São Paulo, sexta-feira, 07 de dezembro de 2001

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CINEMA/ESTRÉIA

"URBANIA"

Cineasta estréia em longas com mescla de documentário e ficção

Filme expõe decadência do centro paulistano

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele não mandou ladrilhar, mas tentou tratar as ruas de São Paulo como se fossem suas. O cineasta Flávio Frederico, 32, faz sua estréia em longas-metragens com "Urbania", um "road movie" ambientado no centro paulistano, que será exibido a partir de hoje, em salas do Rio e de São Paulo.
Na última terça, o filme teve projeção ao ar livre no Largo do Arouche, endereço privilegiado das locações e ponto de encontro da equipe durante as filmagens, ocorridas em 99.
"O Arouche, com seus elementos atuais e com o que preserva de outras décadas, é uma síntese do passado aristocrático do centro da cidade e da sua atual decadência. Sempre pensei em mostrar o filme ao ar livre e lá me pareceu o melhor lugar", diz o diretor.
Mescla de ficção e documentário, "Urbania" traz os personagens Edmundo (Turíbio Ruiz) -um homem na casa dos 70, que retorna a São Paulo depois de quase 20 anos de ausência- e Zé Carlos (Adriano Stuart) -o quarentão que lhe serve de motorista- num giro a bordo de um Dodge por prédios decadentes, cinemas transformados em casas de strip e ruas em que ex-internos de casas de recuperação de menores tentam ganhar a vida como guardadores de carro.
"O filme tem um rumo decadente e triste, mas foram as ruas que me levaram a ele. É depressivo, mas não depreciativo. Amo São Paulo e não tenho vontade de morar em nenhum outro lugar", diz o cineasta, nascido no Rio.
Originalmente formulado como um projeto de documentário em curta-metragem, "Urbania" cresceu em formato (foi concluído com 70 minutos) e teve sua linguagem redirecionada. "Achei que só o formato documentário ia ser pobre para minha estrutura de linguagem. E me interessei cada vez mais pela união do documentário com a ficção", diz Frederico.
Promover as transições entre a narrativa documental e a ficcional foi o que mais atraiu o diretor em todo o trabalho. "Achar esse limite é muito recompensador. Foi o que me fez ser teimoso e levar o filme até o fim", diz.
"Urbania", feito com R$ 300 mil, foi captado em vídeo e super 16 mm e finalizado em 35 mm; esteve em festivais e ganhou o Kikito de melhor fotografia (Jacques Cheuiche) em Gramado e o título de melhor filme documental na Jornada de Cinema da Bahia.
Atualmente Frederico finaliza o curta-metragem "O Fusca" -"Gosto mesmo de carros. Mas é também um trocadilho com o verbo ofuscar", diz- e prepara o longa "Vida Dupla", uma ficção que deve tratar do cotidiano de pessoas que moram num edifício de classe média alta em São Paulo.



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