São Paulo, segunda-feira, 08 de maio de 2000


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MÚSICA ERUDITA
Maestro inglês rege o The English Concert entre os dias 22 e 24 na Sociedade de Cultura Artística
Trevor Pinnock traz seu barroco a SP

JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local

O musicólogo e maestro inglês Trevor Pinnock, 53, estará se apresentando entre os dias 22 e 24, em São Paulo, na temporada da Sociedade de Cultura Artística.
Estará regendo The English Concert, conjunto especializado em música barroca que criou em 1973 e com o qual gravou mais de 70 discos, ganhou prêmios e sobretudo a reputação de estar entre os melhores do gênero.
Eis sua entrevista à Folha, dada de Londres, por telefone.

Folha - Pesquisa-se desde os anos 50 sobre a interpretação da música barroca com instrumentos e afinação de época. Há ainda algo a ser descoberto?
Trevor Pinnock -
Em música há sempre aspectos inéditos. De certo modo, para o bom intérprete cada nova interpretação é uma nova viagem de descobertas. É o renovado aprendizado.

Folha - E quando, em lugar da ótica do músico, enxergamos o conjunto de conhecimentos para uma boa interpretação?
Pinnock -
Nos 25 anos em que tenho trabalhado nesse gênero, os instrumentos musicais se tornaram, para os músicos, "aparelhos" bastante naturais de expressão. De início eles eram como feras atemorizantes. São hoje carinhosos animais domésticos.

Folha - Imaginemos que Johann Sebastian Bach ressuscite por algumas horas e assista em São Paulo à leitura que The English Concert fará de um dos "Concertos de Brandemburgo". Ele ficaria surpreso?
Pinnock -
Ele provavelmente se surpreenderia com a modernidade do teatro, com o número de pessoas na platéia e talvez com o fato de tantos anos depois ainda executarmos sua música. Mas eu espero que ele se convença imediatamente de que os músicos que o interpretam o fazem com fidelidade à linguagem que ele empregava no século 18. Estaríamos afinados com o espírito de sua obra e não necessariamente com as técnicas de interpretação de seus contemporâneos, porque isso é algo que ao certo ninguém saberá.

Folha - O sr. tem regido, com grandes orquestras sinfônicas, peças exemplares do romantismo. Até que ponto seu conhecimento sobre o barroco o auxilia a encontrar uma interpretação mais correta que a de outros regentes, que se originam do repertório do século 20?
Pinnock -
É uma pergunta difícil de responder. Nós, músicos, temos sempre um passado marcado pelo aprendizado. Meu conhecimento da música antiga permitiria uma visão diferenciada daquela de alguém cujo aprendizado tivesse ocorrido com o repertório contemporâneo. Talvez o que conte não seja a origem, mas a abertura de espírito para se encontrar formas originais de interpretação.

Folha - É uma questão de conhecimento do intérprete?
Pinnock -
Sim, mas não apenas isso. Interpretar não é apenas o produto do conhecimento. É também uma dádiva espiritual que possuímos, algo que não se pode traduzir racionalmente.

Folha - O mercado da música erudita tem sofrido uma retração sensível, sobretudo depois de 1996. The English Concert também tem sido afetado?
Pinnock -
Essa crise nos atingiu também, forçando-nos a nos adaptar. Grava-se menos, o que significa menos recursos.

Folha - Isso teria sido também provocado, no Reino Unido, pelo corte dos subsídios, praticados pelos gabinetes do Partido Conservador?
Pinnock -
Não dependemos nunca de subsídios. Para nós já é um milagre termos sobrevivido. Mas há sempre novas dificuldades. A mais recente é a alta cotação da libra esterlina no mercado de câmbio, o que torna os músicos ingleses muito mais caros ao se apresentarem na Europa continental, na zona do euro.

Folha - O sr. se tornou conhecido como cravista. Por que o "boom" da música antiga não permitiu um interesse maior por esse instrumento?
Pinnock -
Há excelentes cravistas que formaram boas gerações de intérpretes. É verdade que somos poucos. Mas é hoje menos difícil que há 20 anos contratar um bom cravista para uma récita.


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