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POLÊMICA
Carta de músicos a FHC pedindo derrubada do projeto de numeração foi preparada pelos produtores de discos
Gravadoras pressionaram artistas por veto
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Não foi de todo espontânea a
adesão de nomes como Caetano
Veloso, Gilberto Gil, Marina Lima, Erasmo Carlos, Paulo Ricardo, Xororó, Sandy & Junior e Alexandre Pires à luta das gravadoras
e editoras brasileiras contra o projeto de lei que determina a numeração de CDs e livros.
Diante do apoio de cerca de 400
artistas ao movimento favorável à
numeração, liderado por Lobão e
Beth Carvalho, a Associação Brasileira dos Produtores de Discos
(ABPD, que congrega as maiores
gravadoras brasileiras) articulou
uma lista contrária.
Preparou-se na ABPD uma carta ao presidente Fernando Henrique Cardoso, pedindo o veto do
projeto da deputada Tânia Soares
(PC do B-SE). Os presidentes das
gravadoras receberam a carta e
foram mobilizados a convencer
os artistas a assiná-la.
Quem assumiu a liderança da
mobilização foi o presidente da
Abril Music, Marcos Maynard,
que repassou aos executivos a tarefa de conseguir que todos os artistas da gravadora assinassem rapidamente a carta.
Como argumento, dizia que já
haviam assinado a carta Caetano,
Gil, Roberto Carlos, Zezé di Camargo, Adriana Calcanhotto e
Lulu Santos. E dizia que Jô Soares,
que assinou o apoio à numeração
ao vivo, ao entrevistar Lobão, estaria prestes a aderir.
As assinaturas se confirmaram,
exceto a de Jô Soares (leia na coluna "Mônica Bergamo", à pág. E2).
Entre os cerca de 30 signatários do
pedido de veto, estão seis artistas
da Abril: Ivan Lins, Marina Lima,
Dinho Ouro Preto (Capital Inicial), dois dos Titãs (Sérgio Britto
e Nando Reis) e Erasmo Carlos.
Com exceção de Ouro Preto, todos apoiaram antes a lista de Lobão e Beth Carvalho.
Xororó, da Universal, assinou a
lista quando estava em estúdio.
Segundo sua assessoria, ele atendeu a uma solicitação do presidente da gravadora e não conhecia direito o conteúdo.
Procurado pela Folha para comentar a pressão sobre os artistas,
Maynard afirmou: "Não tenho
nada a declarar".
Marina Lima confirma sua mudança de opinião depois de um
contato com Maynard, embora
diga não ter sido pressionada. "A
atitude de Lobão e Beth é louvável, achei legal o abaixo-assinado.
Só depois fui conhecer o texto do
projeto, que é o caos."
Ela continua: "Hoje não me sinto representada por nenhum dos
lados. Ninguém na classe é contra
a numeração, as gravadoras vão
ter de nos dar satisfação sobre
nossa grana, sim. Talvez o veto
atrase as coisas, mas o Brasil quer
a moralização em todas as áreas,
ela é irreversível".
Outra que apoiou e hoje está indecisa é Marisa Monte, da EMI.
Ela diz, por intermédio de seu empresário, Leonardo Netto, que
mantém o apoio à numeração,
mas não ao projeto. "Queremos
um projeto de numeração, sim,
mas viável. Vamos esperar que
nos esclareçam para ver de que lado ficar", diz Netto.
A ABPD concentra a argumentação contra o projeto na noção
de que o artista teria de assinar todos os CDs. "Todo o dinheiro do
Brasil é assinado pelo presidente
do Banco Central", responde a
deputada Tânia Soares. "Ele não
assina nota por nota. Mas a lei é
genérica, não cabe ao legislador
detalhá-la. Isso virá na regulamentação, que irá criar o consenso entre as partes."
Para ela, "a preocupação de
quem está reagindo não é com esses detalhes, é com a essência da
lei. Estão com medo de ter de pagar direito autoral. Se Caetano
não suspeita dos direitos que lhe
pagam, bom para ele. Mas a suspeição é geral, o direito autoral no
Brasil não é respeitado".
Colaborou Cleo Guimarães, da Redação
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