|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARQUITETURA
Niemeyer mostra seus museus em SP
SILVIO CIOFFI
Editor de Turismo
Oscar Niemeyer completou seis
décadas de arquitetura, neste ano
em que faz 90 de idade, construindo um romance e um livro de memórias ainda inéditos.
Mas seu trabalho, que começa
com desenhos delicados e se transforma em curvas líricas de concreto armado, não foi menos intenso.
O arquiteto concedeu esta entrevista dando retoques finais na exposição "Os Museus de Niemeyer" -que abre hoje para o público no Museu de Arte Moderna de
São Paulo- e se empenha na conclusão de diversos projetos.
Um deles é o de cercar o Museu
de Arte Moderna de Niterói (RJ)
com um caminho que levará seu
nome, construindo uma nova catedral. O outro é um projeto de
museu que gostaria de fazer no Eixo Monumental de Brasília, "antes que a cidade perca a unidade."
O SENTIDO DA VIDA - "Sempre
digo, para quem pergunta como é
fazer 60 anos de carreira (ou 90 de
idade), que o importante para
mim não é a arquitetura. O importante foi ter tido tempo para pensar na vida, nos amigos, na família,
dar um sentido mais humano para
a existência. A arquitetura não é
uma coisa importante, o importante é a vida, a gente olhar para o
céu e sentir que é pequenino -e
agir com uma certa modéstia."
OS MUSEUS E A IMAGINAÇÃO -
"O pessoal aqui de São Paulo me
convidou para fazer esse evento
'Os Museus de Oscar Niemeyer'.
Como é uma exposição só sobre
museus, resolvi fazer uma coisa
simples, com um desenho de 17
metros dando uma idéia da minha
arquitetura e cinco maquetes. O
escritor André Malraux dizia que
tinha na imaginação um 'museu
particular', onde guardava tudo o
que tinha gostado na vida. Sigo o
mesmo caminho: e isso é o natural.
Aqui nessa exposição, que coincidentemente é sobre museus reais,
é possível ver maquetes, como a do
museu de Caracas, que não foi
construído, a do MAM de Niterói
e, também, essa do museu que
gostaria de fazer em Brasília."
O MUSEU MAIS IMPORTANTE -
"No momento, o que mais me interessa é o museu de Brasília, destinado a completar o eixo Monumental, que precisa ter uma certa
unidade. Se esse projeto não for
feito, daqui uns anos haverá uma a
quebra da unidade -e quando falo em unidade me refiro a um grupo de edifícios que se correspondem. Em Brasília, o Eixo Monumental precisa dessa obra, mas
não sei se vou ter tempo para isso.
O calculista do projeto, José Carlos
Sussekind, diz que ele é o máximo
que se pode fazer hoje com o concreto armado. Concluído, seria
uma lição técnica, um exemplo do
que é possível fazer, pois tem balanços de 80 metros."
SP E O IBIRAPUERA - "Gostaria
de ter feito um teatro no Ibirapuera, mas isso passou. Não me queixo das coisas que não são feitas. Tive empenho em fazer o teatro, que
foi aprovado pelo Jânio Quadros.
Depois veio aquela conversa, o
Maluf disse que ia fazer... Na verdade, o parque, que é do início dos
anos 50, está desfigurado, perdeu a
monumentalidade, cada ponto é
tratado de uma maneira diferente.
A entrada tinha que ser única, para
justificar essa marquise grande e
protegida. Mas abriram diversas
entradas e a marquise ficou um
pouco sem sentido. Já o parque em
si deveria ficar o mais natural possível. Um parque em São Paulo
tem que ser um lugar para o sujeito
esquecer da cidade, ficar tranquilo, pensando nos seus problemas,
que são muitos. O teatro era ambicioso como solução, tinha um palco de 60 metros, uma cúpula que
corria, permitindo espetáculos ao
ar livre para 30 ou 40 mil pessoas."
CONSTRUIR UM ROMANCE -
"Nem sei se publico o 'Diante do
Nada', livro que escrevi. O que vou
publicar agora é o meu livro de
memórias, que deve sair pela editora Gallimard, de Paris, e, ao
mesmo tempo, no Rio, pela Revan. Na Unesco, também em Paris, vai haver uma exposição minha em março, quando os livros
vão ser apresentados."
MEMÓRIAS -"Minha vida é uma
vida banal, como todas as outras.
Cada um tem seus problemas, suas
fraquezas e entusiasmos -e procurei contar isso no livro de memórias. É o relato de alguém que
viveu, gostou da vida, riu e chorou
quando foi preciso."
FAZER 90 ANOS - "Fazer 90
anos é uma merda! Estou é fazendo 60 anos de arquitetura. Comecei a trabalhar em 1936, 37, mas foi
a Pampulha, de 1942-43, que considero minha primeira obra importante. Daí segui o meu caminho, à procura da beleza, mas resolvendo o problema arquitetural.
No Brasil, país capitalista, muitas
vezes os projetos não têm grande
interesse social. Mas se a arquitetura é bonita, a população participa disso e a beleza prevalece."
BRASÍLIA - "Trabalhar na construção de Brasília foi uma aventura. Chegar numa terra hostil, sem
estrada, viver num barracão de
zinco... E lá fizemos todos aqueles
palácios! Isso tudo nos obrigou a
deixar as coisas de lado."
FAZER UMA CATEDRAL - "O
caminho para o museu de Niterói
está pronto para fazer. A nova catedral é um projeto que parece estruturalmente complicado, mas
não é. São apenas dois elementos.
Tem uma parede de concreto de 50
metros que sobe em curva e encontra outra. Não tem coluna, não
tem nada. Isso é o que a gente tenta
fazer quando o projeto é ambicioso, eliminando montantes, chegando à solução mais pura que o
concreto armado permite."
A ARQUITETURA E A VIDA - "O
que marcou a arquitetura não foi a
pequena construção -e como
elas são bonitas na Grécia! Foram
os grandes templos, as catedrais,
que obrigaram a técnica a evoluir,
marcando o mundo com o espetáculo arquitetural. Não acredito em
nada ligado à religião, mas, como
disse, acho que olhar o céu ajuda o
homem a abandonar suas pretensões de força, de poder. Espero que
no futuro haja paz, que as pessoas
olhem os mais pobres e que todos
se abracem, solidários, já que estamos todos na mesma viagem."
Exposição: Os Museus de Oscar Niemeyer
Quando: de hoje até 21 de dezembro
Onde: Museu de Arte Moderna (SP), no
portão 3 do parque Ibirapuera
Informações: (011) 549-9688
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|