São Paulo, segunda, 7 de setembro de 1998

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PERSONALIDADE
Morre cineasta japonês Akira Kurosawa aos 88 anos

Associated Press - 26.mar.90
O cineasta japonês Akira Kurosawa, que morreu ontem em sua casa aos 88 anos de idade


MARCIO AITH
de Tóquio

O diretor de cinema japonês Akira Kurosawa morreu ontem em sua casa, em Tóquio, aos 88 anos. Uma das personalidades mais cosmopolitas em toda a história do Japão, Kurosawa morreu de causas naturais, segundo nota divulgada por sua produtora. Segundo fontes ligadas a sua família, ele teria tido um derrame cerebral.
Num país atingido por uma crise de auto-estima causada pelo maior declínio econômico do pós-guerra, a morte foi registrada com destaque e pesar por todas as redes de televisão japonesas com horas seguidas de programas enaltecendo, principalmente, a fama do cineasta no exterior.
O governo japonês prepara uma série de cerimônias em homenagem ao cineasta.
Os prêmios recebidos por Kurosawa no exterior são motivo de orgulho para o Japão, que tem uma extrema e conhecida necessidade de reconhecimento e de admiração externas. Ele é o único diretor a ganhar dois Oscars de melhor filme estrangeiro -em 1952, por "Rashomon", e em 1976, por "Dersu Uzala".
Kurosawa era conhecido por praticamente todos os japoneses, mas seus fãs, em sua maioria, são pessoas com mais de 35 anos.
Poucos jovens abaixo dessa idade chegaram a ver ao menos um de seus filmes, e mesmo o lançamento, em 1991, de "Rapsódia em Agosto", estrelando o galã norte-americano Richard Gere, não empolgou as novas gerações.
Os filmes de Kurosawa podem ser encontrados em quase todas as locadoras de vídeos em Tóquio, mas mostras com seus filmes em cinemas da capital são raras.
O último filme do cineasta, "Mandadayo", de 1993, mostra o relacionamento de um professor universitário aposentado com seus ex-alunos.
Kurosawa nasceu em Tóquio em 1910. Sua família descende de um clã de samurais, guerreiros que monopolizaram o poder durante o longo período feudal japonês que acabou em 1868. Quando criança, aprendeu Kendo (espécie de esgrima japonesa), mas durante o período escolar recusou se submeter a treinamento militar, trocando-o pela pintura e pela leitura de Tolstói, Dostoiévski e Shakespeare.
Em seu filme "Ran" (Rebelião), o 28º de sua carreira e um de seus últimos sucessos, Kurosawa transpôs "Rei Lear", de Shakespeare, para o sangrento início do período feudal japonês.
Kurosawa era um cineasta perfeccionista e polêmico. Apesar de ter sido fortemente influenciado pela cultura ocidental (o que incomodava muitos japoneses), tinha comportamentos extremos típicos de japoneses. Em 1961, tentou suicídio cortando os pulsos depois da falência da companhia que produziu "Rashomon".
Durante quase toda sua carreira, Kurosawa teve a parceria do ator Toshiro Mifune, que morreu em dezembro passado.



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