São Paulo, segunda-feira, 07 de outubro de 2002

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Artistas devem escolher destino da obra

DA REPORTAGEM LOCAL

Jon Ippolito, diretor da Fundação Guggenheim, explica na entrevista abaixo (por telefone, de Nova York) como a "Variable Media Initiative" foi criada e de que modo será possível preservar o trabalho de um artista que não teve a possibilidade de opinar sobre a posteridade. Para Ippolito, deixar uma obra envelhecer até seu desaparecimento é uma idéia poeticamente bela, mas "estúpida". (MR)

Folha - Como a VMI nasceu?
Jon Ippolito -
Nasceu de uma sucessão de casos nos quais curadores se defrontavam com "estados terminais" de envelhecimento da obra de arte -como artistas que trabalharam com látex, que está agora virando pó- e procuravam uma alternativa. A "Variable Media Initiative" nasceu desse contexto.

Folha - Como será possível expandir o projeto?
Ippolito -
No momento, sete instituições dedicadas à preservação e exibição da produção artística já estão trabalhado conosco, e isso é o que pode servir para aprimorar o projeto. Brevemente, um site estará na internet, e nele haverá um modelo de questionário, entre outras informações.

Folha - Os artistas recebem bem o questionário?
Ippolito -
Talvez para os artistas mais jovens seja muito difícil pensar em um legado. Mas, para os que têm já uma produção de anos, particularmente para os que possuem uma visão filosófica de suas criações, é mais fácil entender a importância da preservação. Muitos podem decidir que suas obras não serão jamais recriadas. O que é perfeito, desde que nos avisem disso. Nós pedimos para que os artistas escolham uma possível flexibilidade.

Folha - Mas há artistas que não tiveram tempo para escolher, como o alemão Joseph Beuys, morto em 1986.
Ippolito -
Beuys é um ótimo exemplo, porque ele nos coloca duas questões: a primeira se refere a preservar o material usado por ele. Mas há uma outra pergunta. Beuys realmente gostaria que suas obras fossem transformadas em relíquias? Essa escolha passa a ser uma discussão moral, a ser feita com herdeiros e curadores. Com Beuys é tarde demais, mas mesmo nesses casos acreditamos ser possível uma solução. O que os artistas não tiveram até agora foi uma opção, e é isso que nós pretendemos dar a eles.


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