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MÚSICA ERUDITA
Maestro inglês rege o The English Concert entre os dias 22 e 24 na Sociedade de Cultura Artística
Trevor Pinnock traz seu barroco a SP
JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local
O musicólogo e maestro inglês
Trevor Pinnock, 53, estará se
apresentando entre os dias 22 e
24, em São Paulo, na temporada
da Sociedade de Cultura Artística.
Estará regendo The English
Concert, conjunto especializado
em música barroca que criou em
1973 e com o qual gravou mais de
70 discos, ganhou prêmios e sobretudo a reputação de estar entre
os melhores do gênero.
Eis sua entrevista à Folha, dada
de Londres, por telefone.
Folha - Pesquisa-se desde os
anos 50 sobre a interpretação
da música barroca com instrumentos e afinação de época. Há
ainda algo a ser descoberto?
Trevor Pinnock - Em música há
sempre aspectos inéditos. De certo modo, para o bom intérprete
cada nova interpretação é uma
nova viagem de descobertas. É o
renovado aprendizado.
Folha - E quando, em lugar da
ótica do músico, enxergamos o
conjunto de conhecimentos para uma boa interpretação?
Pinnock - Nos 25 anos em que
tenho trabalhado nesse gênero, os
instrumentos musicais se tornaram, para os músicos, "aparelhos" bastante naturais de expressão. De início eles eram como feras atemorizantes. São hoje carinhosos animais domésticos.
Folha - Imaginemos que Johann Sebastian Bach ressuscite
por algumas horas e assista em
São Paulo à leitura que The English Concert fará de um dos
"Concertos de Brandemburgo".
Ele ficaria surpreso?
Pinnock - Ele provavelmente se
surpreenderia com a modernidade do teatro, com o número de
pessoas na platéia e talvez com o
fato de tantos anos depois ainda
executarmos sua música. Mas eu
espero que ele se convença imediatamente de que os músicos
que o interpretam o fazem com fidelidade à linguagem que ele empregava no século 18. Estaríamos
afinados com o espírito de sua
obra e não necessariamente com
as técnicas de interpretação de
seus contemporâneos, porque isso é algo que ao certo ninguém saberá.
Folha - O sr. tem regido, com
grandes orquestras sinfônicas,
peças exemplares do romantismo. Até que ponto seu conhecimento sobre o barroco o auxilia
a encontrar uma interpretação
mais correta que a de outros regentes, que se originam do repertório do século 20?
Pinnock - É uma pergunta difícil
de responder. Nós, músicos, temos sempre um passado marcado pelo aprendizado. Meu conhecimento da música antiga permitiria uma visão diferenciada daquela de alguém cujo aprendizado tivesse ocorrido com o repertório contemporâneo. Talvez o
que conte não seja a origem, mas
a abertura de espírito para se encontrar formas originais de interpretação.
Folha - É uma questão de conhecimento do intérprete?
Pinnock - Sim, mas não apenas
isso. Interpretar não é apenas o
produto do conhecimento. É
também uma dádiva espiritual
que possuímos, algo que não se
pode traduzir racionalmente.
Folha - O mercado da música
erudita tem sofrido uma retração sensível, sobretudo depois
de 1996. The English Concert
também tem sido afetado?
Pinnock - Essa crise nos atingiu
também, forçando-nos a nos
adaptar. Grava-se menos, o que
significa menos recursos.
Folha - Isso teria sido também
provocado, no Reino Unido, pelo corte dos subsídios, praticados pelos gabinetes do Partido
Conservador?
Pinnock - Não dependemos
nunca de subsídios. Para nós já é
um milagre termos sobrevivido.
Mas há sempre novas dificuldades. A mais recente é a alta cotação da libra esterlina no mercado
de câmbio, o que torna os músicos ingleses muito mais caros ao
se apresentarem na Europa continental, na zona do euro.
Folha - O sr. se tornou conhecido como cravista. Por que o
"boom" da música antiga não
permitiu um interesse maior por
esse instrumento?
Pinnock - Há excelentes cravistas que formaram boas gerações
de intérpretes. É verdade que somos poucos. Mas é hoje menos
difícil que há 20 anos contratar
um bom cravista para uma récita.
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