São Paulo, sábado, 08 de setembro de 2007

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Livros

Cosac festeja 10 anos com lançamentos

Edição limitada de caixa de Tunga marca aniversário da editora, que se equilibrou após déficits mensais acima de R$ 400 mil

Empresa, que investe em sofisticação gráfica, mira mercado internacional com obras sobre arte, moda, arquitetura e design

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Em dezembro de 1997, surgiu no rarefeito mercado brasileiro de livros de artes visuais uma editora com um nome longínquo e propostas sofisticadas, mas que soavam um pouco fora da realidade.
Um dos primeiros títulos da Cosac Naify foi "Barroco de Lírios", monografia de Tunga. Dez anos depois, uma caixa com seis livros do artista plástico, que sai em novembro com tiragem limitada de 500 cópias, marca os dez anos da editora, que já imprimiu sua marca de qualidade gráfica e editorial no mercado brasileiro. O livro de Tunga é a cereja de um bolo de cerca de 20 lançamentos.
Associada ao que parecia ser uma espécie de mecenato, a Cosac Naify não existiria sem o impulso -pessoal e financeiro- de uma figura pouco convencional, o editor Charles Cosac, 41, que em 1996 voltou ao Brasil depois de morar 15 anos na Inglaterra. A iniciativa de abrir a editora tinha como objetivo primordial descolar o livro de arte da imagem de mero brinde de empresa.
"Existia dentro de mim, ainda com coração de estudante, muita vontade de acertar algumas coisas. Trazer a palavra de alguns professores que eu tive na Europa para o Brasil. E facilitar o estudo da arte brasileira na Europa. Lá, a gente trabalhava muito com fotocópia, os amigos tinham de mandar slides. Não havia livros e eu achava muito triste a falta de registro", diz Cosac.
Ele ainda morava na Rússia quando teve a primeira experiência editando um livro, do artista plástico Siron Franco, de quem é amigo. "Era uma coisa muito inocente, com muito entusiasmo. Não havia meta. Eu não abri uma editora e sim uma fazedora de livros. A editora era a mesa que encomendei de marceneiro e o departamento de finanças era um bloquinho em que eu ia anotando."

Déficits
Os artistas Amilcar de Castro, Leonilson e Arthur Omar estavam na primeira leva de livros, que despertou entusiasmo no meio da arte -e, ao mesmo tempo, vaticínios sobre uma curta carreira para a editora, para a qual muitos não deram mais do que um ano de vida. De fato, o "mecenato" quase teve fim em 2002 -nesse ano, até se organizou um jantar de encerramento. Em 2003, os déficits mensais ultrapassavam R$ 400 mil.
Charles Cosac atribui a virada da editora à decisão de convidar o editor Augusto Massi, 48, em 2001. Professor de literatura da USP e jornalista, Massi reformulou a equipe e saneou as contas com a contratação de um novo diretor financeiro. É Massi quem garante que hoje em dia a editora já trabalha "no azul", depois de ver o seu faturamento dobrar entre 2004 e 2006. Ele relativiza a importância de sua entrada na editora, dividindo parte dos louros com os editores que o antecederam, como Rodrigo Lacerda e Alberto Martins.
Para ele, a sobrevivência da Cosac Naify tem como lastro o conhecimento de Charles sobre artes plásticas, que transcendeu para a moda, arquitetura e design.
"Quando eu cheguei já havia livros de Miguel Rio Branco, Paulo Mendes da Rocha e uma coleção de moda. O professor Ismail Xavier e o crítico Rodrigo Naves já colaboravam, portanto já se tinha noção de equipe em que um intelectual podia participar da editora. Já era muito charmosa, um marco, um acontecimento. A grande sacada que comemoramos foi fazer livros em áreas que o Brasil tem reconhecimento não só no país como internacional."

Continuidade
Prova do recém-adquirido vigor da editora é o aumento das tiragens iniciais médias, que em 2003 eram de 2.000 a 3.000 exemplares, número que desde 2005 chega a 5.000. O aumento da tiragem também ajudou a desatar um nó entre os departamentos financeiro e editorial da Cosac Naify: o preço médio, hoje em R$ 42.
"Sem abrir mão da capa dura, prefácios e posfácios, índice onomástico, foto ou desenhos, pesquisa de papel. E isso é percebido lá fora", diz Massi, lembrando que um dos best-sellers da editora, o argentino Alan Pauls, recebeu no Brasil propostas que pagavam mais pelos direitos de "O Passado", mas acabou optando pela Cosac Naify por sugestão do amigo e escritor espanhol Enrique Vila-Matas, que elogiou a edição de seu "Bartleby e Companhia" feita pela casa.
Outro fator que teria ajudado a continuidade da editora foi a fixação do número de títulos publicados por ano em no máximo 70 -ao todo, a Cosac Naify tem hoje 600 títulos em catálogo.
O limite ajudou a regularizar a programação de lançamentos, outro de seus problemas "históricos", mas não significa que a editora não tenha ambições. A principal delas é a internacionalização da marca, "a reboque do artista brasileiro", segundo Massi.
Uma recente prova de fôlego foi o lançamento do catálogo em inglês da mostra "Tropicália", que passou por Chicago, Londres, Berlim e Nova York, e está agora em cartaz no MAM do Rio. Massi cita ainda o "Catalogue Raisonné" de Iberê Camargo (1914-94), os livros de Glauber Rocha (1938-81) e do crítico Paulo Emílio Sales Gomes (1916-77) -sobretudo sua monografia sobre o cineasta francês Jean Vigo -como obras que têm forte apelo no mercado internacional.


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