São Paulo, Sexta-feira, 08 de Outubro de 1999
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MÚSICA POP

Pet Shop Boys explora o lado vampiro dos fãs


SYLVIA COLOMBO
de Londres

Enormes sobrancelhas pretas e cabelos pintados de loiro. Dois homens na faixa dos 40 anos trazem quatro cães presos por coleiras. Foi assim que o público britânico viu o duo Pet Shop Boys em sua reentrada no cenário pop, três anos depois de lançar seu último disco, "Bilingual".
A imagem acompanhou o single de "I Don't Know What You Want but I Can't Give It Anymore", música de trabalho do mais novo CD, o recém-lançado "Nightlife". O vocalista Neil Tennant, 45, concedeu entrevista a um grupo de jornalistas no St. Pancras Chambers, um antigo hotel luxuoso, hoje desativado, de estilo vitoriano, ao lado da estação de St. Pancras, em Londres. Leia abaixo os principais trechos.

Pergunta - Por que o tema da noite?
Neil Tennant -
Este disco fala da diferença de percepção que as pessoas têm à noite, com a interferência das luzes artificiais e da bebida. A canção "You Only Tell me You Love Me When You're Drunk" (você só diz que me ama quando está bêbado) reflete um comportamento que é muito comum. As pessoas só dizem o que pensam quando estão com a defesa desguarnecida e isso na maioria das vezes está ligado à noite, bebidas, ou drogas. O que quero dizer é que não é algo negativo. A noite abre portas para as pessoas dizerem o que pensam.

Pergunta - São os vampiros?
Tennant -
Sim, há essa outra música, "Vampires", que fala destas pessoas que vagam pela noite, expõem seus sentimentos e amam à noite, enquanto de dia parecem não existir. É uma maneira de evitar a realidade.

Pergunta - As letras tem algo de autobiográfico?
Tennant -
Em alguns momentos. A idéia principal das letras é falar a respeito de ser uma outra pessoa, representar, olhar de fora para você mesmo. Como na música "In Denial" em que "faço o papel" de um proprietário gay de um clube noturno que enfrenta seu passado quando a filha de 19 anos que ele nunca viu aparece e há um confronto entre ambos.

Folha - "New York City Boy" é um tributo à era disco?
Tennant -
Sim, queríamos soar como o Village People. A música é o resultado do que os Pet Shop Boys fariam se estivessem gravando em 1979. É pouco usual fazermos coisas retrô, mas o resultado ficou interessante.

Folha - O que você acha da música dos anos 70?
Tennant -
Era um tempo em que fazer música dance era mais divertido. Hoje acho que a indústria da dance music e do tecno é muito rígida e séria, perdeu a espontaneidade. Não se gravam mais músicas, e sim trilhas.

Folha - E como é o clipe de "New York City Boy"?
Tennant -
É a história de um garoto do subúrbio de Nova York que entra na noite e presencia várias cenas musicais da cidade em várias décadas. Ele vê os marinheiros dos musicais dos anos 40, os negros dos anos 90, entra no Studio 54 em Manhattan e vê figuras das décadas de 70 e 80 (Warhol, Jerry Hall e Bianca Jagger).

Folha - Como foi a experiência de compor uma música ("Casting a Shadow") para o eclipse?
Tennant -
A Rádio One, de Londres, pediu que fizéssemos uma música que durasse exatamente o tempo do eclipse (em 11 de agosto último) e acompanhasse suas diferentes fases. Então vimos tapes de eclipses e compusemos.

Folha - Por que a escolha do trecho de uma obra de Rachmaninov em "Happiness Is an Option"?
Tennant -
É uma música em que queríamos uma melodia clássica com um ritmo de hip hop. Escolhi o trecho de uma obra de Rachmaninov, que é um compositor de que sempre gostei.

Folha - Você ouve música brasileira?
Tennant -
Sim, e gosto muito. Gravamos uma canção com refrão e título em português ("Se a Vida É", 1996) porque queria colocar uma batida parecida com a do Olodum. Eu adoro tambores. Mas, para gravar acabamos usando um grupo de Glasgow (Escócia) que soava como latino. Acho que funcionou bem porque havia, no grupo escocês, a energia e o barulho que procurávamos.

Folha - E por que o novo visual?
Tennant -
A cada CD temos a necessidade de parecer diferentes, fora da moda. Também tem a ver com o fato de que sempre criamos nosso próprio mundo.

Folha - Algum plano para tocar no Brasil?
Tennant -
A turnê ainda não está confirmada, temos shows certos nos EUA e na Europa, mas estamos discutindo ainda a América Latina, Austrália e Japão. Nós nos divertimos muito há alguns anos quando estivemos no Brasil. Gostaríamos de voltar.



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