São Paulo, quinta-feira, 08 de abril de 2004

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ANÁLISE

Tom discreto faz "Big Brother" persistir

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em sintonia com os tempos de favorecimento das quotas, a quarta edição do "Big Brother Brasil" terminou com a vitória de Cida -a babá que entrou por sorteio, sem preparação prévia, depois do início do programa.
Contrariando os prognósticos, a versão tupiniquim do jogo que, a partir de sua origem holandesa, escandalizou a TV mundial, manteve bons índices de audiência.
Sua persistência vem da fórmula relativamente discreta -sem cenas escatológicas ou de sexo explícito- que o formato assumiu.
O "BBB" pode ser definido como uma gincana onde jovens alunos, bonitos, saudáveis e aplicados -selecionados entre milhares de candidatos e julgados por milhares de telespectadores- aprendem com mestre Bial a se comportar diante das câmeras.
No caso do "BBB 4" o apelo dessa espécie peculiar de ritual de passagem veio em larga medida da ativa interferência da edição de Fernanda Scalzo, que conferiu um ritmo ágil, com auxílio de recursos gráficos e eletrônicos.
Dessa vez a participação do público ficou restrita, deixando transparecer um tom oficial. Como sempre, os familiares uniformizados apareceram. O pessoal de Mangaratiba e São Gonçalo, cidades dos finalistas, mostrou sua solidariedade em praça pública.
Mas não sabemos exatamente quantos votaram em quem. Não seguimos a progressão dos números, nem ouvimos a voz de espectadores. A atração está na conciliação que o programa promoveu.
O suspense veio do drama, alinhavado em tom de novela, sobre os recortes de classe que dividem a sociedade brasileira.
Houve algum barraco. Ouvimos erros gramaticais, convencionais no dia-a-dia, mas que os microfones costumam ignorar. Mas o conflito foi contido.
Vimos Juliana ser surpreendentemente eliminada no domingo, com um discurso que salientou sua transformação ao longo da história, em prol da cidadania.
Presenciamos afinal um constrangedor arremedo de compensação simbólica dos subalternos, no tom pedagógico corrente. É possível pensar gincanas mais contundentes.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP

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