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ANÁLISE
Tom discreto faz "Big Brother" persistir
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Em sintonia com os tempos
de favorecimento das quotas,
a quarta edição do "Big Brother
Brasil" terminou com a vitória de
Cida -a babá que entrou por
sorteio, sem preparação prévia,
depois do início do programa.
Contrariando os prognósticos,
a versão tupiniquim do jogo que,
a partir de sua origem holandesa,
escandalizou a TV mundial, manteve bons índices de audiência.
Sua persistência vem da fórmula relativamente discreta -sem
cenas escatológicas ou de sexo explícito- que o formato assumiu.
O "BBB" pode ser definido como uma gincana onde jovens alunos, bonitos, saudáveis e aplicados -selecionados entre milhares de candidatos e julgados por
milhares de telespectadores-
aprendem com mestre Bial a se
comportar diante das câmeras.
No caso do "BBB 4" o apelo dessa espécie peculiar de ritual de
passagem veio em larga medida
da ativa interferência da edição de
Fernanda Scalzo, que conferiu
um ritmo ágil, com auxílio de recursos gráficos e eletrônicos.
Dessa vez a participação do público ficou restrita, deixando
transparecer um tom oficial. Como sempre, os familiares uniformizados apareceram. O pessoal
de Mangaratiba e São Gonçalo, cidades dos finalistas, mostrou sua
solidariedade em praça pública.
Mas não sabemos exatamente
quantos votaram em quem. Não
seguimos a progressão dos números, nem ouvimos a voz de espectadores. A atração está na conciliação que o programa promoveu.
O suspense veio do drama, alinhavado em tom de novela, sobre
os recortes de classe que dividem
a sociedade brasileira.
Houve algum barraco. Ouvimos erros gramaticais, convencionais no dia-a-dia, mas que os
microfones costumam ignorar.
Mas o conflito foi contido.
Vimos Juliana ser surpreendentemente eliminada no domingo,
com um discurso que salientou
sua transformação ao longo da
história, em prol da cidadania.
Presenciamos afinal um constrangedor arremedo de compensação simbólica dos subalternos,
no tom pedagógico corrente. É
possível pensar gincanas mais
contundentes.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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