São Paulo, sábado, 08 de setembro de 2001

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DA RUA

Os faraós

FERNANDO BONASSI

Por 57 anos, toda santa semana, seu Luiz, que mal sabia assinar o nome e era maníaco pelo Egito, apostou no cachorro. Tinha a ver com um sonho recorrente, em que aparecia de túnica dourada, rosnando e com um rabo escapando pelo meio das pernas. Nas primeiras vezes ainda fazia planos com o dinheiro. Depois, quando o tempo lhe ensinou que, entre tantas coisas, também não tinha sorte, apenas mantinha a disciplina, sem levar muita fé. Na manhã do dia em que morreu, quase em coma, pediu que o filho fizesse o jogo em seu nome. O menino, que pensava suas próprias idéias sobre a família, decidiu apostar no burro. Maldade ou intuição, acertou a centena. Seu Luiz foi enterrado com o dinheiro.


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