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São Paulo, domingo, 08 de junho de 2003

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MÍDIA

Beneficiário de mudanças nas regras de controle das comunicações, magnata é acusado de monopólio no país; aqui também

Império de Murdoch sofre ataque nos EUA

SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL

João alugou "Titanic" no DVD. Fã do cinema nacional, Maria assistiu ao longa "Cristina Quer Casar". Contestador, José lê "Stupid White Men", do guru da esquerda Michael Moore. Lúcia viu o blockbuster "X Men 2" no cinema e voltou para casa ouvindo o novo CD de Kylie Minogue. Seu namorado prefere o jazzista Miles Davis.
Já Manuel não perde um episódio de "Os Simpsons" na TV, enquanto sua mãe só se informava durante a guerra do Iraque pelo canal de notícias Fox News. Ambos assistiram ao filme alternativo "Meninos Não Choram".
Todos os personagens fictícios acima, que poderiam viver literalmente em qualquer cidade do mundo, têm em comum uma pessoa, que faturou com cada ação do grupo: Rupert Murdoch.
Com sua News Corporation, uma das cinco gigantes de mídia do mundo, este australiano naturalizado norte-americano de 72 anos controla 700 empresas, que empregam 30 mil pessoas, faturaram US$ 15 bilhões no ano passado e estão presentes em 52 países.
São 175 jornais, que tiram 40 milhões de exemplares por semana, e 34 emissoras de TV apenas nos EUA, mais 300 milhões de assinantes de TV paga. Se fosse um país, em termos de mídia, a News seria maior que o Brasil.
Murdoch voltou à mídia nos últimos dias por ser um dos principais beneficiários em potencial das mudanças nas regras de controle da mídia nos EUA aprovadas na última segunda-feira pela FCC (sigla em inglês para Comissão Federal de Comunicações), que agora estão mais liberais.
Por esse motivo, ele virou o "garoto-antipropaganda" do movimento antimonopólio nos EUA, encabeçado pelas ONGs de esquerda Common Cause, Free Press e MoveOn.
"Nós o escolhemos para personificar o problema do monopólio principalmente porque seus produtos são facilmente reconhecíveis pelo público", disse à Folha Chellie Pingree, presidente da Common Cause.
Ela diz crer que Murdoch deve aproveitar as regras mais liberais da FCC para expandir seu império. E avisa: "É bem possível que logo logo vocês no Brasil sintam os efeitos dessa liberalização e o desejo de expansão de Murdoch".
Também no Brasil o empresário protagoniza caso de monopólio, na TV paga por satélite. Acionista e com o controle gerencial da Sky, ele se tornou proprietário indireto da concorrente DirecTV ao comprar nos EUA em abril a Hughes. Essa empresa é a proprietária da GLA, ex-joint venture que criou a DirecTV por aqui em 96. Assim, de uma maneira ou de outra, passa pelas mãos de Murdoch o que assistem 95% dos assinantes brasileiros de TV por satélite.
O caso está sendo analisado pela Agência Nacional de Telecomunicações e pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Segundo disse à Folha a assessoria de imprensa da Anatel, o processo está na fase de envio de documentação, e o resultado só deve sair em seis meses.
O empresário ainda não se manifestou publicamente sobre as mudanças da FCC nem sobre seus planos para o Brasil. A Folha tentou falar com Murdoch em seu escritório de Nova York via seu vice-presidente de comunicações, Andrew Butcher, e o diretor de relações com a imprensa, Nicholas Weinstock, sem sucesso.



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