CLAUDIO WAKAHARA
especial para a Folha

Quando Dick Dale, rei da guitarra surf, subiu ao palco do Olympia, a platéia (devidamente aquecida por uma digna apresentação de surf-funk-rock music com pitadas de Perez Prado promovida por Los Sea Dux) já pôde ter a impressão de que não se trataria de uma noite comum.
Sem explosões, projeções de fumaça ou qualquer outro adereço, Dick Dale e sua banda (um power trio formado pelo próprio Dale, baixo e bateria) chegam ao palco no escuro, testam dois ou três acordes, e iniciam a sessão de catarse coletiva conduzida.
A parede sonora está montada e, daí para frente, pouco se pode fazer para resistir à empatia de Dale com seu público (que incluía de surfers até senhores bastante grisalhos, saudosos da sua longboards anciãs) ou à sua própria competência técnica, que vai bastante além de seu característico estilo de percussão dupla em "stacatto" nas cordas da guitarra.
Dick Dale desfilou durante o show uma longa lista de clássicos da surf music -insuperáveis em sua interpretação- e músicas de seus últimos CDs.
Houve "Riders in the Sky", uma versão inspiradíssima de Rumble, do maldito Link Wray, "Take It or Leave It", "Misirlou" (com direito a inserções do fraseado de Hava Naguila), "Let's Go Trippin'" (creditada por muitos como a primeira gravação de surf rock), a mais que antológica "Surf Beat" (um timbre de guitarra jamais igualado) e "Fever", culminando com uma antológica versão de "The Wedge": Dale atacava no trompete enquanto a audiência, em êxtase, gritava "olé".
À vontade, Dale passeou então com extrema desenvoltura por variados temas hispânicos e médio-orientais, encerrando o programa com "Third Stone From the Sun", música composta por Jimi Hendrix em sua homenagem.
No usual retorno ao palco, atacou com "Peter Gunn", desceu à pista (onde foi se cevar da alheia juventude) e recebeu presentes, capitalizando assim o empenho despendido durante sua memorável apresentação em terras de São Paulo.



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