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"PÉROLAS AOS POUCOS"
Brasil e paternidade se esparramam pelo novo álbum
DA REPORTAGEM LOCAL
O CD anterior de Zé Miguel
Wisnik, "São Paulo Rio"
(2000), tentava dinamitar a velha
rivalidade entre as duas maiores
cidades brasileiras. "Pérolas aos
Poucos", sem programá-lo, se esparrama pelo resto do Brasil.
Vem repleto de referências ao
Nordeste, principalmente. Nisso
chega a se parecer, também sem
querer, com o segmento nordestino de sua geração cindida -a que
pertencem Fagner, Belchior, Zé
Ramalho, Geraldo Azevedo etc.
Salpica o disco de alegria no forró "Baião de Quatro Toques", em
que ele e Jussara Silveira dão umbigadas no texto que brinca de levar Beethoven ao sertão.
Em "Valsa Azul", põe letra em
tema lírico de um dos reis do frevo pernambucano, Nelson Ferreira. Depois, confessa o contraditório -"Sou Baiano Também".
Caetano Veloso aparece em
dueto na também muito agreste
"Assum Branco", comentário
musical ao clássico "Assum Preto", de Luiz Gonzaga e Humberto
Teixeira. A mesma Gal Costa que
reinventou "Assum Preto" em 71
lançara "Assum Branco" ao quase-anonimato, em 98.
O disco não se recolhe no Nordeste, entretanto. O Rio Grande
do Sul é visitado na também alegrinha "O Extremo Sul". Musicando o poema "Anoitecer", de
Carlos Drummond de Andrade,
nos arremessa às Minas Gerais.
Até o Rio resplandece em "Presente", pela voz marota de Elza
Soares. A São Paulo natal de Wisnik fica mais implícita, guardada
talvez na literatura precisa de seus
versos. Desnuda-se, indiretamente, no exercício de coragem que é
"DNA", original canção de origem sobre paternidade e filiação.
A mesma questão está de volta
no encontro com Caetano em
"Assum Branco", que contrapõe
o sonho de liberdade às alternativas de cegueira e prisão do pássaro preto cantor de Gonzagão.
A perfeita interpretação de Caetano evidencia o que já se sabe de
Wisnik -como intérprete ele é tímido, sibilante, veste de elegância
demais as altas canções que compõe. Diante do pai Caetano, oscila
e vacila. Mas enfrenta negá-lo,
cantando em dueto com ele.
Tampouco Wisnik reconhece
que pretenda negar Luiz Gonzaga, mas a tensão entre sina de
gaiola e liberdade de cantar está
ali colada, pulsando. Como pulsam os termos de ausência e vazio
de "Tempo sem Tempo", "Sem
Receita", "Sem Palavras". Wisnik
não se declara pelo "sim" nem pelo "não", mas pelo "sem", pelo vácuo quase silencioso. Talvez ainda
se acredite postiço. Sem ser.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Pérolas aos Poucos
![](http://www.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
Artista: Zé Miguel Wisnik
Lançamento: Maianga
Quanto: R$ 28, em média
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