São Paulo, sábado, 08 de agosto de 2009

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Cinema/memória

John Hughes reinventou o gênero "filme de adolescentes"

Diretor de obras como "Curtindo a Vida Adoidado" morreu anteontem, aos 59, vítima de ataque cardíaco

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Se "Curtindo a Vida Adoidado" não é um dos pontos altos da história do cinema, a história do cinema está com sérios problemas.
Veja bem: eu nasci na década de 1970 (em 1974). Passei o final dos anos 1980 ouvindo U2 e assistindo à "Sessão da Tarde" (será que a minha vida é melhor hoje ou naquela época?).
E um dos clássicos da "Sessão da Tarde" era (ainda é) "Curtindo a Vida Adoidado". Os sonhos de todo adolescente desfilavam por seus 102 minutos: o plano incrível para passar a perna no diretor da escola e cabular um dia de aula; a namorada linda; o amigo boa gente; a oportunidade de dirigir uma Ferrari; e poder bancar o popstar cantando "Twist and Shout" no meio da cidade (Chicago).
Essa obra-prima juvenil de 1986 foi escrita, produzida e dirigida por John Hughes, morto anteontem, aos 59 anos, vítima de um ataque cardíaco.
O cineasta e roteirista começou a reinventar o gênero "filme para adolescentes" com "Gatinhas & Gatões", sua estreia como diretor, em 1984.
Em um roteiro deliciosamente ingênuo (garota reclama da falta de atenção dos pais e está apaixonada por um dos caras mais populares da escola), Hughes faz de Molly Ringwald (não me pergunte onde ela está) um símbolo sexual e, por isso, nós o perdoamos por Anthony Michael Hall.
Entre 1984 e 1991, Hughes dirigiu oito filmes -uma "woodyalleniana" média de um filme por ano. Em 1985, com "Clube dos Cinco", Hughes aparece com seu único filme em que o teor dramático é mais acentuado do que a comédia.
De novo, a trama gira em torno de adolescentes e problemas na escola. Cinco estudantes que não têm nada a ver um com o outro são obrigados a passar um sábado juntos no colégio. No início do filme, uma epígrafe citando uma faixa ("Changes") de David Bowie:
"...E essas crianças que vocês insultam/ À medida em que elas tentam mudar seus mundos estão imunes aos seus conselhos/ Elas estão bem cientes do que estão passando..."
Depois de "Curtindo a Vida Adoidado", Hughes "cresceu" -mas não perdeu a mão para as piadas. Escalou Steve Martin e John Candy em "Antes Só do que Mal Acompanhado" (1987) e este último em "Quem Vê Cara Não Vê Coração" (1989), duas comédias "adultas".
(Vamos passar direto por sua última investida na direção, "A Malandrinha", de 1991.)
Nos anos 1990, dedicou-se aos roteiros (será que achava que seu melhor como diretor havia passado?), e colocou seu nome nos créditos dos três longas da série "Esqueceram de Mim", além no do injustiçado "Milagre na Rua 34".
Ricardo Calil, colaborador da Ilustrada, escreveu em seu blog (http://colunistas.ig. com.br/ricardocalil) que John Hughes era "o Antonioni da comédia juvenil". Já para Bruno Yutaka Saito, repórter deste caderno, Hughes era "o Spielberg dos filmes para adolescentes".
Para o diretor Kevin Smith, Hughes era o "Salinger da nossa geração".
Spielberg, Antonioni, Salinger. Hughes não está nada mal.


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