São Paulo, sábado, 08 de maio de 2004

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URBANISMO

Reunião de ensaios do arquiteto sobre a América do Sul é lançada

Livro registra Le Corbusier na "terra sem limites"

LUCRECIA ZAPPI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

"Toda uma biologia, toda uma vida orgânica fundamental surge, vista do alto." Essa impressão de Le Corbusier (1887-1965), a bordo do vôo inaugural Buenos Aires-Assunção, em 1929, é um aceno diante de um terreno em potencial que se abre para sua "nova arquitetura".
O arquiteto veio para a América Latina pela primeira vez, convidado para fazer uma série de dez conferências na Universidade de Buenos Aires, que deram origem ao livro "Precisões sobre um Estado Presente da Arquitetura e do Urbanismo", a ser lançado pela Cosac & Naify na próxima quarta-feira, em sua primeira versão em português.
O livro reúne os ensaios e croquis feitos por Le Corbusier no final de 1929, nos quais ele analisa a trajetória da arquitetura moderna e vislumbra caminhos para o futuro das cidades, num registro apaixonado do contato inédito do arquiteto com uma "terra sem limites", de grandes possibilidades urbanísticas.
Segundo Carlos Martins, professor livre-docente do departamento de arquitetura e urbanismo da USP de São Carlos, que escreveu a introdução crítica de "Impressões", a viagem à América do Sul permitiu o amadurecimento de várias questões que vinham sendo desenvolvidas pelo mestre franco-suíço.
Nessa viagem, a cidade que mais marcou Corbusier foi o Rio de Janeiro. É no Rio que ele rompe com a rigidez dos princípios cartesianos e revela uma nova vontade plástica, orgânica. Busca soluções dentro da interferência dos acidentes geográficos.
Segundo Martins, Corbusier apresenta propostas de uma nova ordem de visibilidade, a partir da intuição das tendências do mundo moderno. Passa a pensar a arquitetura na escala da cidade, e não de um edifício. "É como Paulo Mendes da Rocha diz: "O homem habita a cidade, e não a casa'", afirma Martins.
Corbusier desenvolve, durante a viagem, algumas propostas para cidades da América Latina, como um sistema de auto-estradas elevadas para Rio, São Paulo e Montevidéu. Se a idéia destinada às cidades latino-americanas não saiu do papel, ficou uma herança concreta no Rio: o edifício do Ministério da Educação e Saúde Pública, feito por uma equipe formada por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Corbusier foi consultor. O projeto foi o primeiro em grande escala a aplicar elementos da doutrina do arquiteto, como a fachada livre ou o brise-soleil.
"Arquitetonicamente o edifício não envelheceu", diz Martins. "A proeza de construir um edifício de 15 andares no meio de uma praça e conseguir manter a espacialidade urbana continua sendo uma lição de arquitetura."


PRECISÕES SOBRE UM ESTADO PRESENTE DA ARQUITETURA E DO URBANISMO.
Autor: Le Corbusier. Tradução: Carlos Eugênio Marcondes de Moura. Introdução crítica: Carlos Martins. Quanto: R$ 48,50 (304 págs.). Lançamento: quarta (12), às 19h. Onde: Fnac Pinheiros (r. Pedroso de Moraes, 858, SP, tel. 0/xx/11/4501-3000).



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