São Paulo, sexta-feira, 08 de fevereiro de 2008

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Crítica/"Cloverfield - Monstro"

Registro contemporâneo e olhar "amador" fazem longa superar o mero marketing

DO CRÍTICO DA FOLHA

Um encontro da "Bruxa de Blair" com "Godzilla". A fórmula contém o conceito que o produtor J.J. Abrams (criador de "Lost") concebeu e depois deixou por conta da internet e seu insuperável marketing viral transformarem em fenômeno. De fato, "Cloverfield - Monstro" parte do princípio que o pseudodocumentário "A Bruxa de Blair" explorou com ótimos resultados em 1999. À diferença, contudo, da produção de baixíssimo orçamento da dupla Daniel Myrick e Eduardo Sánchez, "Cloverfield" é um blockbuster carregado de efeitos especiais de tirar o fôlego.
A esperteza de Abrams, associado ao diretor Matt Reeves, foi calcular que efeitos por si só já não bastam. A dupla, então, mudou o ponto de vista da ação. O que sempre costumamos ver nos filmes de monstros ou nos de catástrofe é a ação de um ponto de vista geral. Neles, o que se mostra é quase sempre a magnitude dos efeitos, a destruição em larga escala. Já em "Cloverfield", a idéia predominante é encenar o ataque de um bichão na perspectiva humana.
Para estabelecer a identificação do espectador com um personagem ou situação o cinema recorreu, desde cedo, à câmera subjetiva, modo pelo qual faz coincidir aquilo que acontece na ficção com o que sentimos por intermédio da visão. O mesmo princípio encontra-se na estrutura dos games, que coloca o jogador numa posição que favorece a impressão de participar da ação e, assim, interagir com ela. Em "Cloverfield", o ponto de vista que coincide é, sim, o de um personagem, mas é, sobretudo, o da câmera, verdadeira protagonista do longa.
O que está em jogo aqui é menos a identificação do nosso olhar com o de um personagem e mais a impressão permanente de um "efeito de real" proporcionado pela imagem que a câmera registra. Para isso, "Cloverfield" adotou um dispositivo coerente com seu conceito. O filme inteiro é narrado como um vídeo amador, ao modo dos milhares de registros pessoais que pululam no YouTube. Em seus momentos mais assombrosos, assemelha-se a um testemunho gravado do 11 de Setembro.
A estratégia, obviamente, é seduzir o público jovem, já acostumado à estética instável e ao registro cambaleante dos vídeos domésticos. O filme, contudo, ganha interesse enquanto signo da contemporaneidade, feita ao mesmo tempo de acelerada virtualização e de busca obsessiva de realismo, de dissolução do peso da realidade e de necessidade de capturar o que acontece como forma de nos assegurarmos de sua existência. (CSC)


CLOVERFIELD - MONSTRO
Produção:
EUA, 2008
Direção: Matt Reeves
Com: Lizzy Caplan, Mike Vogel
Onde: a partir de hoje nos cines Bristol, Iguatemi Cinemark e circuito
Avaliação: bom


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