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URBANISMO
Reunião de ensaios do arquiteto sobre a América do Sul é lançada
Livro registra Le Corbusier na "terra sem limites"
LUCRECIA ZAPPI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"Toda uma biologia, toda uma
vida orgânica fundamental surge,
vista do alto." Essa impressão de
Le Corbusier (1887-1965), a bordo
do vôo inaugural Buenos Aires-Assunção, em 1929, é um aceno
diante de um terreno em potencial que se abre para sua "nova arquitetura".
O arquiteto veio para a América
Latina pela primeira vez, convidado para fazer uma série de dez
conferências na Universidade de
Buenos Aires, que deram origem
ao livro "Precisões sobre um Estado Presente da Arquitetura e do
Urbanismo", a ser lançado pela
Cosac & Naify na próxima quarta-feira, em sua primeira versão
em português.
O livro reúne os ensaios e croquis feitos por Le Corbusier no final de 1929, nos quais ele analisa a
trajetória da arquitetura moderna
e vislumbra caminhos para o futuro das cidades, num registro
apaixonado do contato inédito do
arquiteto com uma "terra sem limites", de grandes possibilidades
urbanísticas.
Segundo Carlos Martins, professor livre-docente do departamento de arquitetura e urbanismo da USP de São Carlos, que escreveu a introdução crítica de
"Impressões", a viagem à América do Sul permitiu o amadurecimento de várias questões que vinham sendo desenvolvidas pelo
mestre franco-suíço.
Nessa viagem, a cidade que
mais marcou Corbusier foi o Rio
de Janeiro. É no Rio que ele rompe com a rigidez dos princípios
cartesianos e revela uma nova
vontade plástica, orgânica. Busca
soluções dentro da interferência
dos acidentes geográficos.
Segundo Martins, Corbusier
apresenta propostas de uma nova
ordem de visibilidade, a partir da
intuição das tendências do mundo moderno. Passa a pensar a arquitetura na escala da cidade, e
não de um edifício. "É como Paulo Mendes da Rocha diz: "O homem habita a cidade, e não a casa'", afirma Martins.
Corbusier desenvolve, durante
a viagem, algumas propostas para
cidades da América Latina, como
um sistema de auto-estradas elevadas para Rio, São Paulo e Montevidéu. Se a idéia destinada às cidades latino-americanas não saiu
do papel, ficou uma herança concreta no Rio: o edifício do Ministério da Educação e Saúde Pública, feito por uma equipe formada
por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Corbusier foi consultor. O projeto foi o primeiro em grande escala a aplicar elementos da doutrina do arquiteto, como a fachada livre ou o brise-soleil.
"Arquitetonicamente o edifício
não envelheceu", diz Martins. "A
proeza de construir um edifício
de 15 andares no meio de uma
praça e conseguir manter a espacialidade urbana continua sendo
uma lição de arquitetura."
PRECISÕES SOBRE UM ESTADO
PRESENTE DA ARQUITETURA E DO
URBANISMO.
Autor: Le Corbusier.
Tradução: Carlos Eugênio Marcondes de
Moura. Introdução crítica: Carlos
Martins. Quanto: R$ 48,50 (304 págs.).
Lançamento: quarta (12), às 19h. Onde:
Fnac Pinheiros (r. Pedroso de Moraes,
858, SP, tel. 0/xx/11/4501-3000).
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