São Paulo, Sexta-feira, 08 de Outubro de 1999
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DANÇA

"Le Coq Est Mort" faz história em Montreal


ANA FRANCISCA PONZIO
enviada especial a Montreal

O espetáculo "Le Coq Est Mort", que estreou na última terça no Festival International de Nouvelle Danse de Montreal (Canadá), marcou um acontecimento inédito não só na carreira de uma das mais importantes coreógrafas contemporâneas, a alemã Susanne Linke, como também na história da dança africana.
Pela primeira vez, a coreógrafa trabalhou na África, com um elenco de bailarinos do Senegal, Nigéria e República do Congo, que até então não possuíam sintonia com a dança-teatro alemã, que tem em Pina Bausch e Linke duas de suas maiores expressões.
Há algum tempo sem se apresentar no Brasil, Linke chegou a montar uma de suas obras para o Grupo Corpo, no final dos anos 80. Discípula de Mary Wigman, precursora da dança expressionista, Linke dirige atualmente uma companhia no teatro da cidade de Bremen, junto com seu parceiro, Urs Dietrich, que ano passado veio ao Sesc Pompéia.
Com "Le Coq Est Mort", Linke ajuda a reafirmar para o mundo que hoje, nos vastos territórios africanos, existe uma dança contemporânea em pleno desenvolvimento. Prova disso é a programação do Festival de Nouvelle Danse deste ano, que escolheu a África como tema.
"Hoje há vários coreógrafos ocidentais, como Susanne Linke, buscando inspiração na África ou trabalhando em conjunto com bailarinos africanos e isto configura um fenômeno novo", disse à Folha Chantal Pontbriand, diretora do festival canadense, um dos mais importantes eventos internacionais de dança.
"A quantidade de grupos jovens voltados neste momento para a dança contemporânea na África, nos faz acreditar num futuro promissor", afirmou à Folha o filósofo e crítico de arte Uacouba Konate, da Costa do Marfim.
"Acho importante o intercâmbio que vem ocorrendo entre coreógrafo ocidentais e africanos. Só lamento que ainda não tenha ocorrido uma reversão. A África tem servido de fonte, mas até agora não tivemos um grande espetáculo ocidental criado por um coreógrafo africano contemporâneo", acrescenta Konate.
Embora outros coreógrafos prestigiados, como a francesa Mathilde Monnier (que inaugurou o festival, dia 28), tenham incluído a África no seu rol de interesses, é Susanne Linke que promete conquistar atenção internacional para a nova dança africana.
Com perspectiva de incluir o Brasil na turnê que passará pelo Théâtre de la Ville de Paris em janeiro de 2000, "Le Coq Est Mort" é fruto do pioneirismo da franco-senegalesa Germaine Acogny, que vem criando importantes projetos para o desenvolvimento da dança em sua terra natal.
Fundadora da ramificação africana da escola Mudra, concebida por Maurice Béjart na Bélgica nos anos 70, Germaine trabalhou no Brasil em 1995, quando criou o espetáculo "Z" para o Balé da Cidade de São Paulo.
Foi Germaine que convidou Susanne Linke para trabalhar com o elenco africano que agora brilha em "Le Coq Est Mort". Ao som de Shostakovitch e Etienne Schwarcz, o espetáculo é protagonizado por oito bailarinos que iniciam a coreografia como executivos modernos. Vestindo ternos,eles produzem cenas impactantes ao interpretar seu libelo entre tradição e modernidade num palco recoberto de areia.


A jornalista Ana Francisca Ponzio viajou a convite da Canadian Airlines.





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