EDSON FRANCO
da Reportagem Local

A inversão de valores impera no CD "Shadow Man". O nome em destaque na capa é de Mick Taylor, ex-guitarrista dos Rolling Stones, mas quem lidera o trabalho e responde pelas composições é o vocalista austríaco Sasha Gracanin.
E o melhor caminho para explorar o disco também é invertido, pois o acabamento -parte na qual o ex-Stone está inserido- é mais interessante que o alicerce.
Baseado numa mistura de blues, soul e rhythm'n blues, o repertório do disco lembra por vezes os irlandeses do Commitments, com naipe de metais bem entrosado, um trio vocal de fundo formado por cantoras negras e arranjos que privilegiam o lado orquestral.
Taylor consegue dar um pouco de graça à chatíssima balada "Shattered". Tocando slide -aparato de metal que simula o som de uma guitarra havaiana-, ele mergulha essa faixa numa atmosfera setentista.
Com peso e imaginação no fraseado, Taylor faz de "Don't Cry Little Woman" a melhor faixa do trabalho.
O único bom momento que não depende da guitarra de Taylor é a releitura de "Honk Tonk Women", clássico dos Stones. Coube ao baixista T.M. Stevens e ao baterista Steve Perrone transformar esse rock em um funk dançante.
Apresentado os acessórios, vamos ao essencial e mais aparente no trabalho: as composições e o canto de Sasha Gracanin.
Cheias de boas intensões, suas composições são de uma inocuidade melódica exemplar. Entre todas as faixas do trabalho, só "Honk Tonk Women" -a única que não foi composta por ele- fica na memória.
Apesar de abordar um repertório calcado na tradição musical negra, ele canta na linha dos vocalistas brancos de rock, ou seja, sua voz gutural tem caráter cosmético. Não é produto de uma visceralidade sincera. Ser coadjuvante no trabalho de um músico desses é triste para quem já foi um Stone.

Disco: Shadow Man
Autores: Mick Taylor e Sasha Gracanin
Lançamento: Eldorado
Preço: R$ 18, em média


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