São Paulo, segunda-feira, 08 de maio de 2000


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CANÇÃO DE PROTESTO

"Tô vendo tudo, tô vendo tudo/ Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo
Um país que crianças elimina/ Que não ouve o clamor dos esquecidos/ Onde nunca os humildes são ouvidos/ E uma elite sem deus é quem domina/ Que permite um estupro em cada esquina/ E a certeza da dúvida infeliz/ Onde quem tem razão baixa a cerviz/ E massacram-se o negro e a mulher/ Pode ser o país de quem quiser/ Mas não é, com certeza, o meu país
Um país onde as leis são descartáveis/ Por ausência de códigos corretos/ Com 40 milhões de analfabetos/ E maior multidão de miseráveis/ Um país onde os homens confiáveis/ Não têm voz, não têm vez, nem diretriz/ Mas corruptos têm voz e vez e bis/ E o respaldo de estímulo incomum/ Pode ser o país de qualquer um/ Mas não é, com certeza, o meu país
Um país que perdeu a identidade/ Sepultou o idioma português/ Aprendeu a falar pornofonês/ Aderindo à global vulgaridade/ Um país que não tem capacidade/ De saber o que pensa e o que diz/ Que não pode esconder a cicatriz/ De um povo de bem que vive mal/ Pode ser o país do Carnaval/ Mas não é, com certeza, o meu país
Um país que seus índios discrimina/ E as ciências e as artes não respeita/ Um país que ainda morre de maleita/ Por atraso geral da medicina/ Um país onde escola não ensina/ E hospital não dispõe de raios x/ Onde a gente dos morros é feliz/ Se tem água de chuva e luz do Sol/ Pode ser o país do futebol/ Mas não é, com certeza, o meu país
Um país que é doente e não se cura/ Quer ficar sempre no Terceiro Mundo/ Que do poço fatal chegou ao fundo/ Sem saber emergir da noite escura/ Um país que engoliu a compostura/ Atendendo a políticos sutis/ Que dividem o Brasil em mil brasis/ Pra melhor assaltar de ponta a ponta/ Pode ser o país do faz-de-conta/ Mas não é, com certeza, o meu país"


Letra de "O Meu País", de Livardo Alves, Orlando Tejo e Gilvan Chaves




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