São Paulo, sexta, 8 de maio de 1998

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Trama se confunde com noticiário

ADRIANE GRAU
especial para a Folha

em San Francisco
"Mera Coincidência" é um caso em que a realidade parece ter imitado a ficção. O filme estreou no país em 11 de janeiro, bem no auge do escândalo que une o presidente Bill Clinton a uma ex-estagiária da Casa Branca.
Quem optou por ir ao cinema correu o risco de confundir o noticiário da televisão com a trama do filme. Nele, o presidente (que jamais aparece na tela e cujo nome não é mencionado) tira uma casquinha de uma escoteira adolescente em visita à Casa Branca.
Seus assessores sabem que se a história vazar é escândalo na certa. A saída é encontrar algo que distraia a mídia. Com o auxílio de um produtor de cinema interpretado por Dustin Hoffman inventa-se uma guerra contra a Albânia.
Corta para a vida real e a ameaça dos EUA bombardearem o Iraque e é o suficiente para gerar desnorteamento do público.
A guerra que nunca aconteceu se tornou ainda mais suspeita quando vazou a informação de que o produtor Harry Thomason havia sido contratado para assessorar Bill Clinton.
Baseado no livro "American Hero", de Larry Beinhart, o filme ganhou US$ 7,7 milhões na bilheteria de abertura no fim-de-semana de 10 e 11 de janeiro. Desde então seguiu lucrando no mesmo ritmo morno.
Enquanto isso, o escândalo Clinton ferveu, amornou, e no momento está em banho-maria.
"Segredos do Poder", que estréia no Brasil no final de maio, mostra um candidato a presidente interpretado por John Travolta que é a cara de Bill Clinton.
Aliás, cara, penteado e sotaque. Ainda em cartaz nos EUA, o filme, em apenas um mês, já pagou metade do que custou, US$ 65 milhões.
"Segredos do Poder" mostra com mais crueldade os segredos da administração Clinton. "Mera Coincidência" mostra o mecanismo que mantém o poder, mas não os detalhes sórdidos que lubrificam diariamente sua enorme máquina.
Ainda sai ganhando a tirada de Woody Allen em "Deconstructing Harry": "Você não vê o presidente dos Estados Unidos querendo ter sexo com toda mulher que encontra", diz seu personagem ao se desculpar sobre o próprio apetite sexual. "Bom, pensando bem, esse não é um bom exemplo", encerra.



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