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DANÇA
"Le Coq Est Mort" faz história em Montreal
ANA FRANCISCA PONZIO
enviada especial a Montreal
O espetáculo "Le Coq Est
Mort", que estreou na última terça no Festival International de
Nouvelle Danse de Montreal (Canadá), marcou um acontecimento inédito não só na carreira de
uma das mais importantes coreógrafas contemporâneas, a alemã
Susanne Linke, como também na
história da dança africana.
Pela primeira vez, a coreógrafa
trabalhou na África, com um
elenco de bailarinos do Senegal,
Nigéria e República do Congo,
que até então não possuíam sintonia com a dança-teatro alemã,
que tem em Pina Bausch e Linke
duas de suas maiores expressões.
Há algum tempo sem se apresentar no Brasil, Linke chegou a
montar uma de suas obras para o
Grupo Corpo, no final dos anos
80. Discípula de Mary Wigman,
precursora da dança expressionista, Linke dirige atualmente
uma companhia no teatro da cidade de Bremen, junto com seu
parceiro, Urs Dietrich, que ano
passado veio ao Sesc Pompéia.
Com "Le Coq Est Mort", Linke
ajuda a reafirmar para o mundo
que hoje, nos vastos territórios
africanos, existe uma dança contemporânea em pleno desenvolvimento. Prova disso é a programação do Festival de Nouvelle
Danse deste ano, que escolheu a
África como tema.
"Hoje há vários coreógrafos ocidentais, como Susanne Linke,
buscando inspiração na África ou
trabalhando em conjunto com
bailarinos africanos e isto configura um fenômeno novo", disse à
Folha Chantal Pontbriand, diretora do festival canadense, um
dos mais importantes eventos internacionais de dança.
"A quantidade de grupos jovens
voltados neste momento para a
dança contemporânea na África,
nos faz acreditar num futuro promissor", afirmou à Folha o filósofo e crítico de arte Uacouba Konate, da Costa do Marfim.
"Acho importante o intercâmbio que vem ocorrendo entre coreógrafo ocidentais e africanos.
Só lamento que ainda não tenha
ocorrido uma reversão. A África
tem servido de fonte, mas até agora não tivemos um grande espetáculo ocidental criado por um coreógrafo africano contemporâneo", acrescenta Konate.
Embora outros coreógrafos
prestigiados, como a francesa
Mathilde Monnier (que inaugurou o festival, dia 28), tenham incluído a África no seu rol de interesses, é Susanne Linke que promete conquistar atenção internacional para a nova dança africana.
Com perspectiva de incluir o
Brasil na turnê que passará pelo
Théâtre de la Ville de Paris em janeiro de 2000, "Le Coq Est Mort"
é fruto do pioneirismo da franco-senegalesa Germaine Acogny,
que vem criando importantes
projetos para o desenvolvimento
da dança em sua terra natal.
Fundadora da ramificação africana da escola Mudra, concebida
por Maurice Béjart na Bélgica nos
anos 70, Germaine trabalhou no
Brasil em 1995, quando criou o espetáculo "Z" para o Balé da Cidade de São Paulo.
Foi Germaine que convidou Susanne Linke para trabalhar com o
elenco africano que agora brilha
em "Le Coq Est Mort". Ao som de
Shostakovitch e Etienne
Schwarcz, o espetáculo é protagonizado por oito bailarinos que iniciam a coreografia como executivos modernos. Vestindo ternos,eles produzem cenas impactantes
ao interpretar seu libelo entre tradição e modernidade num palco
recoberto de areia.
A jornalista Ana Francisca Ponzio viajou a
convite da Canadian Airlines.
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