São Paulo, sábado, 08 de maio de 2004

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ARTE

Mostra na Pinacoteca (SP) reúne 74 peças vindas do Museu de Etchmiadzinque

Exposição revela tradição religiosa cristã da Armênia

Jefferson Coppola/Folha Imagem
O diretor Vardan Devrikyan segura capa do evangelho do século 18, na mostra da Pinacoteca


PAULO DANIEL FARAH
ESPECIAL PARA A FOLHA

A Pinacoteca do Estado de SP inaugura hoje uma exposição que demonstra a riqueza da tradição religiosa da Armênia, primeiro país a adotar o cristianismo como religião oficial, em 301.
Pela primeira vez no continente americano, a mostra "Tesouros de Etchmiadzin: 17 Séculos de Cristianismo na Armênia" apresenta 74 peças, incluindo relicários, iluminuras e uma réplica da ponta da lança que teria sido usada para ferir Jesus Cristo enquanto ele agonizava na cruz (e que posteriormente foi levada por são Judas Tadeu à Armênia).
As peças vieram do Museu de Etchmiadzin -cidade a 25 km da capital Ierevan-, que integra o complexo-sede da Igreja Apostólica Armênia. "Essas obras são o testemunho das intenções, dos desejos, do conhecimento e do espírito criativo da nação armênia", afirma o patriarca da Igreja Apostólica Armênia, Catholicós Karekin 2º, que está no Brasil.
Uma parte expressiva das obras utiliza materiais como ouro e prata: cruzes de altar e de sacristias, lanternas, turíbulos, recipientes para crisma, leques, cálices e báculos episcopais e pontificais.
A exposição reúne ainda iluminuras que abordam temas como a entrada de Cristo em Jerusalém, o lava-pés, o beijo de Judas e a crucificação de Cristo, cetros, adornos para altar, peças de indumentária e objetos para guardar ou despejar o miron (óleo sagrado).
"A igreja da Armênia, com seus cânones firmes e consistentes, sua liturgia sincera, antiga e arraigada na alma de seu povo, que sempre ressoa por todos os lugares, tem servido como uma fortaleza para a nação, proporcionando-lhe um novo despertar do espírito. Isso explica, de certa forma, os íntimos laços que se percebem no conteúdo de obras distintas criadas em diferentes séculos", diz o curador Shahen Khachatrian.
Segundo Marcelo Mattos Araújo, diretor da Pinacoteca, a intenção é permitir que os brasileiros conheçam alguns dos objetos que possibilitam a elaborada liturgia da Igreja Apostólica Armênia.
Chamam a atenção os manuscritos do evangelho com capas em ouro e prata feitas por mestres artesãos e por vezes decoradas com pedras semipreciosas coloridas, além das destras (relicários em forma de mão direita).
Em algumas peças, que vão do século 9 ao 19, aparece a figura de são Jorge, um dos santos mais populares entre os armênios.
Até o encerramento da exposição (20/6), toda terça haverá na Pinacoteca um evento, como palestras e filmes, a partir das 18h30.

Cristianismo
Atualmente, a Armênia possui uma população majoritariamente cristã ortodoxa. O cristianismo difundiu-se pelo país a partir do século 1 por meio dos apóstolos são Judas Tadeu e são Bartolomeu. De acordo com o historiador Agathangelos, a família real e a nação foram batizadas no rio Eufrates. No século 4, a construção da catedral de Etchmiadzin diante do Monte Ararat marcou esse apogeu do cristianismo (a catedral é o centro espiritual dos armênios). Cem anos depois, foi criado o alfabeto armênio.
Os originais em grego e siríaco da Bíblia foram então traduzidos para o armênio. A Igreja Apostólica Armênia ajudou a preservar um sentimento de identidade entre os armênios durante séculos de conflitos. A igreja sobreviveu à repressão durante 70 anos de controle soviético e ainda é um fator de união entre as cerca de 4 milhões de pessoas que vivem na Armênia e outros 7 milhões de armênios em outros países, entre os quais a Síria, o Líbano, o Irã, o Chipre, a França e os EUA.

Paulo Daniel Farah é professor na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP
TESOUROS DE ETCHMIADZIN: 17 SÉCULOS DE CRISTIANISMO NA ARMÊNIA.
Onde: Pinacoteca do Estado (pça da Luz, 2, Bom Retiro, SP, tel. 0/xx/ 11/229-9844). Quando: de ter. a dom., das 10h às 18h. Até 20/6. Quanto: R$ 4.



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