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Cinema/memória
John Hughes reinventou o gênero "filme de adolescentes"
Diretor de obras como "Curtindo a Vida Adoidado" morreu anteontem, aos 59, vítima de ataque cardíaco
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Se "Curtindo a Vida Adoidado" não é um dos pontos altos da história do
cinema, a história do cinema
está com sérios problemas.
Veja bem: eu nasci na década
de 1970 (em 1974). Passei o final dos anos 1980 ouvindo U2 e
assistindo à "Sessão da Tarde"
(será que a minha vida é melhor
hoje ou naquela época?).
E um dos clássicos da "Sessão
da Tarde" era (ainda é) "Curtindo a Vida Adoidado". Os sonhos de todo adolescente desfilavam por seus 102 minutos: o
plano incrível para passar a
perna no diretor da escola e cabular um dia de aula; a namorada linda; o amigo boa gente; a
oportunidade de dirigir uma
Ferrari; e poder bancar o popstar cantando "Twist and Shout"
no meio da cidade (Chicago).
Essa obra-prima juvenil de
1986 foi escrita, produzida e dirigida por John Hughes, morto
anteontem, aos 59 anos, vítima
de um ataque cardíaco.
O cineasta e roteirista começou a reinventar o gênero "filme para adolescentes" com
"Gatinhas & Gatões", sua estreia como diretor, em 1984.
Em um roteiro deliciosamente ingênuo (garota reclama
da falta de atenção dos pais e
está apaixonada por um dos caras mais populares da escola),
Hughes faz de Molly Ringwald
(não me pergunte onde ela está) um símbolo sexual e, por isso, nós o perdoamos por Anthony Michael Hall.
Entre 1984 e 1991, Hughes dirigiu oito filmes -uma "woodyalleniana" média de um filme
por ano. Em 1985, com "Clube
dos Cinco", Hughes aparece
com seu único filme em que o
teor dramático é mais acentuado do que a comédia.
De novo, a trama gira em torno de adolescentes e problemas
na escola. Cinco estudantes
que não têm nada a ver um com
o outro são obrigados a passar
um sábado juntos no colégio.
No início do filme, uma epígrafe citando uma faixa ("Changes") de David Bowie:
"...E essas crianças que vocês
insultam/ À medida em que
elas tentam mudar seus mundos estão imunes aos seus conselhos/ Elas estão bem cientes
do que estão passando..."
Depois de "Curtindo a Vida
Adoidado", Hughes "cresceu"
-mas não perdeu a mão para as
piadas. Escalou Steve Martin e
John Candy em "Antes Só do
que Mal Acompanhado" (1987)
e este último em "Quem Vê Cara Não Vê Coração" (1989),
duas comédias "adultas".
(Vamos passar direto por sua
última investida na direção, "A
Malandrinha", de 1991.)
Nos anos 1990, dedicou-se
aos roteiros (será que achava
que seu melhor como diretor
havia passado?), e colocou seu
nome nos créditos dos três longas da série "Esqueceram de
Mim", além no do injustiçado
"Milagre na Rua 34".
Ricardo Calil, colaborador da
Ilustrada, escreveu em seu
blog (http://colunistas.ig.
com.br/ricardocalil) que
John Hughes era "o Antonioni
da comédia juvenil". Já para
Bruno Yutaka Saito, repórter
deste caderno, Hughes era "o
Spielberg dos filmes para adolescentes".
Para o diretor Kevin Smith,
Hughes era o "Salinger da nossa geração".
Spielberg, Antonioni, Salinger. Hughes não está nada mal.
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