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MÚSICA POP
Pet Shop Boys explora o lado vampiro dos fãs
SYLVIA COLOMBO
de Londres
Enormes sobrancelhas pretas e
cabelos pintados de loiro. Dois
homens na faixa dos 40 anos trazem quatro cães presos por coleiras. Foi assim que o público britânico viu o duo Pet Shop Boys em
sua reentrada no cenário pop, três
anos depois de lançar seu último
disco, "Bilingual".
A imagem acompanhou o single de "I Don't Know What You
Want but I Can't Give It Anymore", música de trabalho do mais
novo CD, o recém-lançado
"Nightlife". O vocalista Neil Tennant, 45, concedeu entrevista a
um grupo de jornalistas no St.
Pancras Chambers, um antigo
hotel luxuoso, hoje desativado, de
estilo vitoriano, ao lado da estação de St. Pancras, em Londres.
Leia abaixo os principais trechos.
Pergunta - Por que o tema da
noite?
Neil Tennant - Este disco fala da
diferença de percepção que as
pessoas têm à noite, com a interferência das luzes artificiais e da
bebida. A canção "You Only Tell
me You Love Me When You're
Drunk" (você só diz que me ama
quando está bêbado) reflete um
comportamento que é muito comum. As pessoas só dizem o que
pensam quando estão com a defesa desguarnecida e isso na maioria das vezes está ligado à noite,
bebidas, ou drogas. O que quero
dizer é que não é algo negativo. A
noite abre portas para as pessoas
dizerem o que pensam.
Pergunta - São os vampiros?
Tennant - Sim, há essa outra
música, "Vampires", que fala destas pessoas que vagam pela noite,
expõem seus sentimentos e
amam à noite, enquanto de dia
parecem não existir. É uma maneira de evitar a realidade.
Pergunta - As letras tem algo
de autobiográfico?
Tennant - Em alguns momentos. A idéia principal das letras é
falar a respeito de ser uma outra
pessoa, representar, olhar de fora
para você mesmo. Como na música "In Denial" em que "faço o
papel" de um proprietário gay de
um clube noturno que enfrenta
seu passado quando a filha de 19
anos que ele nunca viu aparece e
há um confronto entre ambos.
Folha - "New York City Boy" é
um tributo à era disco?
Tennant - Sim, queríamos soar
como o Village People. A música é
o resultado do que os Pet Shop
Boys fariam se estivessem gravando em 1979. É pouco usual fazermos coisas retrô, mas o resultado
ficou interessante.
Folha - O que você acha da
música dos anos 70?
Tennant - Era um tempo em
que fazer música dance era mais
divertido. Hoje acho que a indústria da dance music e do tecno é
muito rígida e séria, perdeu a espontaneidade. Não se gravam
mais músicas, e sim trilhas.
Folha - E como é o clipe de
"New York City Boy"?
Tennant - É a história de um garoto do subúrbio de Nova York
que entra na noite e presencia várias cenas musicais da cidade em
várias décadas. Ele vê os marinheiros dos musicais dos anos 40,
os negros dos anos 90, entra no
Studio 54 em Manhattan e vê figuras das décadas de 70 e 80 (Warhol, Jerry Hall e Bianca Jagger).
Folha - Como foi a experiência
de compor uma música ("Casting a Shadow") para o eclipse?
Tennant - A Rádio One, de Londres, pediu que fizéssemos uma
música que durasse exatamente o
tempo do eclipse (em 11 de agosto
último) e acompanhasse suas diferentes fases. Então vimos tapes
de eclipses e compusemos.
Folha - Por que a escolha do
trecho de uma obra de Rachmaninov em "Happiness Is an Option"?
Tennant - É uma música em
que queríamos uma melodia clássica com um ritmo de hip hop. Escolhi o trecho de uma obra de
Rachmaninov, que é um compositor de que sempre gostei.
Folha - Você ouve música brasileira?
Tennant - Sim, e gosto muito.
Gravamos uma canção com refrão e título em português ("Se a
Vida É", 1996) porque queria colocar uma batida parecida com a
do Olodum. Eu adoro tambores.
Mas, para gravar acabamos usando um grupo de Glasgow (Escócia) que soava como latino. Acho
que funcionou bem porque havia,
no grupo escocês, a energia e o barulho que procurávamos.
Folha - E por que o novo visual?
Tennant - A cada CD temos a
necessidade de parecer diferentes,
fora da moda. Também tem a ver
com o fato de que sempre criamos
nosso próprio mundo.
Folha - Algum plano para tocar no Brasil?
Tennant - A turnê ainda não está confirmada, temos shows certos nos EUA e na Europa, mas estamos discutindo ainda a América Latina, Austrália e Japão. Nós
nos divertimos muito há alguns
anos quando estivemos no Brasil.
Gostaríamos de voltar.
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