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Artistas devem escolher destino da obra
DA REPORTAGEM LOCAL
Jon Ippolito, diretor da
Fundação Guggenheim, explica na entrevista abaixo
(por telefone, de Nova York)
como a "Variable Media Initiative" foi criada e de que
modo será possível preservar o trabalho de um artista
que não teve a possibilidade
de opinar sobre a posteridade. Para Ippolito, deixar
uma obra envelhecer até seu
desaparecimento é uma
idéia poeticamente bela, mas
"estúpida".
(MR)
Folha - Como a VMI nasceu?
Jon Ippolito - Nasceu de
uma sucessão de casos nos
quais curadores se defrontavam com "estados terminais" de envelhecimento da
obra de arte -como artistas
que trabalharam com látex,
que está agora virando pó-
e procuravam uma alternativa. A "Variable Media Initiative" nasceu desse contexto.
Folha - Como será possível
expandir o projeto?
Ippolito -No momento, sete instituições dedicadas à
preservação e exibição da
produção artística já estão
trabalhado conosco, e isso é
o que pode servir para aprimorar o projeto. Brevemente, um site estará na internet,
e nele haverá um modelo de
questionário, entre outras
informações.
Folha - Os artistas recebem
bem o questionário?
Ippolito - Talvez para os artistas mais jovens seja muito
difícil pensar em um legado.
Mas, para os que têm já uma
produção de anos, particularmente para os que possuem uma visão filosófica de
suas criações, é mais fácil entender a importância da preservação. Muitos podem decidir que suas obras não serão jamais recriadas. O que é
perfeito, desde que nos avisem disso. Nós pedimos para que os artistas escolham
uma possível flexibilidade.
Folha - Mas há artistas que
não tiveram tempo para escolher, como o alemão Joseph
Beuys, morto em 1986.
Ippolito - Beuys é um ótimo exemplo, porque ele nos
coloca duas questões: a primeira se refere a preservar o
material usado por ele. Mas
há uma outra pergunta.
Beuys realmente gostaria
que suas obras fossem transformadas em relíquias? Essa
escolha passa a ser uma discussão moral, a ser feita com
herdeiros e curadores. Com
Beuys é tarde demais, mas
mesmo nesses casos acreditamos ser possível uma solução. O que os artistas não tiveram até agora foi uma opção, e é isso que nós pretendemos dar a eles.
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