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DIVERSIDADE SEXUAL
A oitava edição do festival, que começa dia 9, apresenta 31 longas e 135 curtas, em 51 programas
Mix 2000 homenageia alemão pornô
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os amantes do cinema não vão
se sentir órfãos com o término da
Mostra de São Paulo, anteontem.
Na próxima quinta, tem início o
8º Mix Brasil, que eufemisticamente se chama Festival da Diversidade Sexual, mas é na verdade
um dos maiores festivais de cinema gay do mundo.
Neste ano, em dez dias, 31 longas e 135 curtas serão exibidos, divididos em 51 programas, seis a
mais que no ano passado. Um dos
destaques fica por conta da Retrospectiva, que homenageia o
alemão Wieland Speck, mais conhecido por ser o diretor do Panorama, a sessão que apresenta os
filmes mais badalados do Festival
de Berlim.
Foi por escolha de Speck que
"Um Copo de Cólera", de Aluizio
Abranches, e "O Primeiro Dia",
de Walter Salles e Daniela Thomas, tiveram suas estréias em
Berlim. Agora é a vez do alemão
estrear um filme no Brasil. Será
aqui o lançamento internacional
de "Fuga para a Vida" ("Escape to
Life"), nos dias 12 e 13, filme sobre
a vida dos filhos do escritor alemão Thomas Mann, Erika e
Klaus. De Wieland também serão
exibidos filmes pornográficos que
estimulam o sexo seguro.
Klaus é autor de "Mefisto - Romance de uma Carreira", livro
que retrata o pacto de um famoso
ator e diretor com o nazismo. A
história é baseada na vida real.
Sua inspiração foi Gustaf Gründgens, por quem era apaixonado,
mas que se casou com sua irmã.
Speck já esteve por aqui há dois
anos, mas ficou apenas trancado
vendo filmes numa cabine do Rio.
"Eu conheço mais as belezas do
Brasil por meio do cinema do que
pela vida real." Antes de chegar a
São Paulo, o diretor alemão concedeu a seguinte entrevista à Folha, por e-mail.
Folha - "Fuga para a Vida" é seu
primeiro longa após 15 anos. Por
que tanto tempo sem filmar?
Wieland Speck - Estou sentado
numa pilha de roteiros, mas, por
uma razão ou por outra, o sistema
de financiamento alemão não me
dá apoio. Por isso tenho de produzir meus próprios filmes sem
dinheiro público, algo quase impossível na Alemanha, onde tanto
o cinema como a TV só funcionam com recursos do Estado.
Folha- E por que a televisão não
lhe dá recursos?
Speck - Eles só querem patrocinar um ou dois filmes gays por
ano e eu não tenho intenção de
contar histórias heterossexuais...
Mas, entre os longas, eu consegui
fazer curtas e vídeos também.
Folha - E por que, então, a escolha
de filmar a vida de Erika e Klaus
Mann?
Speck - Os dois participaram de
um pequeno grupo de modernos
nos anos 20. Ambos cresceram no
mais moderno sistema político
europeu, a República de Weimar,
em que várias inovações foram
criadas e que só agora influenciam nosso cotidiano, como alimentação natural, escolas livres,
viagens pelo mundo, pensamento
pan-europeu, liberdade de expressão e uma primeira maneira
explícita de vida gay. Claro que
eles eram crianças ricas, parte de
uma elite intelectual, e usavam isso para chocar e provocar.
Folha - A relação entre os irmãos
era bastante controversa e, em seu
filme, isso é tratado de forma bastante eufemística. Por quê?
Speck - Olhar a simbólica relação desses dois artistas é uma boa
reflexão sobre nossa cultura. Basicamente, pode-se dizer que Klaus
tem muitas qualidades consideradas femininas, como ser sensitivo,
sensual, imaginativo, enquanto
Erika era quem tomava decisões,
sendo pragmática e descompromissada de todas as formas -ela
dirigia carros de corrida e escrevia
reportagens do front da Segunda
Guerra Mundial como um soldado americano. Ambos sofreram
muito com as investigações do
FBI nos EUA. Naturalmente, a
homossexualidade aberta de
Klaus foi usada contra ele -após
uma vida gay liberal na Alemanha
e na Europa, ele finalmente teve
de esconder sua opção na América livre! Os rumores da relação incestuosa também foram investigados lá, assim como os de serem
comunistas, o que mais tarde foi
usado pelo regime macartista para expulsar Erika dos EUA nos
anos 50. Se a parte controversa à
qual você se refere na pergunta é
sobre o incesto, não usei no filme
porque ela não é comprovada.
Folha - É verdade que seu vídeos
pornográficos de "safe sex", que
serão exibidos no festival, tiveram
enorme sucesso na Alemanha
Oriental?
Speck - Sim, porque foram os
primeiros vídeos pornográficos
que os alemães orientais viram!
Minha intenção era questionar a
indústria pornô, que até então divulgava sexo sem meios seguros,
quando já era certo que o único
meio de prevenção à Aids era a camisinha.
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