aos vocais do compositor, mas Luciana Alves mostra brilho especial, ao interpretar a canção "Conversar Comigo" (uma parceria entre Gudin e Guinga) e os sambas "Retrato" (letra de J. Petrolino) e "Ainda Mais" (letra de Paulinho da Viola).
²
Valsa
Entre os pontos mais altos do álbum também está a valsa "Etérea" (letra de Gudin e música de Guinga). A voz delicada de Vânia Bastos soa como a escolha perfeita, interpretando um arranjo suave de Hermeto Pascoal, que mistura cordas dissonantes com o violão do próprio Guinga.
Numa época em que os neo- pagodeiros, de olho nas altas vendagens e nos discos de ouro e platina, praticamente se confundem com os militantes do brega-sertanejo, o novo álbum de Eduardo Gudin sugere que o bom e velho samba tradicional ainda tem muito fôlego e poderá resistir aos modismos do mercado.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.