São Paulo, segunda-feira, 08 de julho de 2002

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POLÊMICA

Carta de músicos a FHC pedindo derrubada do projeto de numeração foi preparada pelos produtores de discos

Gravadoras pressionaram artistas por veto

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Não foi de todo espontânea a adesão de nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Marina Lima, Erasmo Carlos, Paulo Ricardo, Xororó, Sandy & Junior e Alexandre Pires à luta das gravadoras e editoras brasileiras contra o projeto de lei que determina a numeração de CDs e livros.
Diante do apoio de cerca de 400 artistas ao movimento favorável à numeração, liderado por Lobão e Beth Carvalho, a Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD, que congrega as maiores gravadoras brasileiras) articulou uma lista contrária.
Preparou-se na ABPD uma carta ao presidente Fernando Henrique Cardoso, pedindo o veto do projeto da deputada Tânia Soares (PC do B-SE). Os presidentes das gravadoras receberam a carta e foram mobilizados a convencer os artistas a assiná-la.
Quem assumiu a liderança da mobilização foi o presidente da Abril Music, Marcos Maynard, que repassou aos executivos a tarefa de conseguir que todos os artistas da gravadora assinassem rapidamente a carta.
Como argumento, dizia que já haviam assinado a carta Caetano, Gil, Roberto Carlos, Zezé di Camargo, Adriana Calcanhotto e Lulu Santos. E dizia que Jô Soares, que assinou o apoio à numeração ao vivo, ao entrevistar Lobão, estaria prestes a aderir.
As assinaturas se confirmaram, exceto a de Jô Soares (leia na coluna "Mônica Bergamo", à pág. E2). Entre os cerca de 30 signatários do pedido de veto, estão seis artistas da Abril: Ivan Lins, Marina Lima, Dinho Ouro Preto (Capital Inicial), dois dos Titãs (Sérgio Britto e Nando Reis) e Erasmo Carlos. Com exceção de Ouro Preto, todos apoiaram antes a lista de Lobão e Beth Carvalho.
Xororó, da Universal, assinou a lista quando estava em estúdio. Segundo sua assessoria, ele atendeu a uma solicitação do presidente da gravadora e não conhecia direito o conteúdo.
Procurado pela Folha para comentar a pressão sobre os artistas, Maynard afirmou: "Não tenho nada a declarar".
Marina Lima confirma sua mudança de opinião depois de um contato com Maynard, embora diga não ter sido pressionada. "A atitude de Lobão e Beth é louvável, achei legal o abaixo-assinado. Só depois fui conhecer o texto do projeto, que é o caos."
Ela continua: "Hoje não me sinto representada por nenhum dos lados. Ninguém na classe é contra a numeração, as gravadoras vão ter de nos dar satisfação sobre nossa grana, sim. Talvez o veto atrase as coisas, mas o Brasil quer a moralização em todas as áreas, ela é irreversível".
Outra que apoiou e hoje está indecisa é Marisa Monte, da EMI. Ela diz, por intermédio de seu empresário, Leonardo Netto, que mantém o apoio à numeração, mas não ao projeto. "Queremos um projeto de numeração, sim, mas viável. Vamos esperar que nos esclareçam para ver de que lado ficar", diz Netto.
A ABPD concentra a argumentação contra o projeto na noção de que o artista teria de assinar todos os CDs. "Todo o dinheiro do Brasil é assinado pelo presidente do Banco Central", responde a deputada Tânia Soares. "Ele não assina nota por nota. Mas a lei é genérica, não cabe ao legislador detalhá-la. Isso virá na regulamentação, que irá criar o consenso entre as partes."
Para ela, "a preocupação de quem está reagindo não é com esses detalhes, é com a essência da lei. Estão com medo de ter de pagar direito autoral. Se Caetano não suspeita dos direitos que lhe pagam, bom para ele. Mas a suspeição é geral, o direito autoral no Brasil não é respeitado".


Colaborou Cleo Guimarães, da Redação


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