São Paulo, domingo, 08 de julho de 2007

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Tainá quer ser atriz "quando crescer"

Ela, que interpreta a modelo Marcela no filme de Beto Brant, diz que "mil possibilidades" desnorteiam sua geração

Para a ex-modelo e ex-jornalista, se carreira fosse investimento, a primeira seria "perfil arrojado"; e a segunda, "poupança"

RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Poucas mulheres são mais bonitas do que Tainá Müller, 25, mas agora, quando finalmente nos encontramos para a entrevista, ela parece uma menina comum, ex-colega de colégio, com seu 1,70 m de altura e corpo magrelinho.
Ela se desculpa pelo atraso (40 minutos), com um sorriso simpático e um abraço rápido. Marcou a conversa no escritório da agente, que passou a lhe representar como atriz depois de seu primeiro trabalho para valer na nova profissão, o filme "Cão sem Dono", de Beto Brant.
Nele, interpreta Marcela, "par romântico", ou nem tanto, de Ciro, um rapaz com quem não só ela mas também um cachorro, o porteiro do prédio e os pais tentam se relacionar. Ele resiste.
Marcela é modelo, coisa que Tainá já foi, com períodos de trabalho na Itália, Tailândia e China.
"É uma profissão feita de apostas. A agência aposta, o cliente aposta. Se fosse comparar com um investimento, a carreira de modelo é o perfil "arrojado". Jornalista é perfil "poupança'", diz a moça, que fez faculdade de comunicação.
O talento de Tainá nesse campo fica óbvio quando a primeira sessão de fotos que fez para o jornal, após a entrevista, começa. Ela pede para passar um batom antes e se fecha no banheiro ao lado. Na volta, pergunta: "Olho para a câmera?". Sim. Ela inclina a cabeça. "Sorrindo?" Sim. Namora a câmera. Sobe na mesa. Fica séria. Depois sorri. Deita no chão. No alto da mesa de novo.
Por uma única vez olha para o repórter, e não para a lente. Mas ela se parece muito pouco com Marcela, aquele mulherão do filme. Diz isso. Identifica-se mais com o rapaz.
Ciro, o personagem do filme, tem dificuldade de saber o que realmente quer da vida, ela diz. Tem dificuldade de fazer suas apostas nos relacionamentos. Tem também um bocado de medo.
"O filme fala de um desconforto desse personagem central em relação à vida. É como se ele tivesse desistido antes de começar. Uma preguiça da vida. É um retrato de muita gente da minha idade hoje", ela diz.
"Se nada é certo, se nada é garantido, para onde vou? Quando você tem mil possibilidades, quase que todas elas se anulam, porque elas não são reais", explica o dilema.
Claro, Tainá afirma que encontrou a saída oposta para o mesmo problema. "Eu não tenho essa coisa soturna, mas até os meus 25 eu vivi um pouco isso. Só que eu era da ação. Em vez de ficar paralisada em casa, eu ia para a ação", diz a moça.
E, de fato, ela já foi estudante de relações públicas; assistente de montagem; assistente de câmera, produção e maquiagem; jornalista. Agora é atriz (a propósito, ganhou prêmios em dois festivais, Cine PE e Cuiabá, por sua interpretação).
E antes disso? "Dancei balé sete anos, dancei sapateado americano por dois anos, toquei piano cinco anos, sempre gostei de desenhar. Isso foi uma coisa até os 15 anos de idade, entendeu?"
Pouco depois, aos 19, saiu de casa para morar com Daniel Galera, autor de "Até o Dia em que o Cão Morreu" (Companhia das Letras), livro em que se baseia o filme de Brant. Ficaram juntos em Porto Alegre e São Paulo, até este ano. "Eu prefiro não falar sobre isso. Essa parte é bem pessoal", ela se esquiva, sorrindo.
Tudo bem, não saberemos sobre essa relação. Mas é pos- sível entender melhor Marcela, e o que ela pode ter visto de charme na indecisão do "barbudinho feioso" (leia texto abaixo). Tainá na sua agitação, esperta e indecisa, pode ser tão apaixonante quanto sua personagem mais madura, decidida e irreal na tela.
Questionada sobre o que quer agora, afinal, responde, em tom de brincadeira: "Quero ser atriz... quando eu crescer". Dá vontade de pedir, a sério, para que não cresça.


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