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Livros
Cosac festeja 10 anos com lançamentos
Edição limitada de caixa de Tunga marca aniversário da editora, que se equilibrou após déficits mensais acima de R$ 400 mil
Empresa, que investe em sofisticação gráfica, mira mercado internacional com obras sobre arte, moda, arquitetura e design
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Em dezembro de 1997, surgiu no rarefeito mercado brasileiro de livros de artes visuais
uma editora com um nome longínquo e propostas sofisticadas, mas que soavam um pouco
fora da realidade.
Um dos primeiros títulos da
Cosac Naify foi "Barroco de Lírios", monografia de Tunga.
Dez anos depois, uma caixa
com seis livros do artista plástico, que sai em novembro com
tiragem limitada de 500 cópias,
marca os dez anos da editora,
que já imprimiu sua marca de
qualidade gráfica e editorial no
mercado brasileiro. O livro de
Tunga é a cereja de um bolo de
cerca de 20 lançamentos.
Associada ao que parecia ser
uma espécie de mecenato, a
Cosac Naify não existiria sem o
impulso -pessoal e financeiro- de uma figura pouco convencional, o editor Charles Cosac, 41, que em 1996 voltou ao
Brasil depois de morar 15 anos
na Inglaterra. A iniciativa de
abrir a editora tinha como objetivo primordial descolar o livro
de arte da imagem de mero
brinde de empresa.
"Existia dentro de mim, ainda com coração de estudante,
muita vontade de acertar algumas coisas. Trazer a palavra de
alguns professores que eu tive
na Europa para o Brasil. E facilitar o estudo da arte brasileira
na Europa. Lá, a gente trabalhava muito com fotocópia, os
amigos tinham de mandar slides. Não havia livros e eu achava muito triste a falta de registro", diz Cosac.
Ele ainda morava na Rússia
quando teve a primeira experiência editando um livro, do
artista plástico Siron Franco,
de quem é amigo. "Era uma coisa muito inocente, com muito
entusiasmo. Não havia meta.
Eu não abri uma editora e sim
uma fazedora de livros. A editora era a mesa que encomendei
de marceneiro e o departamento de finanças era um bloquinho em que eu ia anotando."
Déficits
Os artistas Amilcar de Castro, Leonilson e Arthur Omar
estavam na primeira leva de livros, que despertou entusiasmo no meio da arte -e, ao mesmo tempo, vaticínios sobre
uma curta carreira para a editora, para a qual muitos não deram mais do que um ano de vida. De fato, o "mecenato" quase
teve fim em 2002 -nesse ano,
até se organizou um jantar de
encerramento. Em 2003, os déficits mensais ultrapassavam
R$ 400 mil.
Charles Cosac atribui a virada da editora à decisão de convidar o editor Augusto Massi,
48, em 2001. Professor de literatura da USP e jornalista,
Massi reformulou a equipe e
saneou as contas com a contratação de um novo diretor financeiro. É Massi quem garante
que hoje em dia a editora já trabalha "no azul", depois de ver o
seu faturamento dobrar entre
2004 e 2006. Ele relativiza a
importância de sua entrada na
editora, dividindo parte dos
louros com os editores que o
antecederam, como Rodrigo
Lacerda e Alberto Martins.
Para ele, a sobrevivência da
Cosac Naify tem como lastro o
conhecimento de Charles sobre artes plásticas, que transcendeu para a moda, arquitetura e design.
"Quando eu cheguei já havia
livros de Miguel Rio Branco,
Paulo Mendes da Rocha e uma
coleção de moda. O professor
Ismail Xavier e o crítico Rodrigo Naves já colaboravam, portanto já se tinha noção de equipe em que um intelectual podia
participar da editora. Já era
muito charmosa, um marco,
um acontecimento. A grande
sacada que comemoramos foi
fazer livros em áreas que o Brasil tem reconhecimento não só
no país como internacional."
Continuidade
Prova do recém-adquirido
vigor da editora é o aumento
das tiragens iniciais médias,
que em 2003 eram de 2.000 a
3.000 exemplares, número que
desde 2005 chega a 5.000. O
aumento da tiragem também
ajudou a desatar um nó entre os
departamentos financeiro e
editorial da Cosac Naify: o preço médio, hoje em R$ 42.
"Sem abrir mão da capa dura,
prefácios e posfácios, índice
onomástico, foto ou desenhos,
pesquisa de papel. E isso é percebido lá fora", diz Massi, lembrando que um dos best-sellers
da editora, o argentino Alan
Pauls, recebeu no Brasil propostas que pagavam mais pelos
direitos de "O Passado", mas
acabou optando pela Cosac
Naify por sugestão do amigo e
escritor espanhol Enrique Vila-Matas, que elogiou a edição de
seu "Bartleby e Companhia"
feita pela casa.
Outro fator que teria ajudado
a continuidade da editora foi a
fixação do número de títulos
publicados por ano em no máximo 70 -ao todo, a Cosac
Naify tem hoje 600 títulos em
catálogo.
O limite ajudou a regularizar
a programação de lançamentos, outro de seus problemas
"históricos", mas não significa
que a editora não tenha ambições. A principal delas é a internacionalização da marca, "a reboque do artista brasileiro", segundo Massi.
Uma recente prova de fôlego
foi o lançamento do catálogo
em inglês da mostra "Tropicália", que passou por Chicago,
Londres, Berlim e Nova York, e
está agora em cartaz no MAM
do Rio. Massi cita ainda o "Catalogue Raisonné" de Iberê Camargo (1914-94), os livros de
Glauber Rocha (1938-81) e do
crítico Paulo Emílio Sales Gomes (1916-77) -sobretudo sua
monografia sobre o cineasta
francês Jean Vigo -como obras
que têm forte apelo no mercado internacional.
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