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São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2003

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"XXX"

Grupo Fura dels Baus choca com Sade

NAIEF HADDAD
EM LONDRES

"Um glorioso show pornô", cravou o tradicional jornal inglês "Daily Telegraph" sobre "XXX", espetáculo do consagrado e polêmico grupo catalão La Fura dels Baus, que estreou há duas semanas em Londres.
Fundada em 1979, a companhia é conhecida por um teatro ousado que subverte o espaço cênico e dá primazia ao ator-autor, no que ficou conhecido como "linguaje furero". Uma das atrações do extenso circuito "off" da capital britânica, "XXX" leva ao palco do Riverside Studios quatro atores -dois homens e duas mulheres, nus na maior parte do tempo- para uma adaptação de "A Filosofia da Alcova", texto de 1795 do francês Marquês de Sade.
Na peça dirigida por Alex Ollé e Carlos Padrissa, Eugénie, uma jovenzinha de supostos 18 anos, é atraída por um anúncio para a seleção de elenco de um filme. Chegando na produtora, ela é dominada por aqueles que acabam se tornando seus tutores sexuais.
Daí em diante, a imaginação de Sade se instala no palco nas mais variadas (e bem simuladas, diga-se) cenas de sexo. Uma das últimas lições dos tutores resulta num banho de espaguete, chocolate e outras iguarias em meio às carícias.
Na noite de estréia, algumas pessoas protestavam na porta do teatro contra a "indecência" do espetáculo. Nos jornais, a discussão é se a pornografia não teria se sobreposto à arte ou se as cenas de sexo são reais ou simuladas. O tablóide "Evening Standard", por exemplo, questionou em manchete: "Esse show espanhol de sexo é adequado para os palcos londrinos?".
A imprensa inglesa torce o nariz, mas o fato é que há méritos em "XXX". O Fura dels Baus consolida um teatro de coragem, em que não raro a crueza combina com o humor. Para isso, a entrega dos atores é fundamental. No mais, o grupo segue expandindo os limites cênicos, fazendo inteligente uso da tecnologia -em imagens virtuais e de vídeo e chats-, além de suaves coreografias com os atores suspensos.
O grupo se perde, no entanto, quando adere cegamente à amoralidade ou imaginação sem limites. Não são as cenas de sexo que incomodam, mas uma visão perigosamente obscura sobre a legitimidade do crime e da opressão.
De qualquer forma, a polêmica vem acompanhada do sucesso de bilheteria. As sessões de segunda a sábado no Riverside têm lotado.


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