|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Fundações Guggenheim e Daniel Langlois lançam projeto para salvar arte perecível
Preservando a vanguarda
MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL
O projeto, dizem seus organizadores, é ambicioso e necessário:
conceder a chance de imortalidade para obras de arte produzidas,
de modo acelerado, na segunda
metade do século 20. Trabalhos
feitos -seguindo a condição imposta pela imaginação de cada artista- com terra, filme, chocolate, internet, esterco de elefante ou
qualquer outra "mídia variável".
A "Variable Media Initiative"
(VMI), que pretende desenvolver
uma política de preservação para
a arte contemporânea, é resultado
de um consórcio entre a norte-americana Fundação Guggenheim e a Daniel Langlois Foundation for Art, Science and Technology, do Canadá.
A parceria foi oficialmente
apresentada a museus e curadores durante um simpósio realizado em Nova York, no final do último verão dos Estados Unidos.
"No centro do conceito de mídia variável está um questionário
que estamos elaborando", disse à
Folha Alain Depocas, diretor do
centro de pesquisa e documentação da Daniel Langlois Foundation, por e-mail, de Montréal. "O
objetivo do questionário, que está
ligado a uma base de dados", diz
ele, "é descobrir, a partir do testemunho do artista, onde estão os
limites para as intervenções que
poderão ser feitas no futuro por
conservadores e museus".
Os artistas terão que responder
questões fundamentais sobre o
propósito e a natureza de seus trabalhos. Depois, definirão qual o
"estado ideal" das obras. Se, por
exemplo, devem ser "instaladas",
"executadas" ou "exibidas em rede". Terão ainda que fornecer o
maior número possível de material sobre a criação.
A VMI pretende colocar o questionário em rede e, assim, conseguir criar uma base de documentação na qual os artistas terão a
palavra final. Quanto aos já mortos, há a chamada "questão moral". O passo seguinte será
permitir o uso dos questionários
respondidos por todas as instituições culturais interessadas.
"Um dos maiores objetivos,
nessa parceria com o Guggenheim, é estabelecer uma rede internacional de organizações, que
tentarão implementar os conceitos da VMI. Isso pode afetar a maneira como os museus lidam com
a preservação de novas formas de
arte, as que não são feitas com
materiais estáveis, e sim efêmeros", diz Depocas.
Ele cita então um exemplo. O tipo de problema enfrentado hoje
por curadores e conservadores.
"Em relação à mídia tradicional,
como a pintura, há uma longa história de pessoas lutando pela primazia, no que se refere à conservação: os que acreditam ser necessário para a obra adquirir um
certo tom dado pelo envelhecimento, e os que defendem a restauração total."
"O artista americano Bill Viola é
um caso que enfrentamos neste
instante", Depocas continua.
"Viola utiliza agora uma versão
em DVD de suas primeiras instalações e certamente não se oporia
ao uso de um melhor tipo de monitor, se ele não arruinasse os efeitos perseguidos em seu trabalho."
"Se Viola usasse um velho aparelho em preto-e-branco", ele
prossegue, "que enviasse o espectador para um certo fenômeno da
memória, vindo do passado, seria
impossível imaginar um substituto. Com a VMI poderemos ter
uma opção".
Performances
E quanto às performances e instalações? O VMI poderia preservar até mesmo um "conceito", algo essencial para entender a produção contemporânea? A resposta é afirmativa, e mais uma vez o
que prevalece é a intenção de
manter os criadores em um espaço privilegiado, no qual são eles os
principais responsáveis pela manutenção de suas heranças.
"A idéia de mídia variável inclui
todo tipo de trabalho artístico; algo que nos leva a um outro obstáculo", fala Depocas. "O fato de alguns serem localizados em um
determinado espaço. Eles são, como dizemos em inglês, "site sensitive". Para preservá-los, temos que
levar em conta sua variabilidade."
Isso seria então uma interferência na criação do artista? "Não.
Em outras palavras, não é possível
propor a manutenção indefinida
de uma obra em seu estado fixo,
mas deixar que ela prossiga, guiada por uma rigorosa metodologia
definida pelo criador. Isso abriria
a possibilidade de que, mesmo
quando o autor não estiver mais
presente, para dar instruções, seja
sua orientação que prevaleça."
Mais informações:
Guggenheim Museum (tel: 00/xx/1/
212/423-3840; fax: 00/xx/1/212/423-3787; e-mail: bennis@guggenheim.org)
e The Daniel Langlois Foundation (e-
mail: info@fondation-langlois.org)
Texto Anterior: Barbara Gancia: Só falta a Eliana arrumar um Mini Me Próximo Texto: Artistas devem escolher destino da obra Índice
|