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MÚSICA
Philip Glass avança no pop com `Heroes'
Eder Chiodetto/ Folha Imagem
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O músico norte-americano Philip Glass
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MARCELO REZENDE
da Reportagem Local
Depois de uma década vivendo a
crença da música dos mínimos elementos que se repetem, o minimalismo, o norte-americano Philip
Glass, 60, continua em seu projeto
de resgatar o ``frescor'' para os
eruditos. E sua fonte é, mais uma
vez, a melodia dos músicos pop
Brian Eno e David Bowie.
Em férias no Brasil -para terminar de escrever uma nova ópera-
Glass acaba de lançar ``Heroes
Symphony'', segundo trabalho baseado em três discos que Bowie
gravou em Berlim nos anos 70,
com produção de Eno.
Glass já havia feito o mesmo com
``Low'', em 1993. Resta ``Lodger'',
ainda sem qualquer previsão de
lançamento. Leia abaixo trechos
da entrevista que o compositor
concedeu à Folha.
Folha - O que o sr. descobriu em
Brian Eno e David Bowie que nunca encontrou na tradição da música erudita?
Philip Glass - O que me interessa neles é que ambos têm origem
na tradição da música popular.
Tentam trabalhar com outras formas, tentam nos apresentar alguma coisa de novo. E acho que a
música que eles fazem...
Bem, provavelmente eles não
conseguem ler partituras, não têm
uma formação voltada para isso,
mas são capazes de entender a melodia e produzem algo com um extremo frescor. Isso porque não tiveram formação em conservatórios.
Os dois são pessoas muito inteligentes e conhecem muito sobre
música e arte. São pessoas muito
inventivas. Isso foi o que me interessou na música dos dois. O desejo de ter alguma coisa nova nas
mãos.
Folha - É necessário a mistura
com o popular para conseguir o
frescor?
Glass - Eu, pessoalmente, não
preciso disso. Tenho muitos projetos a fazer. Quando ouvi a música
de ``Heroes'' pela primeira vez, em
1978 ou 1979, pensei que estava
diante de uma música muito original, muito forte.
Imaginei que talvez pudesse fazer alguma coisa com aquelas canções, porque achei que podia conduzir aquelas melodias para algum
lugar que eles não tinham conseguido chegar. Eles vinham de outra escola. Vinham de uma outra
história.
Pensei que poderia ser interessante mostrar a eles algumas coisas que eu já sabia, porque, na verdade, a música de Eno e Bowie não
necessita de reparos, pois já é bela.
Mas fiquei muito curioso com o
que poderia surgir se eu acrescentasse uma outra visão.
Folha - Os novos eruditos parecem estar mais voltados à opera.
Glass - Em termos da ópera,
acho que o interesse sempre ocorreu. Acho que a grande razão desses compositores estarem escrevendo óperas agora é porque ela é
popular. Ópera sempre foi um
meio mais propício para incorporar elementos da cultura da diversão, pois sempre foi também um
tipo de show, de Verdi a Mozart. E
acho que isso acontece ainda hoje.
Folha - O sr. não se interessa
mais pelo minimalismo?
Glass - Eu não estou mais interessado nisso. Tudo aconteceu entre 1969 e 1979. Havia uns 20 compositores. E o que estávamos tentando fazer naquele período era
reformar a linguagem da música
moderna.
Então nós começamos a seguir
caminhos diferentes. Eu comecei a
me envolver com trilhas e óperas.
Outras pessoas continuaram fiéis
ao movimento. Outras realizaram
trabalhos mais lacônicos. As pessoas que originalmente pertenciam ao movimento partiram em
diferentes direções.
Mas a contribuição que dei para
a ópera pode ter sido única, porque vim do movimento minimalista. Com os anos, eu me interessei mais pelo canto. Isso talvez explique a minha aproximação com
o trabalho de Bowie e Eno.
Folha - O sr. tomou distância dos
compositores Steve Reich ou John
Adams, os minimalistas que estiveram ao seu lado?
Glass - Eu encontro John algumas vezes e ainda sei o que anda
produzindo. Conheço muito bem
a música que ele faz. Não é necessário para mim escutá-lo com frequência.
Quando ouço música, eu estou
mais interessado no trabalho de
jovens compositores. Por isso gravo trabalhos dos novos no selo
Point Music. Pessoas como Gavin
Bryars. Eu não estou interessado
em quem faz música parecida com
a minha. Estou interessado em
quem consiga produzir alguma
coisa de nova e diferente.
Folha - Point Music é um de seus
grandes projetos?
Glass - Eu me tornei um parceiro comercial da Polygram. Assim
eu posso fazer os discos que quero
e como quero.
Folha - Mas estamos em momento que alguns compositores preferem a tradição no lugar do ``novo'',
como o estoniano Arvo Pärt.
Glass - Eu gosto dele, mas ele
vem de um mundo diferente. Penso que os compositores europeus
têm mais problemas com a sua
própria história. Na América, não
estamos presos à tradição e podemos ser mais livres com o nosso
trabalho.
Os europeus enfrentam mais dificuldades. O tempo para a música
experimental está realmente terminado. Não estou muito certo do
que poderá ser escrito agora. Talvez o mais importante seja desenvolver um estilo pessoal e a integridade em sua música. Se você descobre a integridade não importa
mais se o que faz é ou não parte da
vanguarda.
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