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CINEMA
Festival dedica semana de outubro para a nova cinematografia do país com oito longas e quatro curtas recentes
Pelas telas, Austrália se aproxima de SP
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
A longínqua Austrália nunca esteve tão perto dos nossos olhos e
ouvidos. A 1ª Mostra de Cinema
Australiano apresentará em São
Paulo entre 10 e 17 de outubro oito
longas-metragens e quatro curtas
da recente produção de cinema
do país de "Mad Max".
A mostra, que será exibida no
Espaço Unibanco de Cinema, faz
parte do 3º Australia Festival, feira
anual coordenada pelo escritório
de comércio australiano em São
Paulo, abrangendo artesanato,
culinária, moda, música, dança,
turismo, esportes e negócios.
Virão da Austrália para o evento
a diretora de "Looking for Alibrandi", Kate Woods, e o astro do
rock Nick Barker, que atua no filme "Amy" e fará um show no
Grand Hyatt Hotel.
A Folha teve acesso exclusivo
aos filmes da mostra e o que viu
foi uma produção vigorosa e variada. De acordo com Sophia
McIntyre, vice-cônsul da Austrália encarregada da área da cultura
e programadora da mostra, a seleção teve três critérios objetivos
-produções recentes, desconhecidas no Brasil e bem recebidas
em festivais internacionais- e
um subjetivo: "Minhas próprias
idéias sobre quais filmes seriam
excitantes exibir no Brasil".
Dos oito longas, cinco têm como protagonistas crianças ou
adolescentes. "Acho que isso reflete a juventude e o dinamismo
da indústria cinematográfica australiana, bem como a importância
das novas gerações na nossa sociedade", diz McIntyre.
Um dos mais interessantes entre esses longas é "Looking for
Alibrandi", misto de "teen movie" e comédia dramática sobre a
integração de imigrantes italianos
na sociedade australiana.
A diretora Kate Woods disse à
Folha, por e-mail, que se inspirou
parcialmente nos filmes juvenis
de John Hughes, como "Curtindo
a Vida Adoidado", bem como em
"Patricinhas de Beverly Hills", este último por "seu uso da voz "off",
seu humor particular, seu frescor
e sua estrutura enxuta".
Mas o tom de "Alibrandi" é
mais crítico e inteligente, apresentando de quebra um retrato das
relações entre diferentes classes e
culturas na Austrália atual.
Analogamente, o drama criminal-carcerário "Chopper" faz
lembrar Scorsese, e a crônica da
violência urbana "Two Hands"
remete a Tarantino. Mas há sempre algo de oblíquo e desfocado
que, a par da ambientação e do
sotaque, lhes confere originalidade diante de seus modelos.
Do ponto de vista da informação sobre a cultura, a sociedade e
a paisagem australianas, a mostra
é um banquete. Há filmes ambientados em metrópoles como
Sydney ("Two Hands", "Alibrandi", "Mallboy") e Melbourne
("Chopper", "Amy"), no interior
provinciano ("The Dish") e no
território dos aborígenes ("Yolngu Boy"). Saltam aos olhos problemas sociais -desemprego, alcoolismo, criminalidade- e a
preocupação quase unânime com
os rumos da juventude.
McIntyre vê nisso um ponto de
confluência entre os cinemas australiano e brasileiro: "Ambos estão produzindo filmes sem medo
de mostrar o lado feio ou ameaçador da sociedade, como "Cidade
de Deus" e "Chopper'".
Segundo ela, são feitos cerca de
30 longas por ano na Austrália, todos com apoio da Australian Film
Commission, órgão estatal.
A diretora Kate Woods, que tem
"Central do Brasil" entre seus filmes favoritos, quer aproveitar a
vinda a São Paulo para conversar
com cineastas brasileiros. "Afinal,
compartilhamos a necessidade de
criar uma identidade própria, fora do padrão norte-americano."
1ª MOSTRA DE CINEMA
AUSTRALIANO. Quando: De 10 a 17 de
outubro. Onde: Espaço Unibanco (r.
Augusta, 1.470, tel. 0/xx/11/288-6780).
Quanto: R$ 6 (R$ 3 para estudantes).
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