São Paulo, quarta, 8 de julho de 1998

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CRÍTICA
Banda continua em cima do muro em novo CD

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

Skank é uma banda de meio. Situa-se, no cenário, num ponto de meio entre as pontas do rock/pop radiofônico à Paralamas e dos rebolados e bundinhas televisivos à É o Tchan. Esse meio é um muro, Skank é banda de muro.
"Siderado" não os ajuda em nada a descer do muro -sua gravadora não há de querer, já que é grupo de enorme sucesso-, gira em círculos (viciosos) de idéias já expostas. A produção gringa de John Shaw (UB40) e de Paul Ralphes (Bliss, o Bliss, meu Deus do céu, por que o Bliss???) não acrescenta um grão ao padrão metálico do Skank -quando muito esboça um rap em "Marginal Tietê".
A fórmula de sucesso é seguida à risca, com o desconforto de muitas melodias avançarem na repetição -"Mandrake e os Cubanos" macaqueia "Garota Nacional", "Romance Noir" é igual a "Tão Seu", "No Meio do Mar" vai na cola de "O Beijo e a Reza"...
Diferenças? Uma aqui, outra acolá. "Resposta" é delicada, "Mandrake e os Cubanos" tenta experimentar arranjo moderninho, "Os Homens da Caverna" fica interessante quando entra aquela linha Ennio Morricone (que desde a releitura de "É Proibido Fumar" é das coisas mais legais que o grupo faz). Mas é só.
Fora isso, Skank continua carecendo de firmeza em várias frentes. Reza na cartilha de dois pilares do pop/rock dos 80: os vocais indigentes e as letras indigentes.
Uma fragrância de honestidade ingênua atravessa o CD, mas não é possível que na era da profissionalização da canção popular Samuel Rosa não se esmere por aprimorar modos de cantar. Sendo assim, Skank se nivela ao Tchan, e milhões de cópias vendidas se tornam deboche operado por suposto "megapúblico" nada exigente.
As letras? É pedir para não ser respeitado cometer sandices do tipo "será que você gostou/ desse anel daqueles hippies/ parece a gema dos seus olhos/ irrequietos acepipes" (em "Mandrake e os Cubanos") e "o peixe morre pela boca/ ou senão pelo sexo/ estude o léxico do amor, por favor" (em "Don Blás"), socorro!
O público cantará em coro tais poemas. Se está bem para todos, é típico diálogo de surdos, de quem não se importa com o que está cantando a quem não se importa com o que está ouvindo. Não engrandece o Skank nem seu país.
"Do Ben" quer homenagear mestre Jorge Ben (em lance esperto de insinuar que ele era mais de verdade quando era Ben que agora que é Ben Jor). Derrama metais exibicionistas sobre letra paródica e ultraja Ben, homenageando sem querer o perdido Ben Jor.
Os metais, aliás, são derramados aos litros -impressionante como naipes de metal são usados, no Brasil, a serviço da facilidade, em geral numa suposta corrente de influência caribenha. É de doer.
Nessa linha, "Siderado", a faixa, tem tudo para ser o estrondo de "Siderado", o CD -um CD nada siderado. É pena que o Skank (a Sony?) opte pelo infantilismo do rock de bravata de garotas nacionais e mandrakes ("vai chover marido agora", gabam-se). Ora, bolas, façam-nos o favor.

Disco: Siderado Grupo: Skank Lançamento: Sony Quanto: R$ 18, em média


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