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DA RUA
Os faraós
FERNANDO BONASSI
Por 57 anos, toda santa semana, seu Luiz, que mal sabia
assinar o nome e era maníaco
pelo Egito, apostou no cachorro. Tinha a ver com um
sonho recorrente, em que
aparecia de túnica dourada,
rosnando e com um rabo escapando pelo meio das pernas. Nas primeiras vezes ainda fazia planos com o dinheiro. Depois, quando o tempo
lhe ensinou que, entre tantas
coisas, também não tinha
sorte, apenas mantinha a disciplina, sem levar muita fé. Na
manhã do dia em que morreu, quase em coma, pediu
que o filho fizesse o jogo em
seu nome. O menino, que
pensava suas próprias idéias
sobre a família, decidiu apostar no burro. Maldade ou intuição, acertou a centena. Seu
Luiz foi enterrado com o dinheiro.
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