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CINEMA/ESTRÉIA
"URBANIA"
Cineasta estréia em longas com mescla de documentário e ficção
Filme expõe decadência do centro paulistano
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele não mandou ladrilhar, mas
tentou tratar as ruas de São Paulo
como se fossem suas. O cineasta
Flávio Frederico, 32, faz sua estréia em longas-metragens com
"Urbania", um "road movie" ambientado no centro paulistano,
que será exibido a partir de hoje,
em salas do Rio e de São Paulo.
Na última terça, o filme teve
projeção ao ar livre no Largo do
Arouche, endereço privilegiado
das locações e ponto de encontro
da equipe durante as filmagens,
ocorridas em 99.
"O Arouche, com seus elementos atuais e com o que preserva de
outras décadas, é uma síntese do
passado aristocrático do centro
da cidade e da sua atual decadência. Sempre pensei em mostrar o
filme ao ar livre e lá me pareceu o
melhor lugar", diz o diretor.
Mescla de ficção e documentário, "Urbania" traz os personagens Edmundo (Turíbio Ruiz)
-um homem na casa dos 70, que
retorna a São Paulo depois de
quase 20 anos de ausência- e Zé
Carlos (Adriano Stuart) -o quarentão que lhe serve de motorista- num giro a bordo de um
Dodge por prédios decadentes, cinemas transformados em casas
de strip e ruas em que ex-internos
de casas de recuperação de menores tentam ganhar a vida como
guardadores de carro.
"O filme tem um rumo decadente e triste, mas foram as ruas
que me levaram a ele. É depressivo, mas não depreciativo. Amo
São Paulo e não tenho vontade de
morar em nenhum outro lugar",
diz o cineasta, nascido no Rio.
Originalmente formulado como um projeto de documentário
em curta-metragem, "Urbania"
cresceu em formato (foi concluído com 70 minutos) e teve sua linguagem redirecionada. "Achei
que só o formato documentário ia
ser pobre para minha estrutura de
linguagem. E me interessei cada
vez mais pela união do documentário com a ficção", diz Frederico.
Promover as transições entre a
narrativa documental e a ficcional
foi o que mais atraiu o diretor em
todo o trabalho. "Achar esse limite é muito recompensador. Foi o
que me fez ser teimoso e levar o
filme até o fim", diz.
"Urbania", feito com R$ 300
mil, foi captado em vídeo e super
16 mm e finalizado em 35 mm; esteve em festivais e ganhou o Kikito de melhor fotografia (Jacques
Cheuiche) em Gramado e o título
de melhor filme documental na
Jornada de Cinema da Bahia.
Atualmente Frederico finaliza o
curta-metragem "O Fusca"
-"Gosto mesmo de carros. Mas
é também um trocadilho com o
verbo ofuscar", diz- e prepara o
longa "Vida Dupla", uma ficção
que deve tratar do cotidiano de
pessoas que moram num edifício
de classe média alta em São Paulo.
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