|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTES VISUAIS
Distrito de Pequim que foi símbolo da Revolução Comunista é ocupado hoje por artistas, livrarias e galerias
Arte chinesa tem impulso em área industrial
CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM
Símbolo da Revolução Comunista e do hoje inexistente laço entre China, Alemanha Oriental e
União Soviética, o distrito industrial de Dashanzi, no nordeste de
Pequim, se transformou em um
dos principais centros da produção artística contemporânea chinesa, com a gradual ocupação de
seus imensos espaços vazios por
pintores, escultores, performáticos e fotógrafos, aos quais se seguiram estilistas, galerias de arte,
livrarias, bares e restaurantes.
Longe do centro de Pequim, o
distrito parece um território livre
com regras próprias, onde fotos
de corpos nus escapam da censura chinesa e são exibidas abertamente. A produção artística se
mistura às fábricas que continuam a funcionar na região, e estúdios de escultores ficam a passos de uma fábrica de esculturas,
que produz séries de Mao Tse-tungs e dragões chineses.
Ainda que sujeita a "releituras"
e "reinterpretações", a presença
de Mao e de sua Revolução Cultural são onipresentes no lugar.
Dashanzi engloba um conjunto
de fábricas construído na década
de 50 por cerca de cem arquitetos
e engenheiros da então Alemanha
Oriental, com apoio da extinta
União Soviética. Inspirados na escola Bauhaus, os edifícios possuem amplos espaços internos,
com tetos altos construídos em
sucessões de semicírculos que terminam em paredes envidraçadas.
O mais célebre é a Fábrica 798 (todas são identificadas por números), hoje endereço do maior local
de exposições do Dashanzi.
Em suas paredes, ainda estão
slogans da Revolução Cultural
(1966-76), que marcou o auge do
culto à personalidade do ex-dirigente do país. "O presidente Mao
é imortal", diz uma das frases, repetindo expressão usada apenas
em relação aos imperadores.
Algumas das fábricas foram fechadas e estavam abandonadas
até dois anos, quando os primeiros artistas começaram a ocupá-las, em busca de espaço, preços
baixos e liberdade para criar. O
pintor e escultor Fu Lei, 46, chegou em fevereiro de 2003. Escolheu a parte final de um longo e
escuro corredor, levantou paredes, trocou a janela e pintou o local (funciona como atelier e casa).
Mas a moradia não é gratuita. A
fábrica cobra aluguel e, apesar de
ele ser mais baixo do que em outras regiões, os valores estão em
alta. A inflação de preços é conseqüência do aumento da popularidade do local e da abertura de novos pontos comerciais.
A galeria White Space é uma das
recentes aquisições do Dashanzi.
Inaugurada há seis meses, pertence ao alemão Alexander Ochs. Para Ochs, não existe "arte" contemporânea chinesa, mas sim "artistas" contemporâneos chineses.
Ele organiza o que chama de "diálogos": mostras de artistas chineses ao lado de estrangeiros. No
domingo, foi a abertura da mostra "Universal Figure", que reuniu
o pintor alemão A.R. Penck e o
chinês Lu Sheng Zhong, 53, que
trabalha com papel cortado.
Filho de camponeses, Lu diz que
tenta utilizar uma forma tradicional de arte na China, o corte de
papel, de uma maneira contemporânea. "A China começou sua
transformação econômica na década de 80 e, apesar de ter entrado
na sociedade moderna, ela ainda
guarda muitas das características
da sociedade rural", afirma Lu.
Mesmo com o vertiginoso crescimento econômico e a rápida industrialização, 60% do 1,3 bilhão
de chineses ainda vivem na zona
rural. Talvez por isso, a produção
artística de camponeses tem lugar
em Dashanzi, com uma galeria especializada no tema, a Soul Collection Gallery.
O distrito esteve prestes a desaparecer para dar lugar a um moderno parque industrial. A idéia
foi abandonada pelo governo em
parte graças à pressão dos artistas.
O governo deixou de lado a desconfiança em relação à comunidade de artistas e apoiou o primeiro Festival Internacional de
Arte Dashanzi, em maio, com exposições, performances, workshops, shows e vídeos.
Bienal
Quatro dos que apresentaram
seus trabalhos na galeria de Berlim do alemão Alexander Ochs foram convidados para participar
da próxima Bienal de São Paulo,
que abre no próximo dia 25: Chen
Shaofeng, Yin Xiuzhen, Song
Dong e Xu Bing. A arte tradicional
chinesa, a manutenção da vida rural em amplas regiões do país e a
rápida transformação econômica
das cidades são alguns dos temas.
Com estilos diferenciados, todos
se dedicam à reflexão sobre a
identidade chinesa em seu confronto com o Ocidente.
A rápida mudança das cidades
chinesas encontra eco no trabalho
de Yin Xiuzhen, há mais de dez
anos casada com Song Dong. Yin
criou "cidades portáteis" miniaturas de lugares como Pequim e
Xangai montadas em malas.
Song Dong utiliza fotografia, vídeos e instalações e faz referência
à rápida urbanização da China.
Chen Shaofeng pintou retratos de
cerca de 200 moradores de vilas
rurais e pediu que os camponeses
pintassem o seu retrato. As obras
são expostas lado a lado.
Xu Bing, radicado nos EUA, utiliza base de seus trabalhos na caligrafia chinesa.
Texto Anterior: Solondz e Gitai levam sexo à tela de Veneza Próximo Texto: Design: Guinter Parschalk une imaginário brasileiro e luz em exposição Índice
|