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Cildo Meirelles mostra em SP seu conceito de escadas e escalas
DEGRAU A DEGRAU
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO
Uma escada em sua estrutura
essencial: duas barras paralelas
verticais unidas por uma série de
outras barras horizontais, menores e equidistantes, que formam
os degraus. Essa é a forma a partir
da qual o carioca Cildo Meirelles,
55, expoente da arte contemporânea brasileira e internacional,
concebeu os trabalhos que exibe,
a partir de hoje, na galeria Luisa
Strina, e a partir do dia 16 na mostra "Panorama", no Museu de Arte Moderna de São Paulo.
No ano passado, a convite de
Vicente Todoli, curador da Tate
Gallery, de Londres, Meirelles
participou do evento "Arte
All'Arte", que reuniu diversos artistas em cidades da região da
Toscana, na Itália. Seu projeto inicial, para a cidade de Siena, era
criar uma longuíssima escada que
se perderia de vista no céu. Ela seria feita com um material leve, desenvolvido pela Nasa, e ficaria
suspensa por um balão camuflado fixo. "Era um pouco utópico, o
material não estava disponível e
as autoridades aeronáuticas não
autorizariam", conta Meirelles.
Sendo assim, uma outra idéia
foi concebida. Uma escultura
composta por duas escadas de 40
metros cada uma. Uma delas seria
erguida verticalmente, acima da
superfície, e a outra ficaria enterrada no solo. O título: "Viagem ao
Centro do Céu e da Terra".
A tentativa de fazer a metade
subterrânea acabou dando em
água logo após os primeiros metros de perfuração -o que a inviabilizou. Ficou em Siena a escada que se ergue do chão, uma espécie de estrutura-matriz a partir
da qual o artista, em sucessivas
"desconstruções", produziu uma
série de 16 desenhos ferruginosos,
gravados quimicamente em chapas de aço carbono (50 cm x 50
cm), e 16 esculturas, também em
aço, com altura de três metros.
A primeira série é a exibida pela
galeria Luisa Strina. A segunda estará no MAM-SP. O título do trabalho, "Descala", é um jogo com a
palavra italiana "scala", que significa escada e também escala. De
certa forma o título condensa algumas das questões conceituais
da obra: a desconstrução da forma paradigmática inicial e sua
mudança de escala para as esculturas e gravuras. Ou melhor, "gravações", como Meirelles prefere,
uma vez que o que expõe são as
chapas e não impressões sobre
papel ou outra superfície.
Os trabalhos deverão proximamente ser mostrados em Nova
York, cidade que recebeu trabalhos do artista pela primeira vez
em 1970, quando o MoMA (Museu de Arte Moderna) mostrou
suas "Inserções nem Circuitos
Ideológicos" -garrafas de vidro
de Coca-Cola, daquelas que se devolviam para a compra de novas,
nas quais o artista escrevia mensagens antiimperialistas.
Ligado ao que se convencionou
chamar de "arte conceitual", Meirelles é um dos artistas brasileiros
mais conhecidos mundialmente
-com incontáveis participações
em eventos, galerias e instituições
de ponta do circuito internacional. Agora ele exibe a instalação
"Homeless Home" na Bienal de
Istambul (Turquia). Trata-se de
um banheiro, um quarto, uma sala e uma cozinha dispostos num
cruzamento de duas avenidas, cada qual em um canto, de modo
que o morador, para transitar de
um cômodo a outro da "casa",
precisa deixá-lo e atravessar a rua.
CILDO MEIRELLES. Onde: galeria Luisa
Strina (r. Oscar Freire, 502, SP, tel. 0/xx/
11/3088-2471). Quando: abertura hoje,
às 19h; de seg. a sex., das 10h às 19h;
sáb., das 10h às 17h; até 14/11. Grátis.
PANORAMA DA ARTE BRASILEIRA.
Onde: MAM (pq. Ibirapuera, s/nš, portão
3, SP, tel. 0/xx/11/5549-9688). Quando:
de 16/10 a 30/11. Quanto: R$ 5.
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