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Tainá quer ser atriz "quando crescer"
Ela, que interpreta a modelo Marcela no filme de Beto Brant, diz que "mil possibilidades" desnorteiam sua geração
Para a ex-modelo e ex-jornalista, se carreira fosse investimento, a primeira seria "perfil arrojado"; e
a segunda, "poupança"
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Poucas mulheres são mais
bonitas do que Tainá Müller,
25, mas agora, quando finalmente nos encontramos para a
entrevista, ela parece uma menina comum, ex-colega de colégio, com seu 1,70 m de altura e
corpo magrelinho.
Ela se desculpa pelo atraso
(40 minutos), com um sorriso
simpático e um abraço rápido.
Marcou a conversa no escritório da agente, que passou a
lhe representar como atriz depois de seu primeiro trabalho
para valer na nova profissão,
o filme "Cão sem Dono", de
Beto Brant.
Nele, interpreta Marcela,
"par romântico", ou nem tanto,
de Ciro, um rapaz com quem
não só ela mas também um cachorro, o porteiro do prédio e
os pais tentam se relacionar.
Ele resiste.
Marcela é modelo, coisa que
Tainá já foi, com períodos de
trabalho na Itália, Tailândia
e China.
"É uma profissão feita de
apostas. A agência aposta, o
cliente aposta. Se fosse comparar com um investimento, a
carreira de modelo é o perfil
"arrojado". Jornalista é perfil
"poupança'", diz a moça, que fez
faculdade de comunicação.
O talento de Tainá nesse
campo fica óbvio quando a primeira sessão de fotos que fez
para o jornal, após a entrevista,
começa. Ela pede para passar
um batom antes e se fecha no
banheiro ao lado. Na volta, pergunta: "Olho para a câmera?".
Sim. Ela inclina a cabeça. "Sorrindo?" Sim. Namora a câmera.
Sobe na mesa. Fica séria. Depois sorri. Deita no chão. No alto da mesa de novo.
Por uma única vez olha para
o repórter, e não para a lente.
Mas ela se parece muito pouco
com Marcela, aquele mulherão
do filme. Diz isso. Identifica-se
mais com o rapaz.
Ciro, o personagem do filme,
tem dificuldade de saber o que
realmente quer da vida, ela
diz. Tem dificuldade de fazer
suas apostas nos relacionamentos. Tem também um bocado de medo.
"O filme fala de um desconforto desse personagem central
em relação à vida. É como se ele
tivesse desistido antes de começar. Uma preguiça da vida. É
um retrato de muita gente da
minha idade hoje", ela diz.
"Se nada é certo, se nada é garantido, para onde vou? Quando você tem mil possibilidades,
quase que todas elas se anulam,
porque elas não são reais", explica o dilema.
Claro, Tainá afirma que encontrou a saída oposta para o
mesmo problema. "Eu não tenho essa coisa soturna, mas até
os meus 25 eu vivi um pouco isso. Só que eu era da ação. Em
vez de ficar paralisada em casa,
eu ia para a ação", diz a moça.
E, de fato, ela já foi estudante
de relações públicas; assistente
de montagem; assistente de câmera, produção e maquiagem;
jornalista. Agora é atriz (a propósito, ganhou prêmios em
dois festivais, Cine PE e Cuiabá,
por sua interpretação).
E antes disso? "Dancei balé
sete anos, dancei sapateado
americano por dois anos, toquei piano cinco anos, sempre
gostei de desenhar. Isso foi
uma coisa até os 15 anos de idade, entendeu?"
Pouco depois, aos 19, saiu de
casa para morar com Daniel
Galera, autor de "Até o Dia em
que o Cão Morreu" (Companhia das Letras), livro em que
se baseia o filme de Brant. Ficaram juntos em Porto Alegre e
São Paulo, até este ano. "Eu
prefiro não falar sobre isso. Essa parte é bem pessoal", ela se
esquiva, sorrindo.
Tudo bem, não saberemos
sobre essa relação. Mas é pos-
sível entender melhor Marcela,
e o que ela pode ter visto de
charme na indecisão do "barbudinho feioso" (leia texto
abaixo). Tainá na sua agitação,
esperta e indecisa, pode ser tão
apaixonante quanto sua personagem mais madura, decidida e
irreal na tela.
Questionada sobre o que
quer agora, afinal, responde,
em tom de brincadeira: "Quero
ser atriz... quando eu crescer".
Dá vontade de pedir, a sério, para que não cresça.
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